quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Aos leitores deste blog desejo um 2010, repleto de paz, harmonia e felicidade.
E que continuem adorando e cultuando nossa tradição aonde quer que estejam!!!
Feliz 2010...

domingo, 20 de dezembro de 2009

Gaúcho

Gaúcho é uma denominação dada às pessoas ligadas à atividade pecuária em regiões de ocorrência de campos naturais do Vale do Rio da Prata, entre os quais o bioma denominado pampa, supostamente descendente mestiço de espanhóis e indígenas. As peculiares características do seu modo de vida pastoril teriam forjado uma cultura própria, derivada do amálgama da cultura ibérica e indígena, adaptada ao trabalho executado nas propriedades denominadas estâncias. É assim conhecido no Brasil, enquanto que em países de língua espanhola, como Argentina e Uruguai é chamado de gaucho.
O termo também é correntemente usado como gentílico para denominar os habitantes do estado brasileiro do Rio Grande do Sul.

Existem várias teorias conflitantes sobre a origem do termo "gaúcho". O vocábulo pode ter derivado do quíchua (idioma ameríndio andino) ou de árabe "chaucho" (um tipo de chicote para controlar manadas de animais). Além disso, abundam hipóteses sobre o assunto. O primeiro registro de seu uso se deu por volta de 1816, durante a independência da Argentina, com o qual se denominavam os índios nômades de pele escura, os gaúchos ou "charruas" (dai o chá - chimarrão, infusão de erva-mate verde seca e moída, tomada com água quente em cuia de cabaça ou porongo, sorvida por uma bomba de bambu ou metal), cavaleiros que domavam e cavalgavam "em pelo" os animais selvagens desgarrados das estâncias espanholas, que procriavam nos pampas argentinos.[carece de fontes?]
Segundo Barbosa Lessa, em seu livro Rodeio dos Ventos, publicado pela Editora Mercado Aberto, 2a edição, o primeiro registro da palavra se deu em 1787, quando o matemático português Dr. José de Saldanha participava da comissão demarcadora de limites Brasil-Uruguai. Em uma nota de rodapé do seu relatório de trabalho, o luso teria anotado a expressão usada pelos da terra para referir-se àqueles índios cavaleiros.

O termo originou-se na língua indígena da descrição de pessoas de hábitos nômades, ciganos, moradores em barracas ou tendas, brancos pobres, de miscigenação moura, vinda da Espanha - fugidos que viraram índios ou índios aculturados pelas missões que não possuíam terras e vendiam sua força de trabalho a criadores de gado nas regiões de ocorrência de campos naturais do vale do Rio da Prata, entre os quais o pampa, planície do vale do Rio da Prata e com pequena ocorrência no oeste do estado do Rio Grande do Sul, limitada, a oeste, pela cordilheira dos Andes.
O gentílico "gaúcho" foi aplicado aos habitantes da Província do Rio Grande do Sul na época do Império Brasileiro por motivos políticos, para identificá-los como beligerantes até o final da Guerra Farroupilha, sendo adotado posteriormente pelos próprios habitantes por ocasião da pacificação de Caxias, quando incorporou muitos soldados gaúchos ao Exército ao final do Confronto, sendo Osório um gaúcho que participou da Guerra do Paraguai e é patrono da arma de Cavalaria do Exército Brasileiro, quando valores culturais tomaram outro significado patriótico, os cavaleiros mouros se notabilizaram na Guerra ou Confronto com o Paraguai. Também importante para adoção dessa imagem mítica para representação do Estado do Rio Grande do Sul é a influência do nativismo argentino, que no final do século XIX expressa a construção de um mito fundador da cultura da região.
Na Argentina, o poema épico Martín Fierro, de José Hernández, exemplifica a utilização do elemento gaúcho como o símbolo da tradição nacional da Argentina, em contradição com a opressão simbolizada pela europeização. Martín Fierro, o herói do poema, é um "gaúcho" recrutado a força pelo exército argentino, abandona seu posto e se torna um fugitivo caçado. Esta imagem idealizada do gaúcho livre e altivo é freqüentemente contrastada com aquela dos trabalhadores mestiços das outras regiões do Brasil.
Os gaúchos apreciam mostrar-se como grandes cavaleiros e o cavalo do gaúcho, especialmente o cavalo crioulo, "era tudo o que ele possuía neste mundo". Durante as guerras do século XIX, que ocorreram na região, atualmente conhecida como Cone Sul, as cavalarias de todos os países eram compostas quase que inteiramente por gaúchos.

Rio Grande do Sul

Etimologia:

O nome do estado originou-se de uma série de erros e discordâncias cartográficas, quando se acreditava que a Lagoa dos Patos fosse a foz do Rio Grande, que já era demonstrado em mapas neerlandeses, décadas antes da colonização portuguesa na região. Pelo que se sabe até agora, o primeiro cartógrafo dos Países Baixos a registrar a Lagoa dos Patos, ainda considerada o Rio Grande, foi Frederick de Wit, em seu atlas de 1670. Já o primeiro registro cartográfico feito por um neerlandês a mostrar o suposto rio com um formato próximo ao que é conhecido hoje da referida lagoa foi Nikolaus Visscher, em 1698. Apesar de ele não ter sido o primeiro a mencionar os índios Patos que habitavam suas margens e boa parte do litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, foi ele quem associou o nome à lagoa. Por volta de 1720, açorianos vindos de Laguna vieram à região de São José do Norte buscar o gado cimarrón vindo das missões, possibilitando a posterior fundação da cidade de Rio Grande, no ano de 1737. A partir do nome do município, surgiu também o nome do estado do Rio Grande do Sul.

História:

A história do Rio Grande do Sul, ou seja, a história de sua transformação em território colonizado pelo europeu, abrange um período de cerca de cinco séculos. Remonta aos tempos do descobrimento do Brasil, e transcorreu em meio a diversos conflitos externos e internos. Guilhermino César, porém, dizia que essa história "é um dos capítulos mais recentes da história brasileira", e justificadamente, pois quando no Nordeste já se cantavam missas polifônicas este estado ainda era ocupado por um punhado de povoados e estâncias portuguesas de gado no centro-litoral, e o sul-sudeste era uma "terra de ninguém" onde frequentemente incursionavam tropas espanholas mandadas por Buenos Aires, defendendo os interesses da Coroa Espanhola, o proprietário legal do estado nessa época. Mas principalmente o Rio Grande do Sul até o fim do século XVIII foi uma vasta planície virgem onde se multiplicavam os rebanhos de gado livre, com uma área de mata espessa nas serras do norte, e que era habitado na totalidade por povos indígenas. Os únicos focos de civilização e cultura européias em todo o território até o fim do século XVIII foram os Sete Povos das Missões, um brilhante grupo de reduções jesuítas fundado no noroeste. Entretanto, sendo de criação espanhola, até há pouco tempo as Missões eram vistas como que sendo um capítulo à parte, e tanto mais por não terem deixado descendência cultural direta significativa, mas em anos recentes vêm sendo assimiladas à historiografia integrada do estado.
Desde sua origem o Rio Grande do Sul foi um território conflagrado por contínuas guerras, algumas de grande violência, em parte por ter sido sempre uma fronteira, e por sua ocupação pelos portugueses ter sido ilegal, quando a partilha original da América entre os poderes ibéricos no século XV, através do Tratado de Tordesilhas, deixara o Rio Grande do Sul como posse espanhola. Mas em parte também por dissidências políticas internas.
Na primeira metade do século XIX, após muitos conflitos e tratados, obtendo Portugal a posse definitiva das terras que hoje compõem o estado, expulsos os espanhóis e desmanteladas as reduções, e massacrados ou dispersos os índios, se estabeleceu uma sociedade claramente portuguesa, e uma economia baseada principalmente no charque e no trigo, iniciando um florescimento cultural nos maiores centros do litoral - Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande. Esse crescimento contou com a contribuição de muitos imigrandes alemães e polacos, que desbravaram novas áreas e criaram culturas regionais significativas e economias prósperas, bem como com a força de muitos braços escravos. Em 1835 iniciou um dramático conflito que envolveu os gaúchos numa guerra fratricida, a Revolução Farroupilha, de caráter separatista e republicano. Finda a guerra a soociedade pôde se reestruturar. No final do século o comércio se fortalecia, chegavam imigrantes de outras origens como italianos e judeus, e na virada para o século XX o Rio Grande do Sul havia se tornado a terceira maior economia do Brasil, com uma indústria em ascensão e uma rica classe burguesa. Nessa época o Positivismo delineava o programa de governo, criando uma dinastia de políticos herdeiros de Júlio de Castilhos que governou até os anos 60 e influiu em todo o Brasil, especialmente através de Getúlio Vargas, que em sua origem fora castilhista.

Pré-história:

O perfil geográfico do Rio Grande do Sul foi formado por sucessivas transformações que iniciaram há cerca de 600 milhões de anos atrás. Esse território já foi um mar, já foi um deserto, e em várias regiões aconteceram soterramentos massivos por derrames de lava. Crê-se que somente há dois milhões de anos a geografia se definiu mais ou menos como hoje a conhecemos, quando se fixou a faixa arenosa do litoral. A vida na pré-história do Rio Grande do Sul foi rica em espécies, sendo encontrados muitos fósseis em especial na área da Paleorrota. Há apenas cerca de 11 mil anos iniciou a ocupação humana, com a chegada de grupos de caçadores-coletores vindos do norte, que se instalaram em todos os recantos do estado, formando culturas como a Umbu, a Humaitá, e a Sambaqui. A cultura Taquara alcançou mesmo algum grau de sofisticação, visível na engenharia de abrigos subterrâneos interligados por túneis e revestidos de pedra cimentada com barro, nas plataformas de pedra, e na cerâmica. Outros vestígios desses habitantes foram encontrados na forma de instrumentos de pedra lascada, inscrições rupestres, amuletos, tumbas e ossadas. Essa fase prosseguiu sem mudanças significativas até a chegada de uma segunda onda migratória há dois mil anos, composta por índios guaranis oriundos da Amazônia. Sendo um povo mais forte e mais organizado, submeteram praticamente todos os antigos habitantes, introduzindo também a agricultura e enriquecendo a cerâmica. Quando o Brasil foi descoberto em 1500, quase todos os índios do estado, que somavam de 100 a 150 mil na estimativa dos estudiosos, já eram guaranis ou estavam misturados a eles. Os grupos menos afetados por essa invasão foram os gês do planalto médio, e os charruas e os minuanos, do pampa.

Início da colonização:

O território que hoje constitui o Rio Grande do Sul já constava nos mapas portugueses, sob o nome de Capitania d'El-Rei, desde o século XVI. A despeito do Tratado de Tordesilhas, que definia o fim das terras portuguesas na altura de Laguna, Portugal ansiava por estender seus domínios até a foz do Rio da Prata. No século XVII bandeirantes de São Paulo já percorriam a área em busca de tesouros e para escravizar os índios. Nesse espírito, ignorando os tratados, em 17 de julho de 1676, através de Carta Régia, Portugal delimitou duas capitanias no sul, que em conjunto se estendiam de Laguna até o Rio da Prata, doadas ao Visconde de Asseca e a João Correia de Sá .
Em 22 de novembro de 1676 a bula papal Romani Pontificis Pastoralis Solicitudo veio fortalecer as pretensões portuguesas, pois ao criar o bispado do Rio de Janeiro, estabelecia como seus limites desde a costa e sertão da Capitania do Espírito Santo até o Rio da Prata. Logo em seguida a Coroa Portuguesa passou a cogitar seriamente na ocupação das terras do sul, legalmente espanholas.

Ocupação do litoral:

Uma primeira expedição de conquista, organizada em 1677, malogrou. Outra, de 1680, sob comando de Dom Manuel Lobo, conseguiu tocar o Prata em janeiro do ano seguinte, fundando a Colônia do Sacramento, com um presídio e os primeiros abrigos para os colonos. A Espanha, nesta altura fragilizada por guerras contra a França, apesar de atacar a Colônia, não esboçou uma reação mais séria à expansão portuguesa, e em 1681 estabeleceu-se o Tratado Provisional, delimitando novas fronteiras na região e reconhecendo a soberania portuguesa sobre a margem esquerda do Rio da Prata.
Com o incentivo do estabelecimento deste posto avançado, os portugueses passaram a se interessar pela ocupação das terras intermediárias entre o Sacramento e a Capitania de São Vicente. Em 1737 uma expedição militar portuguesa, comandada pelo Brigadeiro José da Silva Pais, foi incumbida de prestar socorro à Colônia, tomar Montevidéu e levantar um forte em Maldonado. Fracassada esta última empresa, o Brigadeiro decidiu instalar uma povoação mais ao norte, livre das constantes disputas entre portugueses e espanhóis. Destarte, navegou até a barra da Lagoa dos Patos, erroneamente tomada como um rio, o Rio Grande, e ali chegando em 19 de fevereiro de 1738, fundou um presídio e ergueu o Forte Jesus, Maria e José, constituindo a origem da cidade de Rio Grande, primeiro centro de governo da região. O local era um ponto estratégico para a defesa do território, estando a meio caminho entre Laguna e a Colônia do Sacramento. As primeiras famílias colonizadoras chegariam ali ainda neste ano, mas o trecho entre Rio Grande e Tramandaí também estava sendo povoado independentemente, situação facilitada pela extensão da Estrada Real pelos tropeiros até os Campos de Viamão, sendo que já em 1734 se contavam 27 grandes estâncias de gado na área e os estancieiros começavam a solicitar a concessão de sesmarias.

Primeira penetração no interior:

Em 1742, os portugueses fundaram a povoação que, depois de Viamão, viria a ser a capital do estado: Porto Alegre. No final desta década começaram a chegar casais açorianos com destino a Rio Grande. Grupos maiores chegaram em 1752, também fixando-se no local, e outros avançaram para o norte, estabelecendo-se no Porto dos Casais, reunindo-se à escassa população que ali já vivia. Em 9 de setembro de 1760 o Rio Grande de São Pedro foi elevado a Capitania, ficando porém subalterna à Capitania do Rio de Janeiro.
Entrementes, na parte noroeste do estado, os jesuítas espanhóis, ligados à Província Jesuítica do Paraguai, haviam estabelecido desde 1626 aldeamentos muito organizados reunindo grande população indígena (cerca de 40 mil pessoas), as reduções ou missões, próximas ao Rio Uruguai, formando a região dos Sete Povos das Missões, cujo extraordinário florescimento incluía refinadas expressões de arte nos moldes europeus. Os padres construíram uma civilização à parte dos conflitos que agitavam o litoral, e deixaram muitos registros sobre os povos indígenas, a geografia, a fauna e a flora da região, mas sua contribuição direta para a história do estado foi a introdução do gado e o desenvolvimento de técnicas de pastoreio que mais tarde seriam assimiladas pelos portugueses. Mas um novo acordo entre as coroas ibéricas, o Tratado de Madrid, haveria de mudar mais uma vez as fronteiras. Através deste tratado, firmado em 13 de janeiro de 1750, estabeleceu-se a permuta da Colônia do Sacramento pelos Sete Povos, cujas populações indígenas seriam transferidas para a área espanhola .
A demarcação das novas fronteiras e a mudança dos povos aldeados não transcorreram sem dificuldades. Os jesuítas e os índios protestaram, esperava-se confronto, e o Marquês de Pombal ordenou que o legado português, o capitão-general Gomes Freire de Andrade, não entregasse Sacramento sem que antes tivesse recebido os Sete Povos. A situação se agravou e o conflito esperado eclodiu em Rio Pardo, originando a chamada Guerra Guaranítica, que provocaria a suspensão temporária dos efeitos do Tratado de Madrid e sua posterior anulação definitiva em 1761. Um outro tratado, o de Santo Ildefonso, de 1777, mais uma vez retificaria as fronteiras e estabeleceria desta vez como posse espanhola tanto Sacramento como os Sete Povos.

Século XIX:

Contudo nem este tratado seria respeitado, e as lutas pela posse das terras, entre portugueses e espanhóis, tiveram fim somente em 1801, quando os gaúchos dominaram os Sete Povos, incorporando-os ao seu território. Em 19 de setembro de 1807, a Capitania foi elevada a Capitania Geral.
Depois da Guerra contra Artigas, da Guerra Cisplatina e da Revolução Farroupilha, estabelecidas em linhas gerais as fronteiras e conquistada maior autonomia administrativa, o governo local passou a cuidar do povoamento e desenvolvimento da região, buscando também sedimentar as fronteiras. Grupos de imigrantes alemães começaram a chegar a partir de 1824 e de imigrantes italianos após 1875, ocupando respectivamente o centro-leste e o nordeste do estado, e contribuindo de forma decisiva para o futuro progresso do Rio Grande do Sul.
O Rio Grande do Sul, em meados de 1880, apresentava uma economia de caráter fundamentalmente agropecuário, dividida em duas matrizes sócio-econômicas: a atividade ligada à pecuária e ao charque na região da Campanha (sul do estado) e a agricultura e o artesanato colonial na Serra (norte do estado). Contudo, a produção de ambas matrizes dirigia-se para um destino comum: abastecer o mercado interno brasileiro de alimentos, dando ao Rio Grande do Sul a famosa denominação de “celeiro do Brasil”.
O estado estava integrado assim em uma divisão regional do trabalho do Brasil: como estado periférico, produzia alimentos e matérias-primas (como o couro) para a atividade agroexportadora no Brasil central. Como o estado produzia bens de baixo valor em um mercado altamente competitivo, a acumulação de capital era relativamente mais baixa no Rio Grande do que no resto do Brasil.
Contudo, o setor mais progressista da economia rio-grandense daquela época já se tornava a agricultura colonial, a qual apresentava um grande potencial de capitalização, incentivando assim o desenvolvimento das atividades comerciais e industriais no estado.

Século XX:

A economia gaúcha na República Velha não apresentou uma brusca ruptura em relação às suas características no período do Império. Isto é, o Rio Grande do Sul continuou inserido na divisão regional do trabalho, na economia brasileira: se encarregava primordialmente de abastecer o mercado interno nacional, com especial atenção à região agroexportadora cafeeira, de bens de base primária, como o charque, produtos agrícolas coloniais e o couro, usados como alimentos e matérias-primas.
Porém, o crescimento econômico estadual enfrentava barreiras muito restritivas nessa época: do lado da pecuária, por essa atividade ter sido explorada de maneira meramente extensiva, o crescimento era limitado pela expansão de apenas dois fatores – terra e gado – os quais, por serem mas específicos do que fatores produtivos como capital e mão-de-obra, eram relativamente mais escassos. Do lado da agricultura, mas afetando também a pecuária, o crescimento da produção rio-grandense estava vinculado à expansão da demanda interna brasileira por bens primários, sendo por isso limitado às necessidades do mercado interno brasileiro.

Guerras:

O estado esteve, de forma praticamente contínua, envolvido em guerras por mais de um século, primeiro contra a Espanha, depois contra os vizinhos Argentina, Uruguai e Paraguai, aos mesmo tempo que se desenvolviam várias revoltas internas.
Começada na Guerra Guaranítica, a lutas pela posse das terras, entre portugueses e espanhóis, teve fim em 1801, quando conquistado os Sete Povos das Missões. Depois houve a Guerra contra Artigas (1816-1820), quando a República Oriental foi conquistada. Seguida da Guerra Cisplatina (1825–1828) quando o Uruguai obteve sua independência.
A primeira revolta federalista foi a Guerra dos Farrapos (1835-1845). Logo seguida de outro conflito com os vizinhos argentinos e uruguaios, na Guerra contra Oribe e Rosas (1851-1852), depois a Guerra contra Aguirre (1864), desembocando na Guerra do Paraguai (1864-1870).
Depois da estabilização internacional, houve ainda um conflito religioso, a Revolta dos Muckers e após quase duas décadas de paz, as disputas políticas locais novamente se acirraram, no início da República, com a Revolução Federalista, contra Júlio Prates de Castilhos (1893-1895) e a Revolução de 1923, contra Borges de Medeiros. Somente no governo de Getúlio Vargas (1928) o estado foi pacificado.

Artesanato

HISTÓRIA DO BORDADO

Bordado é uma forma de criar a mão ou a máquina desenhos e figuras ornamentais em um tecido, utilizando para este fim diversos tipos de ferramentas como agulhas, fios de algodão, de seda, de lã, de linho, de metal etc., de maneira que os fios utilizados formem o desenho desejado.

Os registros históricos do ponto cruz coincidem com a pré-história. No tempo das cavernas, servia para costurar as vestimentas, feitas de pele de animal. Usavam agulha de osso e no lugar de linhas, tripas de animais ou fibras vegetais. Fragmentos de linho datados de 5000 a.C., retirados de túmulos egípcios em escavações arqueológicas, revelaram que o ponto cruz era usado para cerzir peças de tecido. Na antiguidade, os romanos descreviam o bordado como "a pintura de uma agulha “, mas foram os babilônicos que batizaram esta técnica. Existem controvérsias sobre a origem do ponto cruz , da forma como é utilizada hoje. Alguns acreditam que ela tenha surgido na China, espalhando-se pela Europa, Ásia e Estados Unidos, principalmente pela Inglaterra. Em 1500, começam a circular os primeiros diagramas impressos, vindo sobretudo, da Alemanha e Itália, com motivos de flores e animais, figuras heráldicas e religiosas, cheias de símbolos como cruzes, cálices e pombas. No ano de 1600, chegam os novos corantes vindos da América, econômicos e fáceis de usar, permitindo tingir de vermelho os fios, o que proporcionou os bordados em vermelho com fundo branco, que se tornaram muito populares. Desenhar as proprias iniciais com fio e agulha foi seguramente para muitas mulheres a primeira forma de escrita. Não somente se bordava nos conventos, como também nos salões .O ponto cruz e o bordado em geral passaram de um aprendizado obrigatório na escola, a um passatempo da moda, sendo um sinal de distinção tipicamente feminina. A mulher firmava sua posição, decorando cada canto de sua casa, toalhas, tapetes, cortinas, etc.
Foi em meio a uma "epidemia" de ponto cruz, feito por pessoas das mais diversas posições sociais, no século XVIII, que surgiram os mostruários: uma forma de facilitar a escolha dos motivos das cores.

Desde a Idade Média até os dias atuais o prestígio do ponto cruz nunca diminuiu. Os motivos ganharam novas inspirações e muita vitalidade, levando os trabalhos às possibilidades de enriquecer a decoração, dar ares a criatividade e também valorizar a habilidade manual.

A técnica para fazer o ponto cruz é simples e proporciona uma atividade relaxante, que não sobrecarrega a mente. Enquanto trabalhamos com o ponto cruz podemos ouvir música, conversar, e sempre retomar o trabalho interrompido do ponto em que paramos.


Couro

A cultura popular caracteriza-se por diversos aspectos, geralmente ignorados pela classe erudita, todos eles fundamentados na tradição do povo. Representa as manifestações naturais de um grupo social, cultuadas através de gerações de maneira espontânea, sem a influência de escolas ou de igrejas, transmissíveis no tempo pela oralidade e que caracterizam esse povo pelas marcas de seus usos e costumes que revelam.

Nos primórdios da vida do Rio Grande do Sul, no aspecto sócio-econômico, foi o couro, sem dúvida, a mercadoria que por primeiro foi exportada, juntamente com o sebo e os cabelos dos animais abatidos.

Usando-o bruto a princípio, e curtido mais tarde, os primeiros povoadores puderam dar asas à sua imaginação, após satisfeita a necessidade de alimentação, buscando atender ao binômio morada e trabalho, fazendo uso do único artigo então à sua mão - o couro.

Tradicionalmente, o artesanato do Rio Grande do Sul, sempre foi um dos mais expressivos no contexto do país, quer por sua riqueza de detalhes, sua expressividade e, principalmente, por transmitir de geração para geração as tradições mais caras do Estado.

O artesanato não é apenas uma forma de extravasamento de uma arte, mas também um meio de vida para muitas famílias gaúchas.

À medida que vamos estudando a maneira de viver da incipiente comunidade, seu "habitat", suas potencialidades, material de que dispunha, seu comércio, enfim todas as suas necessidades, verificamos que o gaúcho encontrou no couro, a matéria-prima de que necessitava. Em suas mãos, transformou-se em material mágico, dada a sua serventia para tudo. Foi mesmo "pau para toda obra".

Preparado, dividido e subdividido conforme as necessidades, o couro substituía o ferro, o zinco, a madeira, os tecidos, os pregos, os parafusos, as molas, as cordas, etc, pela inexistência desses materiais e implementos nos confins onde moravam. E com as seguintes vantagens: facilidade de aquisição e de preparo.

O couro, tanto de gado vacum, como de muar a cavalar, recebeu no Rio Grande do Sul, aplicações desconhecidas em outras partes do país.
Devido às precariedades de vida, utilizava-se os instrumentos e locais que eram de seu alcance para curtir e confeccionar suas utilidades.

Como oficina, a imensidão dos campos, a sombra de uma ramada, ou um singelo e rústico galpão.
Como ferramenta, apenas uma faca bem afiada e uma chaira ou uma pedra-de-amolar.

A mesa de trabalho primitiva era o tronco de uma árvore, o próprio solo, ou a parede do seu rancho, ou ainda, um palanque fincado no chão.
Os artesanatos foram aos poucos se transformando em indústrias. Com a industrialização as relações do trabalho mudaram, o artesão que domina a totalidade da técnica sobre o bem produzido, vai ser substituído pelo especialista na industria, obedecendo as leis do mercado trazendo custos sociais como o desemprego e a insolvência do artesão tradicional.

O setor de artesanato, outrora florescente, limita-se hoje a pequenas oficinas que empregam métodos tradicionais de trabalho. É o caso do couro, das selarias, dos trajes gaúchos, das peças para montaria, etc.