segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Jogos

Carreira de Cancha Reta

A carreira foi o esporte e o jogo de preferência do homem do pampa.
Fazia parte tanto de negócios que envolviam grandes somas de dinheiro como das brincadeiras telúricas.
Os ginetes, em pleno campo, se desafiavam. Muitas vezes, no retorno das campeiradas, tiravam cismas de quem possuía o cavalo mais rápido. Todavia, no geral, "atavam" carreiras para datas específicas, geralmente aos domingos.
Nos primeiros tempos, as carreiras eram disputadas com os cavalos de trabalho, os CRIOULOS. Esses eqüinos, de origem ibérica possuíam grande predominância de sangue árabe. Com o passar dos séculos, foram apurados e terminaram se definindo como raça específica do Cone Sul e muito valorizada nas atividades de pastoreio.
Os carreiristas sempre preferiam a "cancha reta", de metragem não muito longa. O percurso podia ser de 260 a 400 metros. Com o hábito das carreiras e invariavelmente com o volume de dinheiro envolvido no jogo, a atividade também se transformou em negócio. A paixão de muitos homens pelas carreiras provocou a perda de grandes fortunas: rebanhos e até estâncias. Conta-se que os gaúchos chegavam a apostar as próprias mulheres.
Participar com certa garantia de sucesso significava preparar apropriadamente os cavalos. Dessa forma, apareceram duas especialidades vinculadas às carreiras: a do compositor e a do jóquei.

Até hoje, no pampa, chama-se o treinador de cavalo de "compositor". Eles definiam os alimentos e os exercícios básicos dos animais. Alimentavam-nos com milho e alfafa fenada. Aplicavam-lhes banhos. Treinavam arrancadas e corridas para deixá-los fortes e velozes.
Os animais destinados às carreiras passaram a ser chamados também de parelheiros porque eram comuns as disputas feitas entre dois animais, em parelhas. Quando corriam em maior número, chamavam a carreira de "penca", ou califórnia. Ir às pencas, no Sul, significava, ainda, ir até onde ocorriam as carreiras.

Nos dias de "carreira atada", os CRIOULOS chegavam cabrestrados, cobertos de lindas capas, no geral, coloridas. Todavia, fazia parte da picardia dos jogadores "enfeiarem" os cavalos, sujando-os, desfigurando-lhes os rabos, dando-lhes certo visual de pangarés, para que os adversários não percebessem seus reais valores.
Nas carreiradas, os habitantes da região tomavam conta dos dois lados da cancha. E, ali, passavam o dia. Os bolicheiros armavam ramadas para vender bebidas e comidas. Assava-se churrascos. Aproveitava-se para rever conhecidos, saber das notícias e, nesse ambiente de jogo e convívio social, os jovens aproveitavam para os namoros.
De preferência, as canchas eram trilhadas nas várzeas, com árvores para a sombra e lenha para o fogo, e com um rio ou um arroio correndo perto.Além das carreiras contratadas com antecedência, os donos de parelheiros se desafiavam em plena cancha. Costumeiramente, alguém quando acreditava na imbatividade de seu cavalo, fazia-o desfilar, gritando: "Sem reserva!", isto é, na linguagem carteirista ele estava disposto a correr contra qualquer animal naquele momento, e a aposta não tinha limite.
As regras não eram muitas. Geralmente, tinham-se maiores cuidados na arrancada. Como a "pista" era curta, o que melhor arrancasse poderia levar vantagem. Os "juízes da partida" utilizavam um laço ou uma bandeira para dar a largada. No final da cancha, ficavam os "juízes da chegada". Um cavalo podia vencer por um pequeno detalhe: "de orelha".
As vantagens eram classificadas conforme a parte do corpo do ganhador ao passar pela baliza de chegada antes do perdedor. Assim, "ganhar de fiador" significava vencer pela diferença da cabeça, pois o "fiador" é a parte do buçal que passa atrás das orelhas e na conjunção com o pescoço. As outras medidas consagradas até hoje são: "de paleta", "de meio corpo", "de virilha". Ganhar "de luz" significava passar à frente do perdedor, sem que este cobrisse qualquer parte do vencedor.
Esses parâmetros ainda hoje são adotados em regiões da campanha.
As carreiras, as apostas eram depositadas em mãos de pessoas respeitáveis ou diretamente feitas em "campo aberto". Nesse casos os apostadores botavam o dinheiro no chão, e o vencedor juntava.
O povo também se divertia nessas festas. O público se alegrava com carreiras de petiços, animais lerdos, burros empacadores e manhosos.
Só no final do século XIX é que a corrida européia, de raias em círculo, foi adotada no Rio Grande do Sul. E, assim mesmo, apenas nas cidades.
Na campanha - e em muitos hipódromos especializados na modalidade - permaneceram as carreiras de cancha reta.

Jogo do Osso

Escolhe-se um chão parelho, nem duro, que faz saltar; nem mole, que acama; nem areento, que enterra o osso.É sobre o firme macio, que convém. A cancha com uma braça de largura, chega, e três de comprimento; no meio bota-se uma raia de piola (cordão, barbante), amarrada em duas estaquinhas ou mesmo um risco no chão, serve; de cada cabeça da cancha é que o jogador atira, sobre a raia do centro: este atira daqui para lá, o outro atira de lá pra cá. O osso é chamado de taba, que é o osso do garrão de rês vacum. O jogo é só de culo ou suerte. Culo é quando a taba (o osso) cai com o lado arredondado pra baixo; quem atira assim perde logo a parada. Suerte é quando o lado chato fica embaixo: ganha logo e sempre.
Quer dizer: quem atira culo perde, se é suerte ganha e logo arrasta a parada.Ao lado da raia do meio fica o coimeiro que é o sujeito depositário da parada e que a entrega logo ao ganhador. O coimeiro também é quem tira o baralho - para o pulpeiro (dono da pulperia, taberna ou botequim). Quase sempre é algum aldragante (vagabundo) velho e sem-vergonha, dizedor de graças.

Sete-Em-Porta

Jogo de cartas, variante do monte. Joga-se com vinte e um ou mais baralhos, em uma caixa da qual o banqueiro tira duas cartas, fazendo-se nestas as apostas. Não ficando reservada ao banqueiro nenhuma carta, a vantagem dele consiste em pagar apenas 50% das apostas quando a carta sai em porta, quer dizer, quando é a primeira a ser tirada, e, além disso, em ganhar, em tal caso, o total apostado na outra carta.

Truco

Jogo de cartas entre dois ou quatro parceiros, cada um dos quais recebe três cartas. Quando é apenas entre duas pessoas chama-se truco de mano.

Bocha

Este jogo consiste em arremessar, desportivamente, bochas (bolas) de madeira ou de resina sintética, sobre uma cancha de terra batida. Numa disputa, entre duas pessoas, visa-se o lugar mais próximo ao "balim" (pequena bocha), concorrido com arremessos de 4 bochas cada jogador e a posterior contagem dos pontos.
Inicia-se a jogada com o arremesso do balim pelo jogador que logrou mais pontos na partida anterior. Cabe-lhe, igualmente, o direito de arremessar a primeira bocha. Quando um está no "ponto" (mais próximo do balim), faz com que seu adversário jogue suas bochas até conseguir lugar mais próximo ou acabe as suas bochas.
O jogo de bocha foi trazido para o Rio Grande do Sul, provavelmente pelos italianos, que têm como seu esporte favorito. O surgimento deste jogo foi na Espanha, onde camponeses espanhóis jogavam com bochas de "pedra-sabão". Posterior aos anos 60, veio a utilização do cerne de madeira, quando o pau-ferro, extremamente duro e pesado, teve o grande domínio das canchas de bochas.
O jogo de bocha não é tão antigo em nossos pampas, porém é de profunda aceitação em todas as regiões. Os italianos levaram-no para todas as suas colonizações. Este jogo não guarda marcas de machismo. Não disputa coragem nem agilidades. Disputa, desportivamente, a firmeza e o tenteio do pulso, no "arrime" ou precisão de um "tiro", no "bochaço". Antigamente eram permitidas as "lagarteadas" - arremesso livre das bochas pelo ar, invés de rolar. Hoje as regras determinam distâncias específicas para as áreas a serem atingidas pelos bochaços.