quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Aos leitores deste blog desejo um 2010, repleto de paz, harmonia e felicidade.
E que continuem adorando e cultuando nossa tradição aonde quer que estejam!!!
Feliz 2010...

domingo, 20 de dezembro de 2009

Gaúcho

Gaúcho é uma denominação dada às pessoas ligadas à atividade pecuária em regiões de ocorrência de campos naturais do Vale do Rio da Prata, entre os quais o bioma denominado pampa, supostamente descendente mestiço de espanhóis e indígenas. As peculiares características do seu modo de vida pastoril teriam forjado uma cultura própria, derivada do amálgama da cultura ibérica e indígena, adaptada ao trabalho executado nas propriedades denominadas estâncias. É assim conhecido no Brasil, enquanto que em países de língua espanhola, como Argentina e Uruguai é chamado de gaucho.
O termo também é correntemente usado como gentílico para denominar os habitantes do estado brasileiro do Rio Grande do Sul.

Existem várias teorias conflitantes sobre a origem do termo "gaúcho". O vocábulo pode ter derivado do quíchua (idioma ameríndio andino) ou de árabe "chaucho" (um tipo de chicote para controlar manadas de animais). Além disso, abundam hipóteses sobre o assunto. O primeiro registro de seu uso se deu por volta de 1816, durante a independência da Argentina, com o qual se denominavam os índios nômades de pele escura, os gaúchos ou "charruas" (dai o chá - chimarrão, infusão de erva-mate verde seca e moída, tomada com água quente em cuia de cabaça ou porongo, sorvida por uma bomba de bambu ou metal), cavaleiros que domavam e cavalgavam "em pelo" os animais selvagens desgarrados das estâncias espanholas, que procriavam nos pampas argentinos.[carece de fontes?]
Segundo Barbosa Lessa, em seu livro Rodeio dos Ventos, publicado pela Editora Mercado Aberto, 2a edição, o primeiro registro da palavra se deu em 1787, quando o matemático português Dr. José de Saldanha participava da comissão demarcadora de limites Brasil-Uruguai. Em uma nota de rodapé do seu relatório de trabalho, o luso teria anotado a expressão usada pelos da terra para referir-se àqueles índios cavaleiros.

O termo originou-se na língua indígena da descrição de pessoas de hábitos nômades, ciganos, moradores em barracas ou tendas, brancos pobres, de miscigenação moura, vinda da Espanha - fugidos que viraram índios ou índios aculturados pelas missões que não possuíam terras e vendiam sua força de trabalho a criadores de gado nas regiões de ocorrência de campos naturais do vale do Rio da Prata, entre os quais o pampa, planície do vale do Rio da Prata e com pequena ocorrência no oeste do estado do Rio Grande do Sul, limitada, a oeste, pela cordilheira dos Andes.
O gentílico "gaúcho" foi aplicado aos habitantes da Província do Rio Grande do Sul na época do Império Brasileiro por motivos políticos, para identificá-los como beligerantes até o final da Guerra Farroupilha, sendo adotado posteriormente pelos próprios habitantes por ocasião da pacificação de Caxias, quando incorporou muitos soldados gaúchos ao Exército ao final do Confronto, sendo Osório um gaúcho que participou da Guerra do Paraguai e é patrono da arma de Cavalaria do Exército Brasileiro, quando valores culturais tomaram outro significado patriótico, os cavaleiros mouros se notabilizaram na Guerra ou Confronto com o Paraguai. Também importante para adoção dessa imagem mítica para representação do Estado do Rio Grande do Sul é a influência do nativismo argentino, que no final do século XIX expressa a construção de um mito fundador da cultura da região.
Na Argentina, o poema épico Martín Fierro, de José Hernández, exemplifica a utilização do elemento gaúcho como o símbolo da tradição nacional da Argentina, em contradição com a opressão simbolizada pela europeização. Martín Fierro, o herói do poema, é um "gaúcho" recrutado a força pelo exército argentino, abandona seu posto e se torna um fugitivo caçado. Esta imagem idealizada do gaúcho livre e altivo é freqüentemente contrastada com aquela dos trabalhadores mestiços das outras regiões do Brasil.
Os gaúchos apreciam mostrar-se como grandes cavaleiros e o cavalo do gaúcho, especialmente o cavalo crioulo, "era tudo o que ele possuía neste mundo". Durante as guerras do século XIX, que ocorreram na região, atualmente conhecida como Cone Sul, as cavalarias de todos os países eram compostas quase que inteiramente por gaúchos.

Rio Grande do Sul

Etimologia:

O nome do estado originou-se de uma série de erros e discordâncias cartográficas, quando se acreditava que a Lagoa dos Patos fosse a foz do Rio Grande, que já era demonstrado em mapas neerlandeses, décadas antes da colonização portuguesa na região. Pelo que se sabe até agora, o primeiro cartógrafo dos Países Baixos a registrar a Lagoa dos Patos, ainda considerada o Rio Grande, foi Frederick de Wit, em seu atlas de 1670. Já o primeiro registro cartográfico feito por um neerlandês a mostrar o suposto rio com um formato próximo ao que é conhecido hoje da referida lagoa foi Nikolaus Visscher, em 1698. Apesar de ele não ter sido o primeiro a mencionar os índios Patos que habitavam suas margens e boa parte do litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, foi ele quem associou o nome à lagoa. Por volta de 1720, açorianos vindos de Laguna vieram à região de São José do Norte buscar o gado cimarrón vindo das missões, possibilitando a posterior fundação da cidade de Rio Grande, no ano de 1737. A partir do nome do município, surgiu também o nome do estado do Rio Grande do Sul.

História:

A história do Rio Grande do Sul, ou seja, a história de sua transformação em território colonizado pelo europeu, abrange um período de cerca de cinco séculos. Remonta aos tempos do descobrimento do Brasil, e transcorreu em meio a diversos conflitos externos e internos. Guilhermino César, porém, dizia que essa história "é um dos capítulos mais recentes da história brasileira", e justificadamente, pois quando no Nordeste já se cantavam missas polifônicas este estado ainda era ocupado por um punhado de povoados e estâncias portuguesas de gado no centro-litoral, e o sul-sudeste era uma "terra de ninguém" onde frequentemente incursionavam tropas espanholas mandadas por Buenos Aires, defendendo os interesses da Coroa Espanhola, o proprietário legal do estado nessa época. Mas principalmente o Rio Grande do Sul até o fim do século XVIII foi uma vasta planície virgem onde se multiplicavam os rebanhos de gado livre, com uma área de mata espessa nas serras do norte, e que era habitado na totalidade por povos indígenas. Os únicos focos de civilização e cultura européias em todo o território até o fim do século XVIII foram os Sete Povos das Missões, um brilhante grupo de reduções jesuítas fundado no noroeste. Entretanto, sendo de criação espanhola, até há pouco tempo as Missões eram vistas como que sendo um capítulo à parte, e tanto mais por não terem deixado descendência cultural direta significativa, mas em anos recentes vêm sendo assimiladas à historiografia integrada do estado.
Desde sua origem o Rio Grande do Sul foi um território conflagrado por contínuas guerras, algumas de grande violência, em parte por ter sido sempre uma fronteira, e por sua ocupação pelos portugueses ter sido ilegal, quando a partilha original da América entre os poderes ibéricos no século XV, através do Tratado de Tordesilhas, deixara o Rio Grande do Sul como posse espanhola. Mas em parte também por dissidências políticas internas.
Na primeira metade do século XIX, após muitos conflitos e tratados, obtendo Portugal a posse definitiva das terras que hoje compõem o estado, expulsos os espanhóis e desmanteladas as reduções, e massacrados ou dispersos os índios, se estabeleceu uma sociedade claramente portuguesa, e uma economia baseada principalmente no charque e no trigo, iniciando um florescimento cultural nos maiores centros do litoral - Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande. Esse crescimento contou com a contribuição de muitos imigrandes alemães e polacos, que desbravaram novas áreas e criaram culturas regionais significativas e economias prósperas, bem como com a força de muitos braços escravos. Em 1835 iniciou um dramático conflito que envolveu os gaúchos numa guerra fratricida, a Revolução Farroupilha, de caráter separatista e republicano. Finda a guerra a soociedade pôde se reestruturar. No final do século o comércio se fortalecia, chegavam imigrantes de outras origens como italianos e judeus, e na virada para o século XX o Rio Grande do Sul havia se tornado a terceira maior economia do Brasil, com uma indústria em ascensão e uma rica classe burguesa. Nessa época o Positivismo delineava o programa de governo, criando uma dinastia de políticos herdeiros de Júlio de Castilhos que governou até os anos 60 e influiu em todo o Brasil, especialmente através de Getúlio Vargas, que em sua origem fora castilhista.

Pré-história:

O perfil geográfico do Rio Grande do Sul foi formado por sucessivas transformações que iniciaram há cerca de 600 milhões de anos atrás. Esse território já foi um mar, já foi um deserto, e em várias regiões aconteceram soterramentos massivos por derrames de lava. Crê-se que somente há dois milhões de anos a geografia se definiu mais ou menos como hoje a conhecemos, quando se fixou a faixa arenosa do litoral. A vida na pré-história do Rio Grande do Sul foi rica em espécies, sendo encontrados muitos fósseis em especial na área da Paleorrota. Há apenas cerca de 11 mil anos iniciou a ocupação humana, com a chegada de grupos de caçadores-coletores vindos do norte, que se instalaram em todos os recantos do estado, formando culturas como a Umbu, a Humaitá, e a Sambaqui. A cultura Taquara alcançou mesmo algum grau de sofisticação, visível na engenharia de abrigos subterrâneos interligados por túneis e revestidos de pedra cimentada com barro, nas plataformas de pedra, e na cerâmica. Outros vestígios desses habitantes foram encontrados na forma de instrumentos de pedra lascada, inscrições rupestres, amuletos, tumbas e ossadas. Essa fase prosseguiu sem mudanças significativas até a chegada de uma segunda onda migratória há dois mil anos, composta por índios guaranis oriundos da Amazônia. Sendo um povo mais forte e mais organizado, submeteram praticamente todos os antigos habitantes, introduzindo também a agricultura e enriquecendo a cerâmica. Quando o Brasil foi descoberto em 1500, quase todos os índios do estado, que somavam de 100 a 150 mil na estimativa dos estudiosos, já eram guaranis ou estavam misturados a eles. Os grupos menos afetados por essa invasão foram os gês do planalto médio, e os charruas e os minuanos, do pampa.

Início da colonização:

O território que hoje constitui o Rio Grande do Sul já constava nos mapas portugueses, sob o nome de Capitania d'El-Rei, desde o século XVI. A despeito do Tratado de Tordesilhas, que definia o fim das terras portuguesas na altura de Laguna, Portugal ansiava por estender seus domínios até a foz do Rio da Prata. No século XVII bandeirantes de São Paulo já percorriam a área em busca de tesouros e para escravizar os índios. Nesse espírito, ignorando os tratados, em 17 de julho de 1676, através de Carta Régia, Portugal delimitou duas capitanias no sul, que em conjunto se estendiam de Laguna até o Rio da Prata, doadas ao Visconde de Asseca e a João Correia de Sá .
Em 22 de novembro de 1676 a bula papal Romani Pontificis Pastoralis Solicitudo veio fortalecer as pretensões portuguesas, pois ao criar o bispado do Rio de Janeiro, estabelecia como seus limites desde a costa e sertão da Capitania do Espírito Santo até o Rio da Prata. Logo em seguida a Coroa Portuguesa passou a cogitar seriamente na ocupação das terras do sul, legalmente espanholas.

Ocupação do litoral:

Uma primeira expedição de conquista, organizada em 1677, malogrou. Outra, de 1680, sob comando de Dom Manuel Lobo, conseguiu tocar o Prata em janeiro do ano seguinte, fundando a Colônia do Sacramento, com um presídio e os primeiros abrigos para os colonos. A Espanha, nesta altura fragilizada por guerras contra a França, apesar de atacar a Colônia, não esboçou uma reação mais séria à expansão portuguesa, e em 1681 estabeleceu-se o Tratado Provisional, delimitando novas fronteiras na região e reconhecendo a soberania portuguesa sobre a margem esquerda do Rio da Prata.
Com o incentivo do estabelecimento deste posto avançado, os portugueses passaram a se interessar pela ocupação das terras intermediárias entre o Sacramento e a Capitania de São Vicente. Em 1737 uma expedição militar portuguesa, comandada pelo Brigadeiro José da Silva Pais, foi incumbida de prestar socorro à Colônia, tomar Montevidéu e levantar um forte em Maldonado. Fracassada esta última empresa, o Brigadeiro decidiu instalar uma povoação mais ao norte, livre das constantes disputas entre portugueses e espanhóis. Destarte, navegou até a barra da Lagoa dos Patos, erroneamente tomada como um rio, o Rio Grande, e ali chegando em 19 de fevereiro de 1738, fundou um presídio e ergueu o Forte Jesus, Maria e José, constituindo a origem da cidade de Rio Grande, primeiro centro de governo da região. O local era um ponto estratégico para a defesa do território, estando a meio caminho entre Laguna e a Colônia do Sacramento. As primeiras famílias colonizadoras chegariam ali ainda neste ano, mas o trecho entre Rio Grande e Tramandaí também estava sendo povoado independentemente, situação facilitada pela extensão da Estrada Real pelos tropeiros até os Campos de Viamão, sendo que já em 1734 se contavam 27 grandes estâncias de gado na área e os estancieiros começavam a solicitar a concessão de sesmarias.

Primeira penetração no interior:

Em 1742, os portugueses fundaram a povoação que, depois de Viamão, viria a ser a capital do estado: Porto Alegre. No final desta década começaram a chegar casais açorianos com destino a Rio Grande. Grupos maiores chegaram em 1752, também fixando-se no local, e outros avançaram para o norte, estabelecendo-se no Porto dos Casais, reunindo-se à escassa população que ali já vivia. Em 9 de setembro de 1760 o Rio Grande de São Pedro foi elevado a Capitania, ficando porém subalterna à Capitania do Rio de Janeiro.
Entrementes, na parte noroeste do estado, os jesuítas espanhóis, ligados à Província Jesuítica do Paraguai, haviam estabelecido desde 1626 aldeamentos muito organizados reunindo grande população indígena (cerca de 40 mil pessoas), as reduções ou missões, próximas ao Rio Uruguai, formando a região dos Sete Povos das Missões, cujo extraordinário florescimento incluía refinadas expressões de arte nos moldes europeus. Os padres construíram uma civilização à parte dos conflitos que agitavam o litoral, e deixaram muitos registros sobre os povos indígenas, a geografia, a fauna e a flora da região, mas sua contribuição direta para a história do estado foi a introdução do gado e o desenvolvimento de técnicas de pastoreio que mais tarde seriam assimiladas pelos portugueses. Mas um novo acordo entre as coroas ibéricas, o Tratado de Madrid, haveria de mudar mais uma vez as fronteiras. Através deste tratado, firmado em 13 de janeiro de 1750, estabeleceu-se a permuta da Colônia do Sacramento pelos Sete Povos, cujas populações indígenas seriam transferidas para a área espanhola .
A demarcação das novas fronteiras e a mudança dos povos aldeados não transcorreram sem dificuldades. Os jesuítas e os índios protestaram, esperava-se confronto, e o Marquês de Pombal ordenou que o legado português, o capitão-general Gomes Freire de Andrade, não entregasse Sacramento sem que antes tivesse recebido os Sete Povos. A situação se agravou e o conflito esperado eclodiu em Rio Pardo, originando a chamada Guerra Guaranítica, que provocaria a suspensão temporária dos efeitos do Tratado de Madrid e sua posterior anulação definitiva em 1761. Um outro tratado, o de Santo Ildefonso, de 1777, mais uma vez retificaria as fronteiras e estabeleceria desta vez como posse espanhola tanto Sacramento como os Sete Povos.

Século XIX:

Contudo nem este tratado seria respeitado, e as lutas pela posse das terras, entre portugueses e espanhóis, tiveram fim somente em 1801, quando os gaúchos dominaram os Sete Povos, incorporando-os ao seu território. Em 19 de setembro de 1807, a Capitania foi elevada a Capitania Geral.
Depois da Guerra contra Artigas, da Guerra Cisplatina e da Revolução Farroupilha, estabelecidas em linhas gerais as fronteiras e conquistada maior autonomia administrativa, o governo local passou a cuidar do povoamento e desenvolvimento da região, buscando também sedimentar as fronteiras. Grupos de imigrantes alemães começaram a chegar a partir de 1824 e de imigrantes italianos após 1875, ocupando respectivamente o centro-leste e o nordeste do estado, e contribuindo de forma decisiva para o futuro progresso do Rio Grande do Sul.
O Rio Grande do Sul, em meados de 1880, apresentava uma economia de caráter fundamentalmente agropecuário, dividida em duas matrizes sócio-econômicas: a atividade ligada à pecuária e ao charque na região da Campanha (sul do estado) e a agricultura e o artesanato colonial na Serra (norte do estado). Contudo, a produção de ambas matrizes dirigia-se para um destino comum: abastecer o mercado interno brasileiro de alimentos, dando ao Rio Grande do Sul a famosa denominação de “celeiro do Brasil”.
O estado estava integrado assim em uma divisão regional do trabalho do Brasil: como estado periférico, produzia alimentos e matérias-primas (como o couro) para a atividade agroexportadora no Brasil central. Como o estado produzia bens de baixo valor em um mercado altamente competitivo, a acumulação de capital era relativamente mais baixa no Rio Grande do que no resto do Brasil.
Contudo, o setor mais progressista da economia rio-grandense daquela época já se tornava a agricultura colonial, a qual apresentava um grande potencial de capitalização, incentivando assim o desenvolvimento das atividades comerciais e industriais no estado.

Século XX:

A economia gaúcha na República Velha não apresentou uma brusca ruptura em relação às suas características no período do Império. Isto é, o Rio Grande do Sul continuou inserido na divisão regional do trabalho, na economia brasileira: se encarregava primordialmente de abastecer o mercado interno nacional, com especial atenção à região agroexportadora cafeeira, de bens de base primária, como o charque, produtos agrícolas coloniais e o couro, usados como alimentos e matérias-primas.
Porém, o crescimento econômico estadual enfrentava barreiras muito restritivas nessa época: do lado da pecuária, por essa atividade ter sido explorada de maneira meramente extensiva, o crescimento era limitado pela expansão de apenas dois fatores – terra e gado – os quais, por serem mas específicos do que fatores produtivos como capital e mão-de-obra, eram relativamente mais escassos. Do lado da agricultura, mas afetando também a pecuária, o crescimento da produção rio-grandense estava vinculado à expansão da demanda interna brasileira por bens primários, sendo por isso limitado às necessidades do mercado interno brasileiro.

Guerras:

O estado esteve, de forma praticamente contínua, envolvido em guerras por mais de um século, primeiro contra a Espanha, depois contra os vizinhos Argentina, Uruguai e Paraguai, aos mesmo tempo que se desenvolviam várias revoltas internas.
Começada na Guerra Guaranítica, a lutas pela posse das terras, entre portugueses e espanhóis, teve fim em 1801, quando conquistado os Sete Povos das Missões. Depois houve a Guerra contra Artigas (1816-1820), quando a República Oriental foi conquistada. Seguida da Guerra Cisplatina (1825–1828) quando o Uruguai obteve sua independência.
A primeira revolta federalista foi a Guerra dos Farrapos (1835-1845). Logo seguida de outro conflito com os vizinhos argentinos e uruguaios, na Guerra contra Oribe e Rosas (1851-1852), depois a Guerra contra Aguirre (1864), desembocando na Guerra do Paraguai (1864-1870).
Depois da estabilização internacional, houve ainda um conflito religioso, a Revolta dos Muckers e após quase duas décadas de paz, as disputas políticas locais novamente se acirraram, no início da República, com a Revolução Federalista, contra Júlio Prates de Castilhos (1893-1895) e a Revolução de 1923, contra Borges de Medeiros. Somente no governo de Getúlio Vargas (1928) o estado foi pacificado.

Artesanato

HISTÓRIA DO BORDADO

Bordado é uma forma de criar a mão ou a máquina desenhos e figuras ornamentais em um tecido, utilizando para este fim diversos tipos de ferramentas como agulhas, fios de algodão, de seda, de lã, de linho, de metal etc., de maneira que os fios utilizados formem o desenho desejado.

Os registros históricos do ponto cruz coincidem com a pré-história. No tempo das cavernas, servia para costurar as vestimentas, feitas de pele de animal. Usavam agulha de osso e no lugar de linhas, tripas de animais ou fibras vegetais. Fragmentos de linho datados de 5000 a.C., retirados de túmulos egípcios em escavações arqueológicas, revelaram que o ponto cruz era usado para cerzir peças de tecido. Na antiguidade, os romanos descreviam o bordado como "a pintura de uma agulha “, mas foram os babilônicos que batizaram esta técnica. Existem controvérsias sobre a origem do ponto cruz , da forma como é utilizada hoje. Alguns acreditam que ela tenha surgido na China, espalhando-se pela Europa, Ásia e Estados Unidos, principalmente pela Inglaterra. Em 1500, começam a circular os primeiros diagramas impressos, vindo sobretudo, da Alemanha e Itália, com motivos de flores e animais, figuras heráldicas e religiosas, cheias de símbolos como cruzes, cálices e pombas. No ano de 1600, chegam os novos corantes vindos da América, econômicos e fáceis de usar, permitindo tingir de vermelho os fios, o que proporcionou os bordados em vermelho com fundo branco, que se tornaram muito populares. Desenhar as proprias iniciais com fio e agulha foi seguramente para muitas mulheres a primeira forma de escrita. Não somente se bordava nos conventos, como também nos salões .O ponto cruz e o bordado em geral passaram de um aprendizado obrigatório na escola, a um passatempo da moda, sendo um sinal de distinção tipicamente feminina. A mulher firmava sua posição, decorando cada canto de sua casa, toalhas, tapetes, cortinas, etc.
Foi em meio a uma "epidemia" de ponto cruz, feito por pessoas das mais diversas posições sociais, no século XVIII, que surgiram os mostruários: uma forma de facilitar a escolha dos motivos das cores.

Desde a Idade Média até os dias atuais o prestígio do ponto cruz nunca diminuiu. Os motivos ganharam novas inspirações e muita vitalidade, levando os trabalhos às possibilidades de enriquecer a decoração, dar ares a criatividade e também valorizar a habilidade manual.

A técnica para fazer o ponto cruz é simples e proporciona uma atividade relaxante, que não sobrecarrega a mente. Enquanto trabalhamos com o ponto cruz podemos ouvir música, conversar, e sempre retomar o trabalho interrompido do ponto em que paramos.


Couro

A cultura popular caracteriza-se por diversos aspectos, geralmente ignorados pela classe erudita, todos eles fundamentados na tradição do povo. Representa as manifestações naturais de um grupo social, cultuadas através de gerações de maneira espontânea, sem a influência de escolas ou de igrejas, transmissíveis no tempo pela oralidade e que caracterizam esse povo pelas marcas de seus usos e costumes que revelam.

Nos primórdios da vida do Rio Grande do Sul, no aspecto sócio-econômico, foi o couro, sem dúvida, a mercadoria que por primeiro foi exportada, juntamente com o sebo e os cabelos dos animais abatidos.

Usando-o bruto a princípio, e curtido mais tarde, os primeiros povoadores puderam dar asas à sua imaginação, após satisfeita a necessidade de alimentação, buscando atender ao binômio morada e trabalho, fazendo uso do único artigo então à sua mão - o couro.

Tradicionalmente, o artesanato do Rio Grande do Sul, sempre foi um dos mais expressivos no contexto do país, quer por sua riqueza de detalhes, sua expressividade e, principalmente, por transmitir de geração para geração as tradições mais caras do Estado.

O artesanato não é apenas uma forma de extravasamento de uma arte, mas também um meio de vida para muitas famílias gaúchas.

À medida que vamos estudando a maneira de viver da incipiente comunidade, seu "habitat", suas potencialidades, material de que dispunha, seu comércio, enfim todas as suas necessidades, verificamos que o gaúcho encontrou no couro, a matéria-prima de que necessitava. Em suas mãos, transformou-se em material mágico, dada a sua serventia para tudo. Foi mesmo "pau para toda obra".

Preparado, dividido e subdividido conforme as necessidades, o couro substituía o ferro, o zinco, a madeira, os tecidos, os pregos, os parafusos, as molas, as cordas, etc, pela inexistência desses materiais e implementos nos confins onde moravam. E com as seguintes vantagens: facilidade de aquisição e de preparo.

O couro, tanto de gado vacum, como de muar a cavalar, recebeu no Rio Grande do Sul, aplicações desconhecidas em outras partes do país.
Devido às precariedades de vida, utilizava-se os instrumentos e locais que eram de seu alcance para curtir e confeccionar suas utilidades.

Como oficina, a imensidão dos campos, a sombra de uma ramada, ou um singelo e rústico galpão.
Como ferramenta, apenas uma faca bem afiada e uma chaira ou uma pedra-de-amolar.

A mesa de trabalho primitiva era o tronco de uma árvore, o próprio solo, ou a parede do seu rancho, ou ainda, um palanque fincado no chão.
Os artesanatos foram aos poucos se transformando em indústrias. Com a industrialização as relações do trabalho mudaram, o artesão que domina a totalidade da técnica sobre o bem produzido, vai ser substituído pelo especialista na industria, obedecendo as leis do mercado trazendo custos sociais como o desemprego e a insolvência do artesão tradicional.

O setor de artesanato, outrora florescente, limita-se hoje a pequenas oficinas que empregam métodos tradicionais de trabalho. É o caso do couro, das selarias, dos trajes gaúchos, das peças para montaria, etc.

domingo, 8 de novembro de 2009

Brinquedos

Gado de Osso
Esta é a mais autêntica manifestação do folclore infantil gauchesco e acha-se circunscrita à área rural do Rio Grande do Sul.O menino gaúcho, criado nas estâncias, desde que adquire percepção do seu mundo exterior, procura imitar os adultos nas suas tarefas, principalmente às ligadas à pecuária.Põe se a trabalhar a imaginação, criatividade e fantasia. Assume a personalidade de um estancieiro, sempre "abastado".Com varetas de taquara, madeira ou galhos, pedras e outros materiais encontrados pelo terreiro, constrói em sua "estância" as "benfeitorias" correspondentes: invernadas, potreiros, piquete, mangueira, bretes, banheiros de gado, etc.Junta ossos de animais para a alimentação das casas, ou mortos a campo, - ovelhas, bois, cavalos - depois que o tempo os limpou e purificou através de sol e chuvas. Acrescenta sabugos de miho, sementes de alguns vegetais, guampas e todo o material achado nos montouros que possa servir-lhe à imaginação.Cada ossinho, semente ou objeto, representa um tipo de animal, por isso o guri recolhe a maior quantidade possível. Assim, torna-se proprietário de grande número de bois, touros, vacas, terneiros, cavalos, petiços, ovelhas, capões, carneiros, cordeiros, ... Os peães estão representados por ossos, sabugos de milho ou qualquer outro objeto. Têm carretas, carroças, charretes ou "aranhas". Toda a ergologia campeira será executada com os ossinhos e acessórios.O menino gaúcho, com outros "estancieiros", guris seus vizinhos, comercia, vende ou compra tropas. Pára rodeio, banha o gado, vacina, descorna. Executa grandes marcações e castrações. Doma seus cavalos, esquila (tosquia) suas ovelhas, carreteia e tropeia. Nada escapa à sua fantasia e, desta maneira, se prepara para assumir o seu lugar de adulto na futura vida campesina.A simbolização desses ossinhos é imensamente variada. Na mesma região difere de zona para zona. Desta maneira não podemos emprestar a cada ossinho um símbolo generalizado. Ele muda, sempre, de acordo com o grupo de meninos vizinhos e "proprietários de estâncias". Arame, barbante, tentos, etc. servem para fazer os aramados (cercas) e outras "benfeitorias".

Elementos Rurais

Aripuca, Arapuca ou Urupuca. Pequena armadilha para caçar passarinhos. A maneira de armá-la está bem clara na foto. A ave, ao se empoleirar no galho ou apenas beliscando a isca, solta a pequena trava e a armação cai, prendendo-a.

Mundéu (armadilha para apanhar caça. Do Tupi Mundé: alçapão) para passarinhos - Armado. O mesmo processo da Aripuca, só que o pássaro é preso e suspenso por uma laçada.

Mundéu para passarinhos - disparado.

Mundéu para periá ou preá. A periá, passando sempre pelos mesmos lugares por entre as cercas vivas das fazendas, ou nos matos, forma pequenos carreiros. A gurizada arma uma lançada como se vê na foto, atiça os cachorros e o pequeno animal, ao fugir atropeladamente, enfia a cabeça na armada, caindo logo. Existem inúmeras outras armadilhas para vários tipos de caça.

Cascudo atrelado.

Cascudos cangados.

Gaiolas para insetos feitos de caixas de fósforos:"A minha toca-violafugiu da caixa de fosf'roCaixa-de-fosf'ro-gaiolaficou tão vazia assim...Meu grilo, afina a viola,toca viola p'ra mim?

Ovo guacho de avestruz

Por "avestruz", "abestruz" ou "nhandú" trata o gaúcho a Ema (Rhea Americana) que vive em bandos de várias fêmeas, geralmente oito, guardadas por um só macho. A postura se verifica em agosto e todas as fêmeas botam no mesmo ninho, alcançando, às vezes, 40 ou mais ovos.A expressão "ovo guacho" vem do costume do avestruz fêmea, antes de fazer o ninho, botar isoladamente, em lugares diversos, alguns ovos. A ninhada quem choca é o macho, durante 42 dias que é o período de incubação. Ao findar este tempo, os ovos se decompõem e o nhandú macho - assim que descascam os filhotes - os quebra a patadas. Os vermes gerados e o grande número de moscas atraídas pelo mau cheiro servirão de primeiro alimento aos nhanduzinhos.

Acredita o gaúcho que o ovo guacho do avestruz atrai sorte e felicidade. Por isso, sempre que o encontra, leva-o para casa como talismã.

GUACHO:Animal criado sem o leite materno. Qualquer animal - mamífero ou não - criado sem os cuidados maternos. Este adjetivo se emprega também ao homem.

Etim. O vocábulo origina-se de huaccha ou huagcha, da língua quíchua, em que significa órfão pobre. Em araucano, guachu significa filho ilegítimo.


Caroços de pessêgo
Servem de munição para jogar o "Bambá" e outras finalidades.

BAMBÁ:Jogo próprio da campanha, executado com quatro metades de caroço de pessêgo (alguns usam rodelas de casca de laranja). Sabugos inteiros ou cortados servem de parelheiros. Traçam na terra riscos em forma de escada. COm os primeiros elementos jogados sobre os riscos, jogam os pontos. Conforme estes, avançam os parelheiros. O parelheiro que fizer mais pontos é o ganhador. Etim. Bambá vem da língua Bunda, mbama, significando jogo, divertimento, etc. Daí supormos que este jogo foi trazido da África ou criado pelos negros no RS.

Carrapichos
Estes frutos espinhosos, quando secos, têm grande facilidade em apegar-se a roupas e cabelos, daí as "guerras de carrapichos"(bot. Cenchrus Tribuloides).

"Lá detrás daquele cerrotem um pé de carrapicho:já te botei as cangalhas,só falta, agora, o rabicho". (folclore)

Caramujos
Depois de vazio, serve de cavalo, pois o som que emite ao bater ou raspar na terra sua "boca", lembra o andar dos eqüinos.

Queixada de Ovelha
Inteira, faz-se carretas. Das metades faz-se arados.

Sementes de cinamomo
Usadas, principalmente, para "munição".

Cascudos
Além de "animais de traição", servem para "carreiras".


Pandorgas
Pandorga é o nome genérico que as crianças gaúchas dão a estes elementos, embora cada feitio tenha uma denominação diferente.
Fui guapo quando meninopois lacei o céu com pandorga.Mas, hoje, a vida me outorgao direito que declinode ser "grande", pois se empinoqualquer sonho colorido,outros, como "vidro moído"na "cola" de um "papagaio",cortam meu barbante e eu caio,"vou a Bahia", perdido".

PANDORGA:Nome genérico que no Rio Grande do Sul se dá a este brinquedo que consiste numa armação de varetas de taquara cobertas de papel. A pandorga, presa a um cordão, se eleva ao alto por força do vento e é equilibrada por um rabo, simples ou duplo, feito de tiras de pano e preso na parte inferior.Existem vários feitios de pandorgas com denominaçõe spróprias que as identificam. Assim, o mais comum, de forma quadrangular, é, propriamente, a "pandorga"; "papagaio" é o losangular; a "estrela" tem o feitio do nome, e seguem o "caixão", a "bandeja", a "marimba", o "barril", o "navio", a "pipa" e muitos outros.A prática do divertimento é chamada de "soltar pandorga". Os guris se empenham na "briga de pandorgas": atam no rabo uma gilete ou colam frações de vidro moído. Em pleno ar, aproximam as pandorgas uma da outra; com descaídas e recolhidas, procuram friccionar o rabo "envenenado" da sua pandorga no cordão da outra, até que o cordão de uma das cordas se corta e a pandorga "Vai-a-bahia", expressão que significa perder-se a pandorga no horizonte distante.Também usam o costume de "mandar telegramas": enfiam pequenos círculos de papel no barbante e estes, impulsionados pelo vento, sobem até as "guias" da pandorga. E quase nunca dispensam o "roncador", franjas de papel coladas em barbantes, por fora do corpo da pandorga e que, realmente, roncam ao passar do vento.

GASTRONOMIA GAÚCHA

A natureza do Brasil ofereceu, tanto a seus habitantes primitivos como aos colonizadores (que, aqui aportaram) grande variedade de alimentos. Outros aclimataram-se, por introdução dos portugueses, ao fazer roças, hortas e fomentar criações domesticas (galinhas, porcos, ovelhas, cabras, gado vacum). Especiarias, sal, açúcar foram valiosas contribuições trazidas pelo português à cozinha brasileira.
Segundo Câmara Cascudo (História da Alimentação no Brasil) “todos os pratos nacionais são resultantes de experiências construídas lentamente, fundamentadas na observação e no paladar. Maneiras de preparar a comida, receitas, utensílios empregados, tudo mesclou-se e adaptou-se às possibilidades do meio.
Heranças ameríndias, bem como africanas, transformaram-se, ajustaram-se ao tempero e ao sabor portugueses, às exigências dos utensílios da cozinha européia, ao fogão, ao forno.
Inúmeros pratos conservam, ainda, nome indígena ou africano; mas quase nada existe de autentico na substância real.
Quanto a outras influências, observa o autor citado: “...houve um processo da aculturação continuo na cozinha brasileira que ainda não terminou, pois está sendo enriquecido por inúmeros grupos migratórios”.
Na alimentação do sul-rio-grandense, além das contribuições dos colonos de várias etnias, verifica-se a introdução de pratos internacionais, especialmente em área urbana, em restaurantes diferenciados.
Para o estudo da cozinha gaúcha, devem-se considerar as particularidades regionais: a Praiana (à base de produtos do mar); a cozinha da Campanha e Missões (predominando as carnes vacum e ovina); a da região dos Campos de Cima da Serra (onde o pinhão tem presença e o café com graspa sobrepõem-se ao chimarrão).
O churrasco, assimilado por diversos grupos, é largamente apreciado reunindo pessoas em dias festivos. O arroz “carreteiro” aparece em quase todo o Estado.

É herança indígena na cozinha gaúcha: utilização da mandioca e de seus produtos (farinha, tapioca, beju, pirão, mingau); uso do milho assado, cozido e seus derivados (canjica, pamonha, pipoca, farinha). Aproveitamento, de plantas nativas (abóbora, amendoin, cara, batata-doce, banana, ananaz). Cozimento dos alimentos na tucuruva (trempe de pedras), no moquém (grelha de varas) para assar carne ou peixe. Preparo do peixe assado envolvido em folhas; moqueca e também paçoca de peixe ou de carne (feita no pilão). Uso de bebidas estimulantes: mate e guaraná.

A mulher portuguesa valoriza os produtos do solo americano; aproveitou as especiarias da Índia (cravo, canela, noz-moscada). Criou novos pratos, adaptou outros e conservou algumas receitas tradicionais (bacalhoada, caldo verde, acorda, pasteis, empadas, feijoada, cozido, fatias douradas, coscorões, pão-de-ló, papo-de-anjo, sonhos, pães, compotas, marmeladas, frutas cristalizadas, licores.

A culinária luso-brasileira pode ser assim distribuída pelas regiões gaúchas: Litoral (com influência açoriana) – peixe assado, grelhados, fervido, desfiado, moqueca de peixe, siri na casca, marisco ensopado, arroz com camarão, camarão com pirão. Pirão de água fria, pirão cozido, farofa, cucus torrado, beju, angu de milho, mingau de milho verde, paçoca de carne desfiada, lingüiça frita, feijão mexido, fervido de legumes, açorda, canja, galinhada, fervido de suquete (osso buco), mocotó, bolo de aipim, pães caseiros, “massas doces” (pão doce sovado) “farte” (pão com recheio de melado), melado com farinha de mandioca, roscas de polvilho, roscas de trigo (fritas), rosquetes, “negro deitado” (bolo de panela), bolo frito, sonhos, omelete de bananas, banana frita, pão-de-ló, sequilhos, rapaduras (com diferentes misturas), pé-de-moleque, “puxa-puxa”, balas diversas, pasteis doces e salgados, doce de panela (de frutas), doce de leite, amobrosia, fatias douradas, bolos, pudins, empadas.
Bebidas – Concertada (vinho com água e açúcar), Queimadinha (queimar cachaça com açúcar), Licores diversos (de vinho, de ovos, de butiá, de abacaxi etc), Café, mate-doce.

Cozinha Depressão Central (influência açoriana e outras) – Canja de galinha, sopas diversas, feijoada, feijão branco, fervido (com legumes e carne), feijão mexido, quibebe, paçoca de favas, arroz de forno, carne de panela, carne assada no forno, bife enrolado, bife à milanesa, guizado de carne, bolo de arroz, pão recheado, empadas, pasteis, “rosinhas” de massa, ovos mexidos, ovos escaldados, “roupa velha” (sobras), peixe recheado, peixe escabeche, peixe frito, bacalhoada, bolinho de bacalhau. Conservas de pepino e cebola. Galinha assada, galinha recheada, arroz com galinha. Pães de forno, pão de panela, “mãe-benta”, biscoitos, “calça-virada”, coscorões, fatias-do-céu, merengues, broas, pudim de laranja, ambrosia de laranja, “manjar celeste”, pudim de pão, “ovos moles”, “fios-de-ovo”, arroz-de-leite, “bom-bocado”, mandolate, balas de leite, de mel, tortas (doces), pé-de-moleque, “farinha de cachorro” (farinha de mandioca com açúcar). Bebidas: gemada com vinho, licor de vinho, licores com furtas, vinho de laranja.

Cozinha da Campanha – Carnes (vacum, ovino) grelhada, no espeto, no forno. Arroz “carreteiro”, espinhaço de ovelha ensopado, pasteis, empadão, feijão, “cabo-de-relho” (sobras). Pães caseiros (ao forno), pão “catreiro” ou “de pedra” (aquecidos sobre pedra ou chapa quente), roscas de milho, “farinha de cachorro”, ambrosia de pão, doces de “panela” (marmelada, e em calda). Bebidas: chimarrão.

Cozinha “Serrana” – Carne assada, frita, mocotó, feijoada (de feijão preto e branco), charque com mandioca, paçoca de pinhão com carne assada, couve refogada, couve com farinha, galinha assada, arroz com galinha e quirela de milho, batata-doce, moranga, milho cozido, cuscuz, farinha de biju com leite. Doce de gila, “jaraquatia”, sagu com vinho, arigones, arroz doce, doce de frutas (pêssego, figo, pêra), ambrosia, doce de leite, “chico balanceado” (doce de aipim), doce de batata doce. Bebidas: “Camargo” (café com apojo), quentão de vinho, café com graspa.

Cozinha da região Missioneira - Carnes (vacum, ovino) assada no forno, no espeto, grelhada, frita na panela, sopa de lentilhas, sopa de cevadinha, feijoada, “puchero”, “gringa” (moranga) caramelada, pirão de farinha de milho, canja, couve com farofa, matambre com leite, fervido de espinhaço de ovelha com aipim. Canjica, guizado de milho, pasteis, empadão, revirado de galinha, revirado de sobras, lingüiça frita, paçoca de charque, galinha assada. Pão de forno, pão de borralho, bolo frito, biscoitos, pão-de-ló, geléia de mocotó, doce de jaraquatia, pêssego com arroz, arigones, tachadas (marmelo, pêssego, pêra), doce de laranja azeda cristalizada, doce de leite, rapadura de leite, gemada com leite, bolos. Bebidas: chimarrão, mate doce, mate com leite.

Colônia alemã – Carne de porco (assada e frita), wurst (lingüiça), chucrut (conserva de repolho), nudeln (massa), kles (bolinhos de farinha de trigo com batata cozida), conserva de rabanete, galinha assada, sopa com legumes e ovos, kas-schimier (ricota), kuchen (cuca), leb-kuchen (cuca de mel), mehldoss (doces de farinha de trigo), schimier (pasta de frutas), syrup (frutos cozidos com melado), weihmachts (bolachinhas), bolinhos de batata ralada, pão de milho, de centeio, de trigo, tortas doces. Café colonial (salgadinhos, salames, queijos, bolos). Bebidas: Das bier - cerveja, chop. Spritzbier (gengibirra). Assimilaram o chimarrão.

Colônia Italiana – Brodo (caldo de carne), carne Lessa (carne cozida n´agua), capeleti (massa com recheio de carne picada) o mesmo que Agnolini, menestra ou aminestra (sopa, canja), galeto a menarôsto ( frango no espeto), ravióli (massa com recheio), tortei (pastel cozido recheado com moranga ou abóbora), macarôn (massa), spagueti (massa cortada), fidelini (massa fina), polenta (angu de farinha de milho), risoto (arroz com galinha e queijo ralado), pizza (massa de pão com molho e queijo), pera cruz (bolo fervido em calda de frutas), pães de trigo e milho, panetone (pão com frutas cristalizadas), salames, queijos.
Bebidas: vinho, graspa.

Chimarrão

Sempre presente no dia-a-dia, o chimarrão constituiu-se na bebida típica do Rio Grande do Sul, ou seja, na tradição representativa do nosso pago. Também conhecido como mate amargo, como bebida preferida pelo gaúcho, constitui-se no símbolo da hospitalidade e da amizade do gaúcho. É o mate cevado sem açúcar, preparado em uma cuia e sorvido através de uma bomba. É a bebida proveniente da infusão da erva-mate, planta nativa das matas sul-americanas, inclusive no Rio Grande do Sul. O homem branco, ao chegar no pago gaúcho, encontrou o índio guarani tomando o CAA, em porongo, sorvendo o CAÁ-Y, através do TACUAPI.
Podemos dizer, que o chimarrão é a inspiração do aconchego, é o espírito democrático, é o costume que, de mão – em - mão, mantém acesa a chama da tradição e do afeto, que habita os ranchos, os galpões dos mais longínquos rincões do pago do sul, chegando a ser o maior veículo de comunicação.
O mate é a voz quíchua, que designa a cuia, isto é, o recipiente para a infusão do mate. Atualmente, por extensão passou a designar o conjunto da cuia, erva-mate e bomba, isto é, o mate pronto.
O homem do campo passou o hábito para a cidade, até consagrá-lo regional. O Chimarrão é um hábito, uma tradição, uma espécie de resistência cultural espontânea. Os avios ou os apetrechos do mate constituem o conjunto de utensílios usados para fazer o mate. Os avios do mate são fundamentalmente a cuia e a bomba.
A CUIA NOVA
Quando a cuia é nova, é necessário curti-la antes de começar a matear. Para tal, é necessário enchê-la de erva-mate pura ou ainda misturada com cinza vegetal e água quente, que deve permanecer de dois a três dias, mantendo a umidade, para que fique bem curtida, impregnando o gosto da erva em suas paredes. O uso da cinza é para dar maior resistência ao porongo. Após o tempo determinado, retira-se a erva da cuia e, com uma colher, raspa-se bem o porongo, para retirar alguns baraços que tenham ficado.

VOCABULÁRIO
Caá = erva-mate
Caá-y = bebida do mate = chimarrão
Tacuapi= bomba primitiva, feita de taquara pelos índios guaranis.

O MATE E A SUA INTIMIDADE
O ato de preparar um mate diz-se: “cevar um mate” ou “fechar um mate”, ou “fazer um mate” ou ainda ”enfrenar um mate”. A palavra amargo é muito usada em lugar de mate ou chimarrão. O convite para tomar um mate é feito das seguintes formas:
Vamos matear?
Vamos gervear?
Vamos chimarrear?
Vamos verdear?
Vamos amarguear?
Vamos apertar um mate?
Vamos tomar um chimarrão?
Vamos tomar mate ou um mate
Que tal um mate?

EM RELAÇÃO A COMPANHIA, O MATE PODE SER TOMADO DE TRÊS MANEIRAS
MATE SOLITO : quando não precisa de estímulo maior para matear, a não ser a sua própria vontade. É o verdadeiro mateador.
MATE DE PARCERIA : quando se espera por um ou mais companheiros para matear a fim de motivar o mate, pois não gosta de matear sozinho.
RODA DE MATE: é na roda de mate, que esta tradição assume seu apogeu, agrupando pessoas sem distinção de raça, credo, cor ou posse material. Irmanados num clima de respeito, o mate integra gerações numa trança de usos e costumes, que floresce na intimidade gaúcha.

CHIMARRÃO É RICO EM POESIA
Antigamente, Quando os namoros eram de longe, através de troca de olhares, os apaixonados utilizavam o mate como meio de comunicação e, de acordo com o que era posto na cuia, a mensagem era recebida e interpretada. Ao longo de sua história, o chimarrão é utilizado como veículo sutil de comunicação com objetivos sentimentais.
Atualmente, os costumes mudaram, mas o hábito do chimarrão permanece cada vez mais forte, caracterizando o povo gaúcho.

SIGNIFICADO DOS MATES
* Mate com açúcar: quero a tua amizade
* Mate com açúcar queimado: és simpático
* Mate com canela: só penso em ti
* Mate com casca de laranja: vem buscar-me
* Mate com mel: quero casar contigo
* Mate frio: desprezo-te
* Mate lavado: vai tomar mate em outra casa
* Mate enchido pelo bico da bomba: vás embora
* Mate muito amargo (redomão): chegaste tarde, já tenho outro amor
* Mate com sal: não apareças mais aqui
* Mate muito longo: a erva está acabando
* Mate curto: pode prosear a vontade
* Mate servido com a mão esquerda: você não é bem vindo
* Mate doce: simpatia

A LENDA DA ERVA MATE


Contam que um guerreiro guarani, que pela velhice não podia mais sair para as guerras, nem para a caça e pesca, porque suas pernas trôpegas não mais o levavam, vivia triste em sua cabana. Era cuidado por sua filha, uma bela índia chamada Yari, que o tratava com imenso carinho, conservando - se solteira, para melhor se dedicar ao pai. Um dia, o velho guerreiro e sua filha receberam a visita de um viajante, que foi muito bem tratado por eles. À noite, a bela jovem cantou um canto suave e triste para que o visitante adormecesse e tivesse um bom descanso e o melhor dos sonos. Ao amanhecer, antes de recomeçar a caminhada, o viajante confessou ser enviado de Tupã, e para retribuir o bom trato recebido, perguntou aos seus hospedeiros o que eles desejavam, e que qualquer pedido seria atendido, fosse qual fosse. O velho guerreiro, lembrando que a filha, por amor a ele, para melhor cuidá-lo, não se casava apesar de muito bonita e disputada pelos jovens guerreiros da tribo, pediu algo que lhe devolvesse as forças, para que Yari, livre de seu encargo afetivo, pudesse casar. O mensageiro de Tupã entregou ao velho um galho de árvores de Caá e ensinou a preparar a infusão, que lhe devolveria as forças e o vigor, e transformou Yari em deusa dos ervais, protetora da raça guarani. A jovem passou a chamar-se Caá-Yari, a deusa da erva-mate, e a erva passou a ser usada por todos os componentes da tribo, que se tornaram mais fortes, valentes e alegres.

RECIPIENTES PARA ÁGUA

CALDEIRA: recipiente grande, muito utilizada para aquecer grande quantidade de água, para diversas finalidades. é mais bojuda que o jarro, não possui tampa nem bico tubular. Os fogões à lenha possuem um recipiente chamado caldeira, que tem a mesma função da caldeira, semelhante ao jarro .
CHALEIRA GRANDE: de uso semelhante ao da caldeira. É muito encontrada nas cozinhas da campanha, nos fogões de barro e nos galpões e nos braseiros do fogo de chão. Por ser muito grande, seu manejo é incômodo.
CHALEIRA MÉDIA: Também conhecida por pava. Devido ao seu tamanho, é a mais usada, quer para aquecer a água, quanto para servir o mate.

CHALEIRA PRETA DE FERRO: varia muito de tamanho e forma mas é o tipo mais comum. Com o uso, chega a criar uma crosta de picumã, que não deve ser removida, pois pode furar com facilidade.
CAMBONA PRIMITIVA: estas cambonas vinham da Inglaterra, com chá-da-índia. Eram feitas de cobre e possuíam a parte de baixo arredondada e sua alça era deita de arame ou de lata. Serviam para preparar alimentos, aquecer água. Tem um refrão popular, que muito bem traduz o quanto à cambona é desajeitada, virando com muita facilidade, que é: “Cambona em cima de tição, tomarás mate ou não!”
CAMBONA: pode ser feita de qualquer lata, pois sua finalidade é única e exclusivamente a de aquecer água, sem precisar de muito fogo. Sua confecção é simples, basta Um pedaço de arame passado várias vezes junto ao local da lata, deixando Um rabicho para pegar e está pronta a cambona. Alguns preferem improvisar um rabicho de arame na parte de cima ou uma alça de arame, prendendo em cima e em baixo da lata e ainda enfiam no rabicho ou na alça, um pedaço de osso de canela do gado, para evitar o calor ao pegar. A picumã, que adere à cambona, não deve ser retirado, pois enfraquece o recipiente.


CHICOLATEIRA: A chicolateira é um recipiente usado nos fogões campeiros, para aquecer a água. Ela difere da cambona, uma vez que possui alça, tampa e um pequeno bico. É um utensílio que requer algum acabamento. È muito usada, não só nos galpões e cozinhas campeiras, como também por carreteiros e tropeiros. O termo chicolateira é uma corruptela de chocolateira.


Como Fazer um Chimarrão

Material Necessário:
Erva-Mate para chimarrão (opte pela erva mais verde)
Uma bela cuia
Uma bomba de prata
Um aparador (pode ser uma tampa plástica lisa)
Uma térmica com água quente
Um copo de água morna
Modo de Fazer:
Água:
Esquente a água. O ponto certo é chamado de chiado, então, quando a chaleira começar a chiar ou tremer um pouco apague o fogo.
Obs: Se a água esquentar demais vai queimar a erva e o chimarrão ficará ruim.

Colocando a erva na cuia:
Despeje a erva na cuia até que cubra o pescoço Cevando o mate (termo gaúcho para o preparo do chimarrão)
Tampe a cuia com o aparador
Tombe a cuia de lado e agite na horizontal para posicionar a erva corretamente
Levante a cuia um pouco (em valores mais precisos + ou - 45 graus).
Retire o aparador vagarosamente e verifique se a erva ficou bem acomodada.

Colocando a água:
Pegue o copo com água morna e derrame vagarosamente a água pela parede da cuia. Obs: não utilize água quente porque pode estragar a erva.

Introduzindo a bomba:
Pegue a bomba e tampe o bocal com o dedão
Coloque a parte de trás da bomba contra a parede de erva
Coloque a bomba até o fundo (de prefência bem próxima da parede de erva) Ainda com o bocal tampado gire a bomba no sentido anti-horário (+ ou - 90 graus, até que a bomba fique reta)

Agora sim, pode retirar o dedão do bocal.

Finalizando:
Encha a cuia com água quente e saboreie o chimarrão.

O Cavalo Crioulo

"Resistente e rústico,
manso e funcional,
esse animal fez sua fama
no Sul e espalha-se pelo país"


Herdeiro dos primeiros berberes trazidos à América pelos conquistadores espanhóis, o cavalo crioulo se criou solto, selvagem em manadas. Anos passados debaixo de chuva e sol forte transformaram-no num animal resistente a mau tempo, esforço físico e comida escassa. Tornou-se companheiro indispensável na lida cotidiana no campo e nas sangrentas batalhas que demarcaram as fronteiras do Cone Sul. Nessa primeira fase de sua história, a raça crioula sofreu uma seleção natural, pois o gaúcho o criava completamente a campo e escolhia os mais aptos para suas necessidades de trabalho.Hoje, sem ter abandonado sua vocação de trabalho duro, o crioulo chega às passarelas de leilões, tratado em cocheiras. Suas virtudes já lhe garantiram a cobiça de criadores sul-americanos, assim como asseguram nos leilões preços mais próximos dos que são obtidos por animais de raças mais sofisticadas, como o cavalo árabe e o puro-sangue inglês.
Assim para que desempenhe com brilho as provas de perícia e habilidade, como o Freio de Ouro, o crioulo tipicamente gaúcho é enriquecido com sangue de cavalos chilenos, tidos como mais ágeis e funcionais, capazes de participar com brilho em provas difíceis que lhes exigem dar voltas curtas sobre as patas, máster velocidade e estacar subitamente, andar em torno de tambores, obedecendo fielmente ao comando do ginete. Ou lhe exigem ainda a destreza e a força, como na “paleteada”, em que dois cavaleiros perseguem a galope um boi solto no pasto, prendendo-o em plena corrida entre os corpos das montarias. Antes dos chilenos, foram os cavalos argentinos que chegaram ao Brasil, trazidos por criadores interessados em qualificar seus animais com beleza morfológica. Esses cruzamentos procuram obter um cavalo que seja mais leve de frente e mais poderoso nas patas traseiras, de bons aprumos (linha das patas) e com tendões que suportem o esforço. O padrão é um cavalo bonito e funcional, e que não perca em rusticidade e docilidade.

Pelagem do Cavalo

A pelagem do cavalo como a pelagem de qualquer animal é muito variada, fizemos um levantamento das pelagens mais conhecidas:


Alazão - Cor de canela.
Azulego - Cor escura meio azulada.
Baio - Cor de ouro desbotado.
Barroso - Tem várias tonalidades, é uma cor branca amarelada.
Bragado - Possui muitas manchas na barriga.
Brasino - Vermelho com listras ou machas escuras.
Colorado - Cor vermelha.
Douradilho - Cor meio amarelada.
Gateado - Cor amarela meio avermelhada.
Lobuno - Cor escura meio cinzenta.
Ouveiro - Possui muitas machas no corpo.
Picaço - De cor preta com a cara e as patas de cor branca.
Rapicano - Possui fios de cabelos brancos na cauda.
Ruano - De cor mais clara que o Alazão, mas possui tons de amarelo.
Tobiano - De cor escura com várias manchas.
Tordilho - Cor semelhate a cor da Sabiá preta.
Tostado - De cor mais escura que o Alazão.
Zaino - Cor de castanha mais escuro.


Alguns tipos de Cavalos


"O cavalo é companheiro das lidas
e calvalgadas campeiras, é
conhecido como Pingo do Gaúcho".


Na formação do Rio Grande do Sul, desde o início de sua povoação, até a conquista definitiva de seus limites, o cavalo sempre foi o companheiro inseparável do campeiro. A afinidade é tão grande que surgiu o adágio popular: “cavalo que não é parecido com seu dono é roubado”. Como ninguém quer ser recusado de ser parecido com seu cavalo cheio de baldas ou estilo esquisito, os peões gostam de encilhar pingos elegantes e bem domados. Um bom pingo tem muito valor para o campeiro. Um cavalo baldoso ou mal domado causa muito desgosto ao seu dono. Quem é caprichoso não encilhava cavalo ruim, que é chamado de matungo ou pilungo.

Vejamos alguns tipos de cavalos, comuns em nosso pago:


CAVALO GAVIÃO – É o cavalo arrisco ou aragano. Toma a ponta da manada, não se deixa pegar. É o cavalo matreiro e refugador de porteiras, mangueiras ou mata-burros.
CAVALO FOGOSO – Cavalo de explosão. Salta longe. Pede freio. A melhor forma de amansá-lo é colocá-lo na lida contínua e demorada. Bom serviço para perder o costume é acompanhar uma carreta, cuja monotonia da estrada faz perder a pressa.
CAVALO MARCHADOR – Cavalo que anda em forma de marcha. São movimentos das patas dianteira e da trazeira, do mesmo lado, ao mesmo tempo. Andar em forma de bailado, conduzindo o cavaleiro de forma baralhada. Dá a impressão, com sua ginga de corpo, de querer arrastar-se para caminhar.
CAVALO TAFONEIRO – Cavalo que só atende para um lado. Próprio para puxar moinhos em círculos, engenhos de cana, etc.
CAVALO NEGADOR – É o cavalo que dá negadas. Atira-se para o lado, quando o peão alça a perna para monta-lo. Cavalo que a qualquer movimento dá uma brusca queda no andar, atirando o cavaleiro para outro lado. Cavalo que adquire defeitos depois de velho, geralmente refugando os elevados pesos carregados ou cargas barulhentas.
CAVALO APORREADO – Cavalo com doma incompleta, por sua rebeldia. Cavalo carboteiro, solto ao campo por chucro e de doma impraticável. Potro respeitado pelos domadores, na condição indomável. É usado somente para concursos de ginetes, nos rodeios e festas campeiras.
CAVALO PASSARINHEIRO – Cavalo assustado e sestroso. Pingo que passeia na passarela, de um lado a outro da estrada.
CAVALO PACHOLA – Cavalo fogoso, garboso, disposto e que anda pedindo freio. Pingo de passear nos domingos. Próprio para desfiles nas passarelas. Cavalo faceiro, que desfila empinando-se.
CAVALO DOCE DE BOCA – Cavalo que o domador castigou demais o bocal. Quebrou demais os queixos. Muito sensível de boca, nem bem sente o frio, já atende. Cavalo sem confiança, pisa num lugar só e se desgoverna. Chamado, ainda, de cavalo quebrado de boca.
CAVALO RUFIÃO – Cavalo mal castrado. Porta-se como um garanhão, porém não tem poder de fecundação. Torna-se cavalo de mau engorde.
CAVALO CABANO – Cavalo que tem duas orelhas caídas, em forma de chapéu velho. Cavalo dito mocho e que tem fama de carboteiro.
CAVALO REIÚNO – Cavalo que anda de mão em mão. Cavalo sem marca. Que pertence á tropilha do Exército Nacional.

Danças e Ritmos

As danças ocupam um espaço nobre dentro do tradicionalismo gaúcho. Tanto como expressão de emotividade quanto uma manifestação de arte, que requer técnica e habilidade. Desde os primórdios, a dança se constitui num exercício para corpo e um descanso para espírito. A topografia do terreno, a vestimenta, o espírito, a idiossincrasia e a emotividade do indivíduo, foram os pontos de apoio em que se assentaram as bases para a formação coreográfica que se criou em cada setor do universo. Seque algumas danças e ritmos:

.: Anu*




Dança típica do fandango gaúcho, o anu foi dança predileta do gaúcho Sul-Rio-Grandense, em meados do século passado. A parti daí se amoldou às características desta nova geração coreográfica, com nítida influência das danças platinas sob comando. É legítima dança de pares soltos, mas não independentes.



.: Balaio*




O balaio é brasileiro da gema e procede do Nordeste. O balaio guarda nitidamente a feição de nossos velhos lundus que criaram, no Nordeste do Brasil, o baião ou baiano. O nome “balaio” origina-se do aspecto de cesto que moças dão as suas saias, quando o cantador diz: “moça que não tem balaio, bota a costura no chão”. Trata-se de dança sapateada e, ao mesmo tempo, dança de conjunto.

.: Bugio*




Este ritmo puramente gaúcho, rude como animal das indomáveis querências, brotou da gaita 48 baixos de Neneca Gomes – Wencelau da Silva Gomes – nas serras de Mato Grande, 5.º distrito de São Francisco de Assis, o umbigo Rio Grande do Sul, como denominava Getúlio Vargas esta região. Muito popular nestes pagos por suas habilidades musicais, Neneca Gomes procurou imitar o ronco do Bugio por volta de 1928, tendo em seguida chegado numa espécie de canto cadenciado que levou o nome de “os Três Bugios”, em homenagens a estes bichos domesticados que tinha em casa. A música muito popular entre os gaiteiros da região missioneira de São Francisco de Assis, Santiago. Bossoroca, Jaguarí e São Borja, ganhou impulso e notoriedade maior a partir dos estudos musicais realizados por Paixão Cortes e Barbosa Lessa e, posteriormente, com a gravação dos irmãos Bertussi e um pouco mais tarde a divulgação feita pelo músico Leonardo. O Bugio é uma composição de notas retratando a vida simples da campanha onde a dança permanece muito cultuada embora a música tenha ganho as cidades. “O Bugio é cantado em diversas facetas. Em momentos representa o piá arteiro, peão destemido, moço faceiro etc. Noutra o próprio animal, numa defesa e valorização ecológica da fauna gaúcha.



.: Cana-Verde*




A “Cana-verde” chegou de Portugal, e se tornou popular em vários estados brasileiros. Naturalmente foi adquirida cores locais, em cada região e dessa forma produzindo variantes da dança-origem. A coreografia foi a mais difundida no nordeste e litoral do Rio Grande do Sul.

.: Chimarrita ou Chamarrita*




Com os nomes de Chama-Rita, foi introduzida pelos colonos açorianos ao inicio da formação do Rio Grande do Sul. Desde a sua chegada, a “chamarrita’” foi-se amoldando às subseqüentes gerações coreográficas. Do Rio Grande do Sul (e de Santa Catarina), a dança passou ao Paraná, ao Estado de São Paulo, bem como às províncias argentinas de Corrientes e Entre-Rios, onde ainda hoje são populares as variantes “Chamarrita e Chamamê”.



.: Chote de duas damas*




Bonita variante do chote, em que o homem dança com duas damas simultaneamente. Essa presença de duas mulheres não é raridade: antigas danças germânicas também foram assim, os platinos tiveram o “palito”, e na cidade de São Paulo dançou-se da década de 20 um “chote militar” com duas damas. Não necessita de melodia específica, dança-se ao som de um chote comum. Por nós é dançada com partitura de “Chote Laranjeira”.

.: Chote Inglês*




Dança de salão difundido nas cidades brasileiras ao final do século XIX. Suas melodias, excutadas ao piano nos centros urbanos, chegaram a ser conhecidas no meio rural. Registramos algumas variantes de chote inglês em várias regiões do Rio Grande do Sul.



.: Chula*




Um dos mais importantes livros-de-viagem referente ao Estado do Rio Grande do Sul – a “Notícia Descrita da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul,” escrita por Nicolau Dreys em 1817 e publicada em 1839 - foi acentuado por uma passagem da obra, em que o viajante nos fala que a sociedade dos gaúchos era uma sociedade sem mulheres. Naquela época, “gaúcho” era um termo pejorativo indígena, homem sem lar e sem querência – bem distinto do campeiro das estâncias, apegado à terra e à família. O tempo passa-se em jogar, tocar ou escutar uma guitarra n’ alguma pulperia, e às vezes, dançando chula, sem a participação de mulheres, enfim a chula é dança de agilidade masculina ou de habilidade sapateadora, em que os executantes demonstram suas qualidades individuais.


.: Dança dos Facões*




Danças de esgrima, em que, ao invés de porretes ou bastões, se usam espadas ou facas de verdade, são registradas na Ásia, na Europa Oriental, na África muçulmana, em regiões onde se encontram aglomerados predominantemente masculinas. Cada dançarino mune-se de dois facões, afiados, e as evoluções exigem destreza, acuidade, reflexos rápidos.


.: Malambo*




Tradicional sapateado argentino, executado apenas por homens. Do folclore o malambo passou ao teatro tradicionalista argentino e hoje foi incorporado, com muito entusiasmo às festas típicas dos tradicionalistas uruguaios e sul-riograndeses. Além de uma melodia tradicional, inconfundível, há várias melodias de malambo criadas por eméritos compositores platinos, dando oportunidade ao surgimento de notáveis criações coreográficas, artísticas, onde os dançarinos fazem malabarismo com base no tema folclórico original.



.: Maçanico*




Com o nome “Maçanico” surgiu no Estado de Santa Catarina e daí passou ao nordeste e litoral do Rio Grande do Sul. É uma de nossas danças mais animadas. O nome maçanico é corruptela de maçanico, ave das lagoas.



.: Pau-de-fitas*




Nenhuma dança, como o “Pau-de-fitas”, pode merecer, com tamanha propriedade, o nome “dança universal”, e é de todo infrutífero, ao pesquisador, tentar buscar-lhe o ponto geográfico de origem, pois a “dança das fitas” parece surgir de todos os lados e em todos os povos. A tese mais acertada é a do folclore argentino Carlos Veja que vê na “dança das fitas” uma sobrevivência das solenidades de cultura às árvores, tão disseminada entre os povos primitivos.



.: Pericóm*




Como reflexo do que ocorrera em Paris e em toda América, surgiu no Prata, na primeira dança de um conjunto chamada “Pericom”. Da província de Entre-rios e a Banda da Oriental do Uruguai o ”Pericom” passou à campanha do Rio Grande do Sul. Na fronteira entre o Brasil e o Uruguai.



.: Pezinho*




O “Pézinho” constitui uma das mais simples e ao mesmo tempo uma das mais belas danças gaúchas. Como dança e como elemento de festas, foi e é ainda muito popular em Portugal e nos Açores, veio a gozar de intensa popularidade no litoral dos estados brasileiros de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.



.: Ratoeira*





Dança em formação de roda, aparentada com as cirandas, que se difundiu nas áreas de cultura açoriana do Estado de Santa Catarina. No Rio Grande do Sul sua presença foi assinalada apenas no litoral-norte e planalto de Vacaria



.: Rilo*




Paris importou juntamente com as contradanças uma dança da Escócia chamada ‘reel’ em formação de roda e utilizando a figura do 8, com o nome ’ril’ a dança foi apreciada nos salões brasileiros em meados do século passado e daí chegou aos meios rurais rio-grandenses, onde a denominação foi aportuguesada para ‘rilo’.



.: Roseira*




Uma das danças regionais sul-rio-grandenses onde se percebe maior parentesco com danças regionais de Portugal, numa confirmação de tese do foco de origem comum. A coreografia e a música foram colhidas péla Invernada Artística do “35”, através do seu “peão” Antonio Carlos.



.: Sarrabalho*




É uma das danças gaúchas mais características da geração coreográfica de pares soltos, com o homem parecendo perseguir à mulher, ambos castanholando com os dedos, forte sapateado, tudo de acordo com a longínqua origem ibérica.



.: Tatu, com volta no meio*




Nos primeiros tempos, o “tatu”, como legítima dança do fandango, consistia num sapateado pelos pares soltos, sem maiores características. Posteriormente, o “tatu” sofreu a intromissão, em sua coreografia, da “Volta-no-Meio” – uma dança que tornou popular no Brasil em meados do século passado.



.: Tatu Novo*




Em 1954, quando da visita de Porto Alegre da Sociedade Crioulla El Pericón, de Montevidéu, foi prestada uma homenagem aos visitantes com uma dança nova, deliberamente montada pelo CTG “35” para assinalar aquele grato encontro. Trata-se de uma adaptação à música do “Anuário”, com base do antigo sapateado à gaúcha. Essa criação coreográfica tornou a ser apresentada posteriormente, por outros grupos, e ganhou nos círculos tradicionais o nome de tatu “novo”.



.: Tirana do Lenço*




A “tirana” foi uma das danças espanholas mais difundida na América Latina. Afirma-se que a “tirana” nasceu em Madri, em 1773, lançada pela cantora Maria Rosário Fernandez, esposa de um ator cognominado “El Tirano”.



.: Caranguejo*




Diz Oneyda Alveranga que o “caranguejo foi popular no país todo e sobre ele há referência desde o século XIX. É dança grave, de pares dependentes, lembrando uma muito possível origem no minueto. No Rio Grande do Sul o primeiro registro musical foi feito por Alcides Cruz, para o “Anuário do Rio Grande do Sul”, de 1903.



.: Rancheira**




É uma versão da mazurca, muito divulgada no séc. XIX em toda a comunidade européia. Este ritmo é também muito conhecido no sul da Argentina como ranchera ou, inicialmente, “mazurca de rancho”.No Rio Grande do Sul, segundo Paixão Cortes e Babosa Lessa, a divulgação deste ritmo se deu em maior escala com o aparecimento do rádio, sendo uma versão regional da mazurca polonesa. Sua coreografia é executada de três maneiras: primeiro como uma espécie de valsa, típica da fronteira; depois, à maneira serrana, a rancheira sendo dançada com maior vitalidade, com forte marcação na primeira batida; finalmente, ela é dançada no litoral, onde sua forma mais usada é a marchadinha, ou seja, com passos duplos de terol (segundo Paixão Cortes e Barbosa Lessa são passos duplos de marcha), onde o homem empurra e puxa a mulher e onde o par se segura nos cotovelos, como a Chimarrita Balão (dança do folclore gaúcho).Na primeira maneira de dançar, ou seja, na rancheira da fronteira, a marcação é como valsa, ma com a diferença de que é feita uma forte marcação no primeiro passo, no tempo mais forte da música, maneira esta mais utilizada na fronteira do Estado. A segunda é a rancheira serrana, cujo passo é executado saindo do chão, com vitalidade e sendo mais pulada, mas mantendo os passos da primeira. A diferença está na execução. A terceira marcação possível é a de utilizar sua coreografia é de forma puladinha ou marchadinha, como a utilizada no litoral do Rio Grande do Sul.



.: Chimarrita-Balão*




A “Chimarrita-Balão” é conhecida somente no litoral-norte e planalto-do-nordeste do Rio Grande do Sul. “Balão” foi uma dança bastante vulgarizada em Portugal no Século passado, e teve, no Brasil, variantes como ‘Balão-Faceiro”. Não encontramos, a não ser na denominação, a mínima semelhança entre a “Chimarrita-Balão” e a tradicional “Chimarrita”.



.: Chamamê**




Ritmo originário da Argentina, a difusão deste gênero de música na década de 40 se deve em princípio às gravadoras de Buenos Aires e advento do rádio.No Rio Grande do Sul a entrada deste ritmo se deve em muito a proximidade do Brasil e suas fronteiras com países como a Argentina e o Uruguai. Outros gêneros de músicas como a Milonga, o Tango e o Bolero tiveram e ainda têm influência direta na história da formação musical do Rio Grande do Sul. Assim também o chamamê teve sua influência na cultura musical do Estado, principalmente nos últimos vinte anos; foi um dos que mais se popularizou, fazendo hoje parte de todo tipo de encontro onde houver música regional.O chamamê dançado por argentinos ou uruguaianos, em que a marcação também é ternária, assemelha-se à marcação da valsa, nada tem a ver com as loucuras feitas hoje em dia nos nossos bailes, onde acabaram inventando o chamachote ou choteme e, depois, na hora de dançar um chote, caminham como se fosse um chamamê.Opções para figuras ou variações dentro do chamamê, seriam algumas figuras de tango, que, mesmo antes de fazerem parte do tango, já ilustravam as polcas, chamamês e milongas. Vale dizer aqui rapidamente sobre o por quê motivo falo do tango: é que este surgiu primeiro como dança, mas depois se casou com o ritmo do tango andaluz que chegou a região dos pampas. Antes os passos, que depois virão a casar com o ritmo aprendido nos camdombes, eram dançados pelos compadritos em ritmos da sociedade de então, entre estes o chamamê.



.: Valsa **




Walsem (em alemão= andar, peregrinar ou dar voltas). Daí provém o nome valsa. A dança surgiu do antigo minueto, claro que com forte influência de ritmos nacionais da Áustria como Leander e o Deustscher, Tanz sendo a primeira dança de salão de pares enlaçados firmemente. Nas primeiras notícias sobre valsa, temos menção de apresentações datadas de 1660 em Viena, difundindo-se no ínicio do século passado para a França e a Inglaterra. Sendo esta dança tocada em compasso ternário allegro, sempre com diversas partes.



.: Vanera**




Origina-se da habanera, que é um ritmo, cubano de danças e canções, nome este dado em referência a esta capital Havana (La Habana).Seu compasso é binário, de moderado a lento ritmo que foi se popularizar no século XIX e foi muito utilizado por compositores espanhóis e franceses.No Brasil, influenciou não somente ritmos do Rio Grande do Sul, mas também outros, como o samba-canção.No Rio Grande do Sul, a nossa vanera adotou nomenclaturas diversas, como vaneirinha, vanerão ou, ainda, limpa-banco.Dançada assim, com marcação 2 e 2, nos salões do Rio Grande do Sul, dançada puladinha (no que lembra o passo do Bugio) ou arrastada, esta marcação é feita em qualquer direção.O homem inicia com o pé esquerdo indo em diagonal; logo depois, o segundo passo é dado para frente. Entre estes dois movimentos, o outro pé desloca-se levemente em um pequeno arrastar.Os pés partem da posição inicial já indicada nos fundamentos da postura, sendo que os primeiros passos são feitos como se quiséssemos formar um horário de dez para as duas.



.: Milonga**




É um ritmo argentino, mas de origem africana e que surgiu no fim séc. XIX. Inicialmente era considerada vulgar. Seu nome provém do dialeto angolano quimbundo e significa palavra. Foi esse nome que o povo deu ao canto dos payadores. Nascida nos arredores de Buenos Aires, alguns autores ainda alegam que teria surgido a partir da mazurca.A milonga foi introduzida no Rio Grande do Sul inicialmente na fronteira, ao som do violão, o acompanhamento predileto dos declamadores gaúchos.A milonga no Rio Grande do Sul é dançada com a marcação de 2 e 1, duas marcações feitas com uma perna e a outra fazendo deslocamento com um passo para frente ou para trás.

Etnias

Açorianos

O primeiro nome dado à região atualmente ocupada por Porto Alegre foi o de Porto de Viamão, ainda no século XVIII. Nessa época, ainda não havia um núcleo urbano, e os estancieiros da região usavam o Guaíba como meio de comunicação com Rio Grande e Rio Pardo. A região, conhecida como campos de Viamão, ainda era um distrito de Laguna (na atual Santa Catarina). O porto, por decorrência, era o Porto de Viamão.
Em 1740, entretanto, o porto passaria a ter outro nome. A área onde está o atual Porto Alegre foi concedida como sesmaria a Jerônimo de Ornelas Meneses de Vasconcelos, português nascido na ilha da Madeira. E o Porto passou a ser conhecido como Porto do Dorneles. Segundo o historiador Walter Spalding, o Porto propriamente dito ficava na foz de um riacho, onde atualmente fica a Ponte de Pedra do Largo dos Açorianos.
Esse nome, entretanto, teria vida curta. Em 1752 começaram a chegar, ao Rio Grande do Sul, os primeiros casais vindos das ilhas dos Açores. O governo português pretendia, ao incentivar a imigração desses casais, resolver dois problemas. O primeiro era o das ilhas dos Açores - que estavam superpovoadas. O segundo era o da ocupação do solo na extremidade sul do território brasileiro, uma zona considerada vital por se tratar do ponto de encontro entre os domínios portugueses e espanhóis na América do Sul.


Inicialmente foram acomodados na região do Porto do Dorneles sessenta casais. E esse núcleo de população, que deu origem a Porto Alegre, passou a servir como uma espécie de ponto de apoio para os novos casais imigrantes que chegavam, e que seguiam para outras partes do Rio Grande. E, é claro, em função dos casais, o Porto que era do Dorneles virou dos Casais.
O pequeno povoado ia se desenvolvendo bem. Mas, em 1763, uma guerra traria sua grande chance de crescimento. Os espanhóis invadiram a vila de Rio Grande, então capital do Rio Grande. E a sede da capital foi transferida para Viamão, pertinho do Porto dos Casais.
ez anos depois, com o desenvolvimento do Porto e a sua óbvia posição estratégica nas margens do Guaíba, o então governador da Província, José Marcelino de Figueiredo, decidiu transferir a capital de Viamão para o Porto dos Casais. E, simultaneamente, mudou o nome de Porto dos Casais para Porto Alegre.


Alemã

Alemães no sul do Brasil

Do baixo latim ‘alamanus’, com o mesmo significado, tomada do germânico ‘allemannen’, usado para referir-se a ‘todos os homens’. Chegou a nossa língua portuguesa a partir do francês ‘allemand’. Este gentílico é compartilhado com o espanhol ‘alemán’, porém cabe observar que difere do inglês ‘german’ e do alemão ‘Deutsche’.
Quando ao gentílico ‘germano’, que também se aplica aos alemães, provém do latim ‘Germanus’, vocábulo com que se denominava os povos bárbaros que habitavam a Europa Central, num território aproximadamente igual ao da atual Alemanha.
Nos séculos XIX e XX, o Brasil recebeu um importante fluxo de imigrantes alemães. A imigração começou na primeira metade do século XIX, quando ainda não havia uma Alemanha formada, e sim diversos reinos que formavam os Estados Alemães. O Sul do Brasil absorveu a maior parte desses imigrantes, que se dedicaram à agricultura familiar. Ainda hoje, nas regiões brasileiras em que imigraram, a influência alemã é visível.
A colonização alemã no sul do Brasil registrou no dia 25 de julho de 2004 os 180 anos do seu começo. As famílias que vieram das várias partes da Alemanha de então chegaram a atual São Leopoldo/RS em meio a uma intensa guerra ideológica e territorial. Uma guerra na qual as repúblicas platinas da Argentina e do Uruguai desafiavam simultaneamente a monarquia espanhola e o império luso-brasileiro.
Os primeiros colonos alemães que foram assentados no Rio Grande do Sul vieram acima de tudo para cumprir uma função estratégica: reforçar as posições imperiais na região, assegurando assim a posse do antigo Continente de São Pedro nas mãos dos Braganças.


Os alemães são um grupo étnico relativos à língua alemã e à cultura alemã. O conceito de quem é um alemão sofreu variações. Até ao século XIX, eram considerados alemães todos os falantes dos dialetos alemães, ou seja, os habitantes da Alemanha, Áustria e Suíça. Todavia, com a Unificação Alemã em 1871, o conceito de ser alemão passou a ser reduzido para os habitantes do território do novo país ou àqueles que lá tem origens, pricipalmente por ser a Alemanha o país que possui a maior população de alemães étnicos, deste modo o termo para substituir a antiga denominação de alemães étnicos passou a ser germânicos ou teutos (teutões), ou seja, pessoas que falam alemão e que expressam-se na cultura germânica (alemães, austríacos, suíço-alemães, luxemburgueses, sudeto-alemães, alsacianos, etc).


Não existem números precisos sobre o número de falantes da língua alemã no Brasil, porém, está estimado entre 600 mil a 2 milhões de falantes[Carece de fontes?], concentrados principalmente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A imigração alemã para o Brasil meridional nos últimos 180 anos fez nascer um dialeto própio, chamado de Riograndenser Hunsrückisch, que tem sua raiz no dialeto Hunsrückisch, falado no sudoeste da Alemanha. O dialeto sofreu interferência da língua nacional do Brasil, o português e de línguas de outras comunidades imigrantes que viviam no Sul do Brasil, como da língua italiana. Outros dialetos alemães falados no Brasil são o pomerano (em municípios como Pomerode e Roque Gonzales), o plattdüütsch etc.
Dos 12 milhões de brasileiros que possuem ascendentes alemães, são poucos aqueles que ainda mantêm laços afetivos com a Alemanha. Todavia, há um significativo número de teuto-brasileiros que se consideram primariamente alemães, principalmente as gerações mais antigas em zonas rurais e isoladas do Sul do Brasil. Embora assimilada, é inegável a contribuição da cultura germânica à cultura do Brasil, como por exemplo o Oktoberfest realizado em cidades como Blumenau ou em diversas manifestações culturais que ocorrem, sobretudo, no Sul do país.
O Rio Grande do Sul quando província do Império de D.Pedro I, viu-se centro de um cabo-de-guerra que de um lado era puxado pelas mãos conservadoras da monarquia absolutista, e do outro nas dos republicanos do Prata. Reproduzia-se nesta parte do mundo o mesmo conflito que se dava na Europa entre os interesses da reacionária Santa Aliança e as forças do liberalismo republicano emergente. Foi, pois, em meio a este cenário belicoso que os primeiros 39 imigrantes alemães desembarcaram no cais da antiga Feitoria do Linho Cânhamo, na atual São Leopoldo, no inverno de 1824, situada a pouco mais de 20 km de Porto Alegre, a capital da província.
O uso da língua alemã no Brasil entrou em declínio na década de 1930, quando foi proibida pelo presidente Getúlio Vargas. O Brasil havia declarado guerra contra a Alemanha e os imigrantes alemães não podia mais falar seu idioma natal. Alguns imigrantes continuaram falando seus dialetos dentro de casa e em lugares privados, mas a maioria acabou por adotar definitivamente o português como língua.


Espanhola

Espanhóis e a colonização

A influência espanhola se fez sentir no Rio Grande do Sul, desde a sua formação. Pode-se mesmo falar que, sem a participação espanhola, a pecuária - que seria a base da economia gaúcha durante o século XIX e início do XX - não existiria com a importância que tem. Mas não é só isso: no linguajar da fronteira, nas influências culturais, países de língua hispânica desempenharam um importante papel no nosso século.
Não poderia ser de outra forma. Afinal, o Rio Grande representou a principal zona de contato - e conflito - com os vizinhos espanhóis. Atualmente, metade de nossos limites territoriais se encontra com nações de origem hispânica: ao sul está o Uruguai, ao oeste a Argentina. No século XVII todo o atual estado estava em mãos espanholas. No século seguinte os portugueses conquistaram algumas áreas, e boa parte do território gaúcho voltou a ficar em mãos espanholas - suas tropas invadiram o sul do estado, ocupando a cidade de Rio Grande por 13 anos. Já no início do século XIX a situação foi inversa: foi o Brasil que ocupou a área do Uruguai, incorporando-o ao seu território como Província Cisplatina.
Mas a maior contribuição espanhola, em termos econômicos, pode ser considerada a introdução de bovinos no Rio Grande do Sul. Durante o século XVII, quando formaram suas reduções com os índios guaranis, os jesuítas se preocuparam em dispor de grandes rebanhos de gado para garantir a alimentação de seus tutelados. Graças a isso e a ameaças de vinganças divinas é que eles mantiveram os índios reunidos. Quando os jesuítas foram expulsos, o gado ficou e se proliferou, tornando-se uma atração para portugueses e espanhóis. Os paulistas das bandeiras e os lagunenses que primeiro penetraram em território gaúcho o faziam em busca de gado.
Também em termos culturais a influência espanhola se fez presente, em especial na zona da Campanha. Ali, vivendo situações parecidas e com atividades econômicas idênticas, os gaúchos dos dois lados desenvolveram vestimentas extremamente semelhantes. Também a alimentação é bastante parecida: a carne é a base alimentar de todo o pampa.
Na região de Santa Vitória do Palmar, a influência platina se fez sentir até bem entrado o século XX. Isolados do resto do país e do estado antes da pavimentação da BR-471, que liga o município à cidade de Rio Grande, os moradores compartilhavam muito mais das atividades do Uruguai do que das do Brasil. Era com times uruguaios que se jogava futebol, os jornais e revistas vinham daquele país, se escutavam as rádios de lá. E isto se justificava: afinal a cidade uruguaia mais próxima, Castilhos, está a apenas 70 quilômetros, enquanto que Rio Grande fica a 238 quilômetros.
A proximidade trouxe influências linguísticas, com vários termos se "acastelhanando". Essa situação também ocorreu em outros pontos da fronteira, onde a mescla de termos castelhanos e portugueses no linguajar cotidiano é freqüente. E, se houve influência na linguagem, também houve na arte: a poesia campeira, com seus poemas gauchescos, é comum aos três países do Cone Sul.
No Rio Grande do Sul não existe uma cidade que possa ser considerada espanhola. Nem mesmo um bairro. E, se houver, serão poucas as famílias que, em casa, somente falam espanhol. Ao contrário dos esforços feitos em outras etnias, não existe um trabalho de recuperação e preservação das velhas tradições, procurando mantê-las vivas no dia-a-dia das pessoas.
O que é uma autêntica tradição espanhola é o velho costume que vem se mantendo no tempo, de empinar pandorgas (papagaios) na sexta-feira santa. As pessoas saem cedo de casa, com um farnel na mão e a pandorga pendurada nas costas, e seguem para os cerros da região, longe dos fios que fazem a transmissão de energia, para dedicar-se ao esporte.
Trata-se de um costume muito antigo. A prova de que se trata de uma tradição espanhola foi obtida em Valencia, na Espanha, graças à pesquisa de historiadores da região, segundo a qual o costume foi levado a Livramento pelos espanhóis que chegaram à cidade através do porto de Montevidéu em algum momento do século passado.



Indígena

A modernidade nasceu com o choque entre a Europa e seu “outro” e controla-lo, vencê-lo, viola-lo, “para que”, quando pode se vestir com um ego descobridor, conquistador, colonizador e principalmente civilizador.

Diante das diferenças entre indígenas e europeus, a primeira atitude é de repudia ou fascínio, sendo questionado a propriedade ou não de alma pelos nativos. A igreja insistiu na posse de alma pelos nativos, recomendando que fossem cristianizados. Essa ação serviu de amparo moral ao escravismo e encobrimento do outro.

Missionário, no sentido religioso do termo, é o sujeito incumbido de pregar a Fé. É um trabalho desenvolvido para a conversão dos pagãos. Denomina-se “Missão” a ação de evangelizar os nativos.

Essa conquista espiritual é um processo por demais contraditório. Toda conquista é irracional e violenta, os Jesuítas pregam o amor a uma religião, o Cristianismo, que de uma maneira ambígua tem um fundador que é um crucificado, uma vitima inocente, onde se fundamenta a memória de uma comunidade de crentes, a Igreja, que no tempo do
Império Romano foi também vitimada, e por outro, se mostra uma pessoa humana moderna e violenta que pregava um inocente no nativo.


No caso das Missões não as viam como escravizar e sim civilizar. Civilizar significava impregnar o indo com a fé cristã e com os valores da cultura ibérica. Para que esta ação fosse continua, os índios foram reduzidos pelos missionários, ou seja confinados em um determinado espaço denominado redução, aldeia ou pueblo.

Esse trabalho trata de ir ao mito da modernidade e sua origem, onde, desenvolve um mito irracional de justificação da violência que se deve negar e superar.

Os indígenas, que antes eram conquistados pela força das armas, com as missões jesuíticas passam a ser dominados pelo imaginário, onde vêem negados seus próprios direitos, sua própria civilização, sua cultura, seus deuses, em nome de um só Deus, que não é o seu, estrangeiro, e de uma razão moderna que deu aos conquistadores a legitimidade necessária para conquistar.

Os Jesuítas cuidavam do espiritual e do temporal, aproveitando muito dos costumes dos dominados nessa ação. As reduções dos Guaranis floresceram no período barroco, que trazia uma nova visão do universo em movimento, graças às obras de Copérnico e Galileu.

Os autores pós-modernos criticavam a razão moderna porque é uma razão do terror, essa visão critica essa razão por encobrir um mito irracional. Superar a modernidade é o pretendido.

Característica própria da modernidade é criar um mito de sua bondade, civilizador, para justificar sua violência, se declarando inocente pela anulação do outro. Esse imaginário não se fixa na realidade concreta, são objetos-pretextos nos quais os conquistadores exercitam suas projeções, sem se considerar o contexto social do conquistado.

A visão moderna tem perspectiva etnocêntrica, que vê o fato através de só um referencial de comportamentos, reduzindo as atitudes diferentes de se comportar a anomalias, equívocos, atitudes desviantes. Essa perspectiva salienta o fato de que, não se considera o outro em si mesmo, e sim se vê nele.

A tarefa desempenhada por esse trabalho consiste em desenvolver uma teoria, ou filosofia do dialogo que faça parte de uma filosofia da libertação do oprimido, do excluído, do outro. A Filosofia da Libertação parte da posição do oprimido, do excluído (da cultura massacrada e explorada), do fato concreto da História. Trata de mostrar essa possibilidade de dialogo, a partir da afirmação da alteridade e ao mesmo tempo, da negatividade, a partir de sua impossibilidade empírica concreta, pelos menos como ponto de partida de que o dominado possa intervir efetivamente não numa argumentação ou numa conversação, mas num dialogo propriamente racional.

A violência vitimaria e sacrificial pretensamente inocente iniciou seu longo caminho destrutivo. Alianças e tratados nunca cumpridos, exigências de trair sua religião e sua cultura sob pena de morte ou expulsão, ocupação de terras, e todo o tipo de encobrimento do nativo.

Por serem diferentes, é preciso considera-los fora da humanidade? Considera-los como virtualidades de cristãos? Ou devemos questionar a visão que temos da humanidade? Reconhecer que a cultura é plural? Qual deveria ser a posição racional ou ética diante deste fato?

O que seria o encontro de dois mundos, dessas duas culturas? O choque desses mundos elabora um mito de um Novo Mundo, como uma cultura de harmonia entre os dois lados. O que aconteceu no caso, não foi um encontro, mas sim um choque, que devastou a cultura indígena. O conceito de encontro é encobridor porque ocorre ocultando a dominação do “eu” europeu, de seu “mundo”, sobre o mundo do “outro”, no caso, do Jesuíta catequizador sobre o nativo Guarani.

Nenhum encontro pode ser realizado por haver um desprezo total com a cultura e as crenças Guaraníticas. O que ocorre de fato é uma relação assimétrica, onde o mundo do outro é excluído de toda a racionalidade e validade religiosa possível.

É obvio que o resultado do choque entre a cultura transmitida pelos Jesuítas – cultura Ibérica – e a cultura nativa, no caso – a Guarani, tem como resultado uma religião sincrética. O sincretismo ocorre devido a os Jesuítas utilizarem-se de elementos da cultura dos Guaranis, como o idioma, o uso do chimarrão para evitar a embriaguez. Além disso, as tribos Guaranis não foram dispersas, e sim agrupadas em blocos de habitações com seus caciques e sua forma correspondia à casa do clã indígena.

O que se pode constatar com essa dominação , é que nasceu uma cultura nova, sincrética, híbrida, cujo o seu sujeito esta distante de ser o fruto de um processo de síntese cultural, mas sim de um efeito de sua dominação e aculturação.


Italiana

O Rio Grande do Sul na época da imigração italiana

Embora tenham encontrado um Rio Grande mais organizado economicamente, os italianos tiveram de enfrentar dificuldades semelhantes às vividas pelos alemães. Mas, embora ambas as colonizações tenham sido feitas em zonas de mato, as áreas de ocupação italiana eram mais altas e mais acidentadas. Enquanto a colonização alemã atingiu seu ponto máximo em Nova Petrópolis (597 metros de altitude), a italiana se faria em altitudes que variavam entre 600 e 900 metros.
Isto porque a colonização alemã seguira os vales dos rios de parte da Depressão Central, interrompendo-se nas encostas inferiores da Serra Geral. A região da Encosta superior estava desocupada, e a colonização italiana começaria ali - entre os vales dos rios Caí e das Antas, limitando-se ao norte com os campos de Cima da Serra, e ao sul com as colônias alemãs do vale dos rios das Antas e Caí.
As primeiras colônias na Encosta Superior foram as de Conde dÉu e Dona Isabel (atualmente Garibaldi e Bento Gonçalves, respectivamente), criadas pela presidência da província em 1870, antes que se iniciasse o processo de imigração italiana no estado. Para ocupá-las, o governo provincial firmou contrato com duas empresas privadas, que deveriam introduzir 40 mil colonos em um prazo de dez anos.
Como normalmente acontecia com esse tipo de contrato - que também foi adotado em alguns momentos pelo governo central - o sucesso foi pouco. Em 1872 chegaram 1.354 imigrantes, no ano seguinte 1.607, no de 1874 foram 580 e no de 1875 só 315. Os motivos para isto foram vários. Na Europa Central, e em especial na Alemanha, havia uma prevenção generalizada contra o Brasil - que era visto como um local onde os imigrantes sofriam privações.


Além disso, o governo provincial pagava menos para os transportadores do que o governo central, o que os desestimulava. Quanto aos próprios imigrantes, preferiam ficar no sopé da serra, nas áreas já colonizadas, do que se arriscarem mato adentro. Por isto em 1874 só 19 lotes de Conde d'Eu estavam sendo cultivados, com apenas 74 pessoas vivendo no local. Desestimulado por esse quadro de insucesso, o governo provincial desistiu de administrar a colonização da área, e repassou-a para o governo central.
É a partir de 1875 - sob a administração da União - que chegam as primeiras levas de italianos para Conde D'Eu e Dona Isabel. A área dessas colônias encontrava-se limitada pelo rio Caí, os campos de Vacaria e o município de Triunfo, sendo divididas entre si pelo caminho de tropeiros que seguia do local chamado de Maratá em direção ao rio das Antas (Conde d'Eu ficava à esquerda, Dona Isabel à direita).
No mesmo ano - 1875 - foi criada a colônia Caxias, no local chamado pelos tropeiros que subiam a serra em direção a Bom Jesus de "Campo dos Bugres". Esta colônia limitava-se com Nova Petrópolis, São Francisco de Paula, o rio das Antas e Conde d'Eu e Dona Isabel. Dois anos depois, em 1877, foi criada uma nova colônia para imigrantes italianos, a de Silveira Martins, em terras de mato próximas de Santa Maria.
Essas quatro colônias oficiais foram o núcleo básico da colonização italiana que, a partir dali, em uma primeira etapa, transbordaria para regiões próximas, que foram ocupadas por colônias particulares, e mais tarde atingiria o planalto. Foi assim que, em 1884, os colonos começaram a atravessar o rio das Antas e foi criada Alfredo Chaves; São Marcos e Antonio Prado (1885) foram, por sua vez, um prolongamento natural de Caxias.


Também o governo imperial (pouco depois federal) criou as colônias italianas de Mariana Pimentel (1888), Barão do Triunfo (1888), Vila Nova de Santo Antonio (1888), Jaguari (1889), Ernesto Alves (1890) e Marquês do Herval (1891). A partir da Proclamação da República houve a preocupação de que as colônias criadas fossem mistas, com membros de várias etnias. Mas a idéia teve sucesso apenas parcial, pois geralmente os colonos se remanejavam, reagrupando-se, por iniciativa própria, segundo seus grupos étnicos.
Da mesma forma que os alemães, os italianos tinham que desbravar a terra que adquiriam. Mas, agora, os lotes eram bem menores, tendo uma média que ficava entre 15 e 35 hectares. Ali plantavam produtos de subsistência, como o milho e o trigo. Mas o cultivo que marcou sua presença no Rio Grande do Sul foi a videira.
Antes de sua chegada, a produção vinícola do Rio Grande era considerada de qualidade inferior. Mas os primeiros colonos trouxeram novas variedades de uvas e isto ajudou a aperfeiçoar a qualidade do vinho gaúcho. A partir do início deste século começavam a ser formadas cooperativas vinícolas e a produção foi crescendo e melhorando, transformando o estado no principal produtor de vinhos finos do país.
Negra

Os negros entraram na história do Rio Grande do Sul desde seu início, mas o fizeram como personagens secundários, pouco lembrados, pouco citados - não obstante sua atuação tenha sido provavelmente, decisiva para a própria formação do estado. Porque para o português branco, o negro era um complemento indispensável de sua atividade: na terra, na casa, na luta, ele se assemelhava à argamassa que, escondida entre os tijolos, mantinha a estrutura, mas que não era nunca levado em conta.
Não é a toa que em um texto escrito em 1807 por Manoel Antonio de Magalhães, em que faz reflexões sobre a situação da capital do Rio Grande, os negros sejam equiparados, literalmente, a equipamentos. O autor defende que deva ser proibida a exportação de escravos do Brasil para as colônias espanholas, pois os escravos são de importância militar "como os artigos de guerra: pólvora, balas, armas, chumbo, ferro, cobre, aço, estanho, salitre e toda a sorte de massames náuticos".
Quando a bandeira de Raposo Tavares explorou os vales dos rios Taquari e Jacuí, no final de 1635, existiam escravos negros entre seus membros. Também em 1680, na fundação da Colônia de Sacramento, a expedição comandada por Manoel Lobo trazia escravos negros. Eram 200 militares, três padres e 60 negros, dos quais 41 escravos do comandante, seis mulheres índias e uma branca e índios. Os negros representavam, portanto, mais de 20% da expedição - sem se considerar os soldados negros e mulatos livres que eram usados pelos exércitos daquela época. Também as expedições posteriores que se dirigiram à Colônia de Sacramento levavam mais negros.


Outro ponto fundamental para a história da ocupação do Rio Grande foi a fundação de Laguna, em Santa Catarina. Afinal, de lá sairiam várias expedições destinadas primeiras a prear gados, segundo a ocupar o Continente de São Pedro. E na fundação de Laguna também o negro estava presente, bem como nas expedições que os lagunenses fizeram ao Rio Grande, em que constituíam a maioria dos membros.
Foi a partir do desenvolvimento das charqueadas - que começa em 1780, com ocupação da área de Pelotas - que o tráfico negreiro começa a tomar volume. Naquele ano, os escravos - calculados em 3.280 - representavam 29% da população total do Rio Grande do Sul, e se encontravam concentrados em duas áreas principais. A primeira era ao longo da estrada dos tropeiros, que ligava o extremo sul do Rio Grande ao resto do país, pelo roteiro Rio Grande-Mostardas-Porto Alegre-Gravataí-Santo Antônio da Patrulha-Vacaria, ao longo do qual se localizavam as maiores estâncias.
Nessa região estavam cerca de 65% dos escravos. A outra área de grande concentração estava no eixo Porto Alegre-Caí-Taquari-São Jerônimo-Santo Amaro-Rio Pardo-Cachoeira, ao longo do Jacuí, onde se concentravam 35% dos escravos, especialmente em São Jerônimo.


Esses números seriam grandemente aumentados com as charqueadas, saltando para 50% da população gaúcha em 1822, quando José Antonio Gonçalves Chaves, estancieiro e charqueador de Pelotas, calculou que dos 106.196 habitantes da província metade fosse de escravos.
Esses números talvez estivessem exagerados - afinal, Gonçalves Chaves era contra a escravidão, e usou de todos os argumentos para combatê-la em sua obra "Memórias Economo-políticas sobre a administração pública do Brasil". Um deles era justamente o de que "o excessivo número de escravos faz com que não o possamos tratar como temos obrigação". Mas, de qualquer forma, sabe-se atualmente que seu número era expressivo, e calcula-se que em 1858 alcançava quase 25% da população riograndense.
No entanto, a história desse povo sem história tem de ser procurada em dois tipos de fontes: ou nas notas que acompanham as narrativas, em que aparecem geralmente como "e uma grande quantidade de homens negros", ou em alguns episódios mais marcantes - que, por suas características singulares, são registrados. É esse o caso dos dois corpos de lanceiros que participaram das tropas farroupilhas durante a Revolução, que entraram para a história mais por terem sido vítimas de uma ainda não bem esclarecida traição (na Batalha de Porongos), que fez com que fossem eliminados para não comprometerem as negociações de paz entre farrapos e o Império.








Polonesa

A presença dos imigrantes italianos e alemães no Rio Grande do Sul, sobre tudo, na área rural está muito bem estudada. O mesmo não acontece com os demais grupos imigratórios que se estabeleceram no estado. Entre eles, os poloneses. Os estudos sobre este grupo étnico são extremamente reduzidos, isso apesar de constituírem o terceiro maior grupo imigratório europeu aqui instalado.
Os imigrantes poloneses começam a chegar ao Brasil e ao Rio Grande do Sul em grande número, a partir de 1891. Sendo o período de 1891 a 1894 conhecido como o da "febre imigratória brasileira", e é nesse período que eles são assentados nos núcleos coloniais criados pelo Estado. Grande número desses imigrantes é registrado como sendo imigrantes russos, austríacos ou prussianos, em decorrência do domínio exercido por essas nações sobre a Polônia, o que fez com que estes imigrantes fossem considerados "polacos sem bandeira".
Para melhor conhecermos nossa história é imprescindível conhecermos o processo de imigração e colonização européia no Rio Grande do Sul, e desta forma a presença dos imigrantes poloneses que muito contribuíram para configuração da realidade étnica, cultural e econômica do estado.


É significativa a contribuição à vida brasileira dos imigrantes poloneses aqui chegados desde o final do século XIX e, especialmente, no Rio Grande do Sul, a partir de 1875. Aqui, os imigrantes poloneses chegaram em maior número a partir de 1890, embora existam pelo menos dois registros anteriores. Um deles, em 1877, refere-se a 400 pessoas identificadas como russas, porque portavam passaportes daquele país que, à época, dominava parte do território da Polônia.
O outro, em 1875, considerado o marco na imigração polonesa no Rio Grande do Sul, na Colônia do Conde d´Eu, hoje Município de Garibaldi, com pessoas de passaportes prussianos, tendo à frente, como símbolo e primeiros proprietários, Todor Kraszewski, Jan Danielski e suas esposas. Calcula-se que tenham chegado pelo menos 100 mil poloneses no Brasil naquele período. Atualmente, o Brasil, ao lado da França, ocupa a terceira colocação em número de poloneses que vivem fora de seu país, com cerca de 1 milhão e meio de poloneses.
Esta imensa comunidade tem no dia 03 de maio a Data Nacional da República da Polônia, o Dia da Constituição, que foi promulgada em 1791 e é considerada a primeira constituição moderna da Europa. Contemporânea da Constituição Americana e também da própria revolução francesa, com sua Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão a Carta Polonesa foi precursora na garantia da pluralidade religiosa e no respeito aos contratos de trabalho estabelecido entre nobres e agricultores. O desejo de liberdade, de autonomia política e progresso, fez do povo polonês um exemplo de luta.


Ao longo da história, o espírito de 03 de maio tem, inclusive, permeado as relações bilaterais entre Brasil e Polônia. O Brasil foi o primeiro País da América Latina a reconhecer a legitimidade do governo da Polônia independente, estabelecendo relações diplomáticas em 26 de maio de 1920. Em 1961, essas relações diplomáticas foram elevadas ao nível das embaixadas. Hoje, existem, além da embaixada em Brasília, os consulados gerais de Curitiba, do Rio de Janeiro e de São Paulo, e três consulados honorários, em Belo Horizonte, em Erechim, no Rio Grande do Sul, e em Recife.
Na América Latina, o Brasil é o primeiro parceiro da Polônia tanto do ponto de vista político quanto econômico.
Não bastassem os motivos históricos e econômicos, o legado cultural do povo polonês às tradições e costumes dos gaúchos está hoje indissolúvel no nosso cotidiano. Assim, consideramos importante a lembrança da data nacional daquele país, instituindo o dia 03 de maio como o Dia da Comunidade Polonesa no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul no qual, os representantes desta etnia são devidamente reconhecidos pela sua importância no âmbito do nosso Estado.




Portuguesa

Os Portugueses no Sul do Continente

Limite extremo da colonização portuguesa no Sul do continente latino-americano, o Rio Grande do Sul, desde o início de sua ocupação, desempenhou duas funções vitais. A primeira foi a de ser um local estratégico, cuja manutenção era vital para garantir a presença portuguesa junto às áreas de colonização espanhola. A segunda foi a de servir como fornecedor de alimentos e outros bens para as demais regiões do país.
Situado fora do eixo de comércio do Brasil com Portugal, coube ao Rio Grande o papel vital de fornecer o gado que sustentou o ciclo do ouro em Minas Gerais e o do charque, que era o alimento básico dos escravos e da população de baixa renda das cidades brasileiras. A partir do início do século XX, coube também ao Rio Grande a função de "celeiro do país", responsável por uma fatia significativa da produção agrícola nacional.
A história do Rio Grande do Sul começou bem antes da efetiva ocupação de seu território pelos portugueses. Inicialmente, o Estado era uma "terra de ninguém", de difícil acesso e muito pouco povoada. Vagavam por suas pradarias os índios guaranis, charruas e tapes e, vez por outra, aventureiros que penetravam em seu território em busca de índios para apresar e escravizar.


Esse quadro foi modificado com a chegada dos padres jesuítas que, no início do século XVII, na região formada pelos atuais estados do Rio Grande do Sul e Paraná, e pela Argentina e Paraguai, fundaram as Missões jesuíticas. Nelas se reuniam, em torno de pequenos grupos de religiosos, grandes levas de índios guaranis convertidos.
Procurando garantir a alimentação desses índios, os jesuítas introduziram o gado em suas reduções. O clima e a vegetação propícios fizeram com que o gado se multiplicasse. Com isso, a região passou a oferecer dois atrativos para os que apresavam índios: além deles, havia também o gado. Até 1640 várias expedições vindas de São Paulo estiveram no Rio Grande, para capturar índios e gado, provocando o desmantelamento das Missões existentes no atual Estado. Nessa época os índios, comandados pelos jesuítas, derrotaram os chamados bandeirantes e as missões tiveram mais de cem anos de paz.
Ao final do século XVII, devido aos constantes conflitos de fronteira entre Portugal e Espanha, os jesuítas resolveram concentrar a população indígena convertida em uma área que consideravam mais segura, e escolheram a zona localizada na região noroeste do Rio Grande do Sul. Foram criados os "Sete Povos das Missões".


A prosperidade desses povos, que funcionavam independentemente das coroas portuguesa e espanhola, terminou por decretar o seu fim. Em 1750, um tratado firmado entre os dois países estabeleceu que a região das Missões passasse à posse de Portugal, em troca da Colônia de Sacramento, que havia sido fundada pelos portugueses em 1680 nas margens do Rio da Prata, defronte a Buenos Aires. Embora tenha havido resistência por parte de padres e índios, as Missões foram desmanteladas. Mas deixaram um legado que, por muito tempo, seria a base da economia do Rio Grande do Sul: os grandes rebanhos de bovinos e cavalos, criados soltos pelas pradarias.
Esses rebanhos atrairiam os colonizadores portugueses, que passaram a se instalar na região de forma sistemática a partir de 1726. A descoberta das minas de ouro em Minas Gerais iria, posteriormente, criar uma grande demanda pelo gado da região, e consolidou a ocupação do território. Nessa época, a célula básica da comunidade gaúcha eram as estâncias, sempre com grandes extensões, onde o gado era criado.