segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Indumentária

Os Trajes Indígenas

Ora, o homem que veio fazer a América e que naturalmente se vestia à européia, aqui chegou e encontrou, nos campos, índios missioneiros (tapes, gês-guaranizados) que constituíram a matéria-prima trabalhadora pelos padres jesuítas nos Sete Povos das missões, e índios cavaleiros (Mbaias: charruas, minuanos, yaros etc ...) estes assim chamados porque prontamente se adoraram do cavalo trazido pelo branco, desenvolvendo uma surpreendente técnica de amestramento e equitação. Os missioneiros vestiam, à época conforme a severa moral jesuíta. Desde logo passaram a usar os calções europeus e em seguida a camisa, introduzida nas missões com grande sucesso pelo Padre Anton Sepp. Mas os homens usavam ainda uma peça de indumentária não européia proximamente indígena – “el poncho”, isto é pala-bichará. Com efeito, tratava-se de um grande retângulo formado de dois panos de tecidos de lã, incompletamente costurados, deixando uma abertura no centro, por onde enfiava a cabeça.

Indumentária do Índio e índia

Essa peça de indumentária não existia no Rio Grande do Sul antes da chegada do branco, pois os nossos índios pré-missioneiros não teciam nem fiavam. Também é importante assinalar que os padres descobriram cedo a atração que as vestes religiosas e as fardas militares exerciam sobre os índios e distribuíram largamente essas roupas entre os missioneiros. Assim, figurar o Alferes Real José Tiarayu, o Sepé, desnudo ou vestindo chiripá, é erro grosseiro. Ele usaria a farda correspondente ao seu alto grau militar, ou estão se vestia civilmente, com bragas, camisa e poncho.

A mulher missioneira usava comumente o “tipoy”, longo vestido formado por dois panos costurados entre si, deixando apenas sem costurar duas aberturas para os braços e uma para o pescoço. Na cintura, era apertado por uma espécie de cordão, chamado “chumbé”. O “tipoy” era feito de algodão, branquicento, mas sem seguida se tornava avermelhado, com o pó das Missões. Em ocasiões festivas, a índia gostava de luzir um alvo “tipoy” de linho de algodão, do diário. Só nas vestes religiosas – sobretudo nas procissões – as missioneiras trajavam mantos de cores dramáticas, como o roxo e o negro.

Os chamados índios cavaleiros – seis parcialidades distintas e até inimigas entre si, mas com os mesmos caracteres gerais – usavam duas peças de indumentária foi-nos deixada por D. José de Saldanha, que entrevistou os cinco mais importantes caciques minuanos (Batu, Maulein, Salteinho, tajuy e D. Miguel de Caray) em 1787, na fronteira oeste do estado. O chiripá era, então uma espécie de saia, constituída por um retângulo de pano enrolado da cintura até os joelhos. O cayapi dos minuanos era, a essa época, um couro de boi, inteiro e bem sovado, que se usava às costas, como manto ou capa, com o pelo para dentro e carnal para fora, pintado com listas verticais e horizontais, em cinza e ocre. À noite, servia de cama, estirado no chão.

A mulher, entre os índios cavaleiros, usava apenas o chiripá, já descrito em forma de saia, deixando o torso desnudo. Ao rosto, pintura ritual de passagem, assinalando a entrada na puberdade: Três riscas que desciam da testa ao raiz e duas listas horizontais cortando-as. Ao Pescoço, colares de contas ou dentes de feras.



.:: Traje Gaúcho - 1750 / 1820

Então, de peças da indumentária ibérica, de peças da indumentária indígena e de outras tantas peças de sua própria invenção, o gaúcho do RS foi constituindo sua própria indumentária. O homem que empreitava as grandes arreadas de gado e as comandava pessoalmente, verdadeiro senhor de baraço e cutelo de suas gentes e primeiro caudilho rio-grandense, tinha mais dinheiro e se vestia melhor que os de mias. Foi ele também o primeiro estancieiro, fixando seus gados em rincões naturais e marcando e assinalando a sua fazenda. Trajava basicamente à européia, mas aos poucos foi introduzindo aportes ameríndios e próprios ao complexo de sua indumentária. Passou a usar também a bota de garrão de potro, invenção gauchesca típica. Igualmente o cinturão-guaiaca (“guaiaca” = bolsa, em quíchua), o lenço de pescoço, o pala indígena, a tira de pano prendendo os cabelos, o chapéu de pança de burro etc...
Patrão das Vacarias e Estancieira Gaúcha

Um bom retrato desse homem foi pintado pelo francês Jean Baptiste Debret, provavelmente sobre informações recebidas de São Borja, onde o grande artista não esteve. A mulher deste rico estancieiro, a qual também foi pintada por Debret, usava botinas fechadas, meias brancas ou de cor, longos vestidos de seda ou veludo, mantilha, xale ou sobrepeliz, grande travessa prendendo os cabelos e o infaltável leque.Pois bem: os tradicionalistas quando pretendem reeditar esta indumentária, costumam cometer vários erros. O mais primário de todos é imaginar que mulher de travessa e mantilha tem que ser castelhana, ignorando que tais peças são tão espanholas como portuguesas. Depois, juntam ao traje dessa época, jóias e relógios modernos em anacronismo gritante. Ademais, por comodismo, criaram para traje masculino uma esdrúxula peça única, híbrida de bragas e ceroulas de crivo: fazem umas bragas, até os joelhos e daí para baixo costuram um palmo de perna de ceroulas, ao invés de usarem as bragas por cima das ceroulas de crivo. Com o truque empregado o resultado perde a aparência de bragas sobre ceroulas, porque a peça assim resultante não se estreita nos joelhos, como as bragas autênticas, que são amarradas à perna. E mesmo quando pretendem usar bragas sobre ceroulas, desconhecem as verdadeiras dimensões da peça, fazendo bragas ridiculamente curtas, a meia-coxa. Também costumam colocar à cintura umas estranhas faixas coloridas, com uma ponta pendente que nada tem haver com a tradição gaúcha. Ou ainda descuram de usar o jaleco e a jaqueta, ou o chapéu da época desse traje, com copa alta e abas curtas. E esquecem o pala. Ou usam à cintura guaiacas castelhanas, retovadas de moedas e “botones”, com vistosas “rastras” bem à frente.

Mas o pior de tudo é o colorido carnavalesco que empregam na feitura das bragas e da jaqueta, afeminando um tipo humano que foi sempre muito másculo até no seu ingênuo narcisismo, fruto da necessidade primitiva de se luzir entre seus pares. Aliás, não é por acaso que entre os gaúchos o homem tem aparência mais bizarra que a mulher, como o galo dono do terreiro, de chapéu tapeado, pala atirado para trás e tinindo as esporas... Mas daí a usar bragas amarelo-canário, violeta, bordô. Grená e rosa-choque, vai um abismo de distância. Em roupa gauchesca, como em tudo, discreção e comedimento antes de mais nada. O peão de vacarias, saído de tudo aquilo que sobrava, em termos humanos, da incipiente organização urbana da época – desertores do exército e da marinha, foragidos da justiça, renegados das tolderias trânsfugas missioneiros, brancos índios, negros e mestiços de toda a laia – não devota maiores cuidados às roupas. Seu traje se destinava a proteger o usuário e a não atrapalhar sua atividade precípua – cavalgar e caçar o gado. Freqüentemente, este gaúcho só usava dois palas: um enrolado como saia, da cintura aos joelhos, e o outro enfiado pela cabeça.
Peão das Vacarias e China das Vacarias

As demais peça dependiam ou de engenho pessoal ou de dinheiro. As botas mais comuns eram as de garrão, que o próprio gaúcho sacava de vacas, burros e éguas raramente do potro que lhes deu o nome. Essas botas eram lonqueadas, ou perdiam o pêlo com o uso. Mas às vezes o pelo era resguardado e até mesmo se matavam mais de um animal para conseguir um par de botas manchadas, iguais. Em uso, as botas de garrão não duravam mais de dois meses.Normalmente, eram feitas com couro das pernas traseiras do animal, que dão botas maiores. Aquelas tiradas das patas dianteiras muitas vezes eram cortadas na ponta e no calcanhar, ficando o usuário com os dedos e o calcanhar de fora. Acima da barriga da perna, o homem ajustava essas botas, por meio de tentos, ou tranças. E houve também chamadas “botas-de-gato”, mais raras, feitas com o couro de gato-do-mato ou jaguatirica, tirando inteiro, com cabeça e tudo. Os dedos do pé do homem apareciam pela boca do bicho. Claro está que houve muito peão usando botas fortes, de sapateiro, por pacholice ou ostentação, mas tais casos foram compreensivelmente raros.

Quanto às rosetas, as esporas mais comuns eram as nazarenas e as chilenas, as primeiras proximamente européias, e as segundas americanas. As nazarenas devem o nome aos seus espinhos pontudos que lembram os cravos que martirizaram Nosso Senhor. E as hipertrofiadas chilenas devem o nome a semelhança com as tilintastes esporas do “huaso” do Chile. E aos poucos os ferreiros que montavam suas forjas por aqui começaram a criar novos tipos de esporas com garfos enormes, que chegavam quase aos dedos do pé.O peão das vacarias, por pobre e desinteressado, não era de muito luxo. Só usava ceroulas de crivo nas aglomerações urbanas. No mais, andava de pernas nuas, como os índios. Seu chiripá já foi descrito: tinha a forma de saia e era meio aberto à frente, para facilitar a equitação e mesmo o caminhar do homem. Em pouco tempo esse chiripá assumia uma cor indistinta, de múgria – cor de esfregão. À cintura, faixa larga, negra, ou cinturão de bolsas, tipo guaiaca, adaptado para levar moedas, palhas e fumo e mais tarde cédulas, relógio e até pistola. Aliás, ainda hoje, a bolsa com tirante a meia-espalda, que os leiteiros costumam usar na fronteira-oeste, é chamada “guaiaca”.Ainda à cintura, as infaltáveis armas desse homem: as boleadeiras, a faca flamenga ou adaga e, mais raramente, o facão. Este era tão usado nos arreios que ganhou, por vezes, o nome de “facão caroneiro”. E sempre à mão a lança – de peleia ou de trabalho. Esta última ostentava uma lâmina em forma de meia-lua e se chamava “desjarretador” ou “garrocha”. Em ocasiões especiais o homem usava dois e mais pares de boleadeiras, à cintura e nos arreios.Camisa, quando o peão contava com uma, era de algodão branco ou riscado, sem botões, apenas com cadarços nos punhos, com gola imensa e mangas largas. Pala, não faltava, comumente, o de lã chamado “bichará” – em cores naturais, e mais raramente o de algodão e o de seda, que aos poucos vão aparecendo. Logo também surge o poncho, redondo, de cor azul e forrado de baeta encarnada, provavelmente a partir das capas militares da época.Embora os nomes “pala” e “poncho” se confundam com freqüência, usados um e outro para a mesma peça de indumentária, o certo é que o primeiro é proximamente indígena e o segundo inteiramente gauchesco, isto é, não veio da Europa nem da América indígena. E hoje os gaúchos rio-grandenses fazem perfeita distinção entre pala, poncho, bichará, pala-poncho e capa. Senão, veja-se:

Pala: de lã ou algodão, quando protege contra o frio, ou de seda, quando protege contra o calor. É sempre retangular, com franjas nos quatro lados. Freqüentemente ostenta listas retas, paralelas aos lados maiores do retângulo. A gola do pala é um simples talho, por onde o homem enfia o pescoço.Poncho: de lã grossa, invariavelmente. Quase sempre é azul escuro, forrado de baeta colorada, mas existem também ponchos negros, com forro de baeta amarelada com xadrez vede e ainda ponchos de cor cinza, com forro de baeta encarnada. O poncho tem a forma circular ou ovalada. Como o pala, é produzido pela indústria. O poncho só protege contra o frio e a chuva. Não tem franjas, nem listas. A gola é alta, abotoada e há um peitilho na frente do poncho. A propósito, cumpre assinalar e presença de ponchos de borracha e, mais recentemente, de napa ou plástico, entre nós.Bichará: é um pala feito em teares manuais, de tecelagem folclórica, com a lã natural de ovelha, quase sempre nas cores naturais dessa lã. Raramente com cores químicas. O bichará é feito de dois panos, tecidos um de cada vez, e que fora do tear são costurados um ao outro deixando apenas uma abertura ao centro para a cabeça do homem. Ultimamente surgiram bicharás com gola de poncho, em lã e até de peles. O bichará só protege contra o frio.Pala-poncho: também chamado de poncho-pala, é um pala maior, de lã industrializada, de forma semi-retangular com os cantos levemente arredondados, e com franjas ao redor. O pala-poncho também só protege contra o frio. Não se trata de invenção moderna, pois já existia no fim do século passado.Capa: dos dois grandes abrigos usados pelo homem em todas as culturas conhecidas, um tem um talho no meio, por onde o portador enfia a cabeça (o pala) e o outro o homem simplesmente enrola em torno de si (o manto). A capa se filia à corrente dos mantos e entre nós foi introduzida, ao que consta, no começo do século vinte, a partir da famosa capa espanhola, militar ou coimbrã. A nossa capa campeira, também chamada colonial, sempre é de lã escura, forrada só até o meio por baeta chara, aberta em toda a frente, onde tem botões de cima abaixo, e tendo nos dois lódãos aberturas com um botão por onde o homem pode tirar os braços. A capa tem gola como o poncho, que poder ser levantada para proteger as orelhas. É sempre de confecção industrial e protege contra o frio e contra a chuva. A cor mais comum nas capas é o negro, mas há capas colegiais em azul escuro e até em cor marrom. Mas voltando ao peão das vacarias: à cabeça, a fita dos índios prendendo os cabelos que os platinos chama “vincha”, palavra estranha ao nosso linguajar, e que os modernos “hippies” chamam “fita apache”, e também o lenço Omo touca, atado à nuca. Chapéu, quando usava, era de palha (mais comum), de feltro (mais raro) e talvez o de couro cru, chamado de “pança de burro”, feito com um retalho circular do couro da barriga do muar, moldado na cabeça de um palanque. Não se conhecem, ainda, documentos a respeito do uso do chapéu de pança-de-burro entre os gaúchos rio-grandenses, mas é presumível tenha sido usado tanto na Banda Oriental como Rio Grande, face os costumes comuns da época.O chapéu, qualquer que fosse o feitio, era preso com barbicacho sob o queixo ou nariz. Esse barbicacho era normalmente traçado em delicados tentos de couro cru, tirados de lonca ou então eram simples cordões de seda, torcidas, terminando em borda que caía para o lado direito. Mais raramente, de sola e fivela. Ainda nessa época aparece o “cingidor”, que foi como Nicolau Dreys chamou o nosso tirador. A mulher desse homem como é natural supor, vestia pobremente: nada mais que uma saia comprida, rodada, e uma blusa. A saia era sempre de cor pesada, tendendo para o escuro, e a blusa ou era branca ou esbranquiçada com uso. Pés e pernas descobertas, o mais das vezes. Branca, mestiça ou índia, a mulher era raridade nas vacarias e nos rancheiros, muitas vezes disputada de adaga na mão. Não precisava se enfeitar muito para ser pretendida... Por baixo da sai, as calças femininas da época, tipo bombanchinhas.Como os trajes mais ricos, esses foram usados desde o nascer do gaúcho até 1820, aproximadamente. Deles ficaram para nós descrições preciosas de Nicolau Drys e Saint Hilaire e pinturas de Debret. No Uruguai, Emeric Vidal e Juan Manuel Blanes deixaram belas aquarelas e óleos documentando essa época. Os erros mais comuns, cometidos pelos tradicionalistas contra essa indumentária, dizem respeito, como sempre, às cores aberrantes, sobretudo no chiripá, que foi a essa época uma sofrida peça destinada a mal cobrir as vergonhas do homem e que agora aparece em verde-exorcista, grená-hemptise e quejandos. Ademais, esse chiripá, que era uma saia enrolada da cintura aos joelhos, com abertura de cima abaixo, bem na frente, começa agora a ser usado com a abertura ao lado, o que lhe dá uma aparência "hippie”. E seu tamanho foi reduzido a um mínimo, transformando em autêntico tapa-rabo de luxo. Mas não param aí, os erros. Os tradicionalistas, desinformados e ingênuos, e as “vedettes” do tradicionalismo, colocam à cintura uma faixa branca, mais enfeitada que pilcha de castelhano, com larga ponta pendente. Pala não gostam de usar, para ficarem bem soltos... Se o chapéu de palha simplesmente não aparece, que dirá do pança-de-burro?E volta a aparecer a importuna “rastra” castelhana, que os narcisos crioulos adoram tanto a ponto de inventar uma “rastra” de couro trançado!A bota de garrão de potro, ideal para completar esse traje, quando aparece entre os tradicionalistas... é com as bombachas!


.:: Traje Gaúcho - 1820 / 1965

O período histórico dominado por um novo tipo de chiripá que substitui o anterior de forma de saia. Este obviamente não era adequado à equitação, mas sim a típica indumentária do pedestre, feita para o homem que anda a pé. Já o novo chiripá, em forma de grande fralda passada por entre as pernas, adapta-se bem no ato de cavalgar e essa é certamente a explicação para o seu aparecimento entre os gaúchos de três pátrias (Brasil – Uruguai – Argentina). Assim, fique desde já claro que o chiripá primitivo, o de saia, era indígena. Já o novo chiripá, de fralda, é inteiramente gauchesco. É um traje essencialmente funcional, nem muito curto nem muito comprido, tendo o joelho por limite, ao cobri-lo. As esporas do complexo da indumentária dominada pelo chiripá que chamamos “farroupilha”, não só para diferencia-lo do anterior mas porque foi a peça mais usada pelos farrapos (1835/1845), são as chinelas.

Gaúcho Farroupilha e Mulher Gaúcha

As nazarenas e os novos tipos inventados pelos ferreiros da campanha. As botas são ainda a bota forte, comum, a bota russilhona e a bota de garrão, inteira ou de meio-pé. As longas ceroulas são enfiadas no cano da bota ou, quando por fora, mostram nas extremidades cirvos, rendas e franjas. À cintura, faixa preta e guaiaca, de uma ou duas fivelas. Camisa sem botões, de gola e mangas largas. Jaleco, de lã ou mesmo veludo, e às vezes a jaqueta, com gola e manga de casaco, terminando na cintura, fechada à frente por grandes botões ou moedas. Ao pescoço, lenço de seda, já nas cores mais populares – o branco e o vermelho. Mas muitas vezes em outras cores e com padronagem enxadrezada. Em caso de luto – preto. Com luto aliviado, preto com “petit-pois”, carijó ou xadrez de preto e branco. Mas isso em caso de luto. Aos ombros, pala, bichará ou poncho. À cabeça, a fita dos índios ou o lenço amarrado à pirata e, se for o caso, chapéu de feltro com aba rasteira e copa alta, ou chapéu de palha, sempre presos por barbicacho. Os cabelos do gaúcho, durante muito tempo, foram compridos, tipo índio. Havia quem os trançasse atando as pontas com fitas, o mesmo que as chinas. Até na Guerra do Paraguai (1865/1870) aparece gaúcho de trança e a única fotografia de um gaúcho autentico usando chiripá, no começo deste século, em poder do autos destas notas, mostra o homem com duas pequenas tranças laterais na comprida melena moura.

A mulher nesta época (1820/1870) popularizou um tipo de indumentária na base da saia e do casaquinho, este com discretos enfeites de rendas. As pernas femininas sempre cobertas por meias salvo na intimidade do lar – e o cabelo solto ou trançado para as moças, e preso, em coque, para as senhoras. Sapatos fechados e discretos. Jóias? Um simples camafeu, ou broche, fechando a gola do casaquinho. Ao pescoço, muitas vezes, o fichú, pequeno triângulo de seda, crochê, etc., com as pontas cruzadas fechadas por um broche. Mais rico ou mais pobre, esse foi o traje padrão da mulher do Rio Grande do Sul nessa época. Simples, não é? Para os tradicionalistas desavisados não o entendem assim. No traje masculino, transformam a sóbria ceroula de crivo em festival de rendas e campânulas que fariam corar de inveja uma rumbeira cubana. Sabendo que no passado alguns gaúchos usavam ceroulas de crivo, uma sobre a outra, gostam de costurar dois rendados – e até mais! – nas extremidades dessa peça e ainda alargam desmesuradamente a boca das ceroulas para que as rendas se sacudam bastante na hora de dançar... E o chiripá farroupilha? Coitado, foi debruado em seda multicolorida – até com as cores do Rio Grande – e bordado de florezinhas multicolores. E encurtado até parecer uma tanga. Ou então, colocado de viés, para afunilar bem nas penas. Claro, nós sabemos que os “compadritos” periféricos de Montevidéu usaram até chalé de china como chiripá, e que os paraguaios de Estigarribia – descritos pelo Conde d’Eu – saquearam as residências familiares em Uruguaiana e transformaram em chiripá o chale das senhoras uruguaienses. E também que os Podestá, no circo, e Carlos Gardel, no palco, coloriram o chiripá dos “compadritos” para efeitos cênicos. Mas o tradicionalista não têm esse direito. Por definição, ele deve ser o guardião da pureza daquilo que é tradicional entre nós. E o chiripá tradicional era de merino, ou então feito de um pala. No mais. Discreto e maculo.Também na composição deste traje estão aparecendo as coloridas faixas argentinas e os “tiradores’ com "rastra”... e até relógio de pulso, em anacronismo absurdo. E as cores continuam o festival carnavalesco. Imagine-se o que pensaria um gaúcho farroupilha verdadeiro ao ver essa autentica caricatura!Na mulher, os erros mais comuns são a pintura exagerada, as bugigangas baratas que fazem o papel de jóias, o relógio, a pulseira, o sapato moderninho, as pernas nuas e um comportamento freqüentemente estouvado e espalhafatoso, contrastando com o recato da verdadeira mulher gaúcha, sem prejuízo da sua graça natural.



.:: Traje Gaúcho - 1965 até hoje

Coincidindo em traços gerais com a Guerra do Paraguai surge no pampa uma peça de indumentária: os “calções bombachos”, as “calças bombachas” ou simplesmente as “bombachas”. No Uruguai, onde aparecem antes, são também chamados “calzones chinos”, porque tudo que fosse do Oriente, para os castelhanos era chinês. Foram provavelmente os comerciantes ingleses que introduziram essas calças fofas em Montevidéu, sobras de guerras coloniais onde o inglês copiava livremente o traje dos povos conquistados. No caso a bombacha era turca, em sua origem, e não árabe ao contrário do que supôs Manoelito de Ornellas. Aliás, se fosse beduída, a bombacha teria aparecido já com o nascimento do gaúcho, e não um século mais tarde. No RS, a bombacha toma conta da campanha em pouco mais de vinte anos. Sim, porque começa a ser usada na Guerra do Paraguai, ou um pouquinho antes.

Gaúcho atual e Prenda Tradicionalista

E na revolução de 1893, já não aparece quase ninguém de chiripá e sim de bombachas, como se pode ver das inúmeras fotografias que ficaram daqueles episódios sangrentos de nossa história. Foi então que se cantou a seguinte quadrinha:



“A gaita matou a viola, o fosf’re matou o isqueiro, a bombacha, o chiripá e a moda – o uso campeiro...”

Tudo, vale dizer, certíssimo: a Guerra do Paraguai foi o autêntico “divortium aquarum” do folclore rio-grandense. Surge com ela ou imediatamente após, a bombacha, a gaita, o fósforo, o aramado, a valsa, o truco, o regionalismo. Morrem o chiripá, a viola, o gaudério, o ciclo dos fandangos, o classicismo literário etc... A bombacha entrou no Rio Grande vinda da Banda Oriental e foi primeiro usada pelos pobres. À essa época, os estancieiros preferiam o “culotte” francês, que era mais “chic” – Deus o livre! – dançar em baile de respeito vestindo bombachas: o gaúcho viajava a cavalo léguas e léguas, trajando bombachas e trazendo as calças “cola-fina” cuidadosamente dobradas debaixo dos pelegos, para frisas. Mas na revolução de 93 já os caudilhos, quase todos estancieiros, usavam largamente as bombachas. Inclusive o Dr. Ângelo Dourado, baiano médico das forças de Gumercindo Saraiva, usava bombachas normalmente. Deixou de usa-las uma vez, quando o peito do pé inflamou e o peso das bombachas fazia o ferimento doer. Então, conta ele próprio Aparício Saraiva fez com que ele trocasse as bombachas pelo chiripá – peça que o médico baiano não conhecia! – e o mesmo Aparício colocou a velha prenda no Dr. Dourado. Já em 1905 as bombachas são largamente usadas. Há uma fotografia desse ano, onde aparece o avô do autor destas notas, fazendeiro em Uruguaiana, Antônio Machado da Silva, usando bombachas brancas com enfeites laterais de favos de mel. Aqui se esclarece outra dúvida: os botões laterais de enfeite de bombachas são invenção “moderna”, olhada de soslaio pelos verdadeiros gaúchos. Claro, sempre houve os exibidos, os faceiros e os narcisistas. Há documentos de casos especiais, de gaúchos até com libras de ouro , bolivianos de prata ou espelhidos dos lados das bombachas, mas foram exceções criticadas pelos próprios companheiros, seus contemporâneos.Quando veste bombacha, nenhum gaúcho anda sem mangas de camisa, salvo entre seus iguais, na intimidade. Se não, pelo menos, usa colete. Melhorando, o casaco, em ambiente e com pessoas de mais distinção. E se é pobre, veste a blusa campeira, fofa na cintura e nos punhos, quase sempre do mesmo pano da bombacha. O casaco, muitas vezes era preto, usado em contraste com a bombacha branca. Esta era bem larga na fronteira e mais estreita, quase calça, na serra, mas sempre abotoada no tornozelo. Os panos para as bombachas variavam, como variam até hoje. Se o gaúcho era mais rico, mandava o alfaiate fazer um conjunto de casemira, com bombachas e casaco. As cores, nesse caso eram comumente o azul marinho e o marrom. Preto, só em caso de luto. Bombachas mais simples eram feitas de brim, muitas vezes listado, que a indicada chamava couro de lagarto. As vezes a costureira fazia a bombacha e a camisa do mesmo brim, mas neste caso era uma camisa com bolsos a altura do peito. E era camisa mesmo enfiada para dentro das bombachas. Ou então, a velha blusa campeira, chamada simplesmente “campeira”, que sempre andou junto com a bombacha. As esporas nazarenas rareiam. Usam-se mais chilenas, pequenas e de para os ricos, grandes e de ferro, para os despilchados. As botas são sempre as de sapataria, pretas e marrons e ainda muitas sussilhonas, sobretudo na revolução de 93. Na serra usam-se as chamadas “botas lajeanas”, com ou sem gaitinhas e quase sempre de cor marrom ou preta, com bolas laterais. Há também, botas de lona. A propósito, o lavrador do Rio Grande sempre usou calçado especial: ou o tamanco açoriano, ou o “tamango”, campeiro, sapato grosseiro feito pelo próprio portador, de couro cru, pedaço de carona e até pelego, costurado muitas vezes com tentos e arame de quincha.As bombachas são largas na fronteira e estreitas na serra e médias no planalto, quase sempre com favos de mel, também chamados ninhos ou favos de abelhas. À cintura, o fronteirista usa faixa preta, mas raramente vermelha ou azul-clara, de lã grossa, larga de quase palmo. O serrano e o planaltense não usam a faixa. E a guaiaca serrana. Aquela tem uma fivela ou duas, bolsa para o “cebola”, ao lódão esquerdo, bolsa maior às costas, para as “pelegas” meio-coldre, do lado de laçar, uma bolsinha menor para os “nicles”. E gente da fronteira tem medo de usar guaiaca peluda (lontra, gato-do-mato) porque diz que da azar. A Guaiaca serrana é muitas vezes peluda, o coldre é interiço e há um lugar especial do lado esquerdo do homem, para a faca, que o serrano usa pendurada aí. Ao contrário do fronteirista, que usa atravessada às costas, como os antigos índios minuanos. A camisa é de algodão, morim, tricolina, pelúcia e até de brim. Tudo de uma cor só – no máximo, de pano riscado, sobretudo umas camisas mui pobres, feitas de pano de saco de farinha ou açúcar. Por cima – perto de senhoras ou homens de mais respeito – o colete, a campeira ou o casaco.O lenço de pescoço é atado por um nó, de oito maneiras diferentes, pelo menos incluindo duas de origem política: o nó farroupilha (1835/1845) e o nó federalista (1893/1896). Também as cores dos lenços, além das políticas tradicionais (branco e vermelho) são acrescidas com mais uma tentativa política, que não pegou: o lenço verde, tentado pelos positivistas, seguidores do presidente Júlio de Castilhos, em 1893. E há lenços de fundo branco e com barra em xadrez vermelho e de fundo vermelho com barras em xadrez branco, a proclamarem a neutralidade política do usuário. E lenços azuis celestes mais raros. O lenço à cabeça desaparece, o mesmo acontecendo com o chapéu de aba curta e copa alta. Agora, o que se usa é o chapéu de copa baixa e abas largas, uma e outra variando na forma ao gosto individual do gaúcho.Existem copas pontudas, tipo escoteiro, ainda hoje comuns em São Borja. Copas afundadas dos lados, ou transversalmente em cima. As abas são usadas caídas em toda a roda do chapéu. Ou levantadas a frente, bem tapeadas, como “pra beijar santo em parede”. Levantadas atrás e a frente, ou só atrás ou abas muito largas, levantadas na frente. Para cima, dos dois lados, tipicamente do gaúcho serrano, que muitos por desavisados, pensam ser imitação do chapéu do “cow-boy”. Enfim, existe gosto para tudo. E surge a boina, vasca, como as alpargatas, ainda hoje de uso e comum na fronteira. Além do bichará, do pala de algodão ou de seda e do poncho, surgem mais duas peças importantes: o pala-poncho ou poncho-pala e a capa campeira. Um destaque especial para o caso de luto: de um a seis meses o luto é fechado, isto é, completo, pela mulher, pelo marido, filhos ou pais da pessoa morta. A mulher usa meias pretas, severo vestido preto e um pano a cabeça. O homem usa botas pretas, bombachas pretas, camisa peta, lenço preto, casaco preto, chapéu preto e não faz a barba durante o período de luto, geralmente. Quando se iniciou o Movimento Tradicionalista, com a fundação do “35’ Centro de Tradições Gaúchas, em Porto Alegre, a 24 de abril de 1948, os rapazes quando, algum tempo depois, filiou-se a primeira moça – sentiram a necessidade de criar um traje feminino que fizesse “pendant” com a brilhante indumentária masculina. E assim, consultando fotos antigas das próprias famílias e também inspirados no ‘traje de china” das tradicionalistas uruguaianas e até mesmo – forçoso é reconhecer – no vestido “caipira”, que eles combatiam, criaram o hoje famoso “vestido de prenda”, dentro dos pressupostos válidos da indumentária feminina mais simples do Rio Grande – a de chita – ao fim do século passado e começos deste. Apesar de ser uma criação tradicionalista, o vestido de prenda conservou a padronagem e a sobriedade do vestido padrão da mulher gaúcha. E é exatamente na indumentária relativa a este período - de 1870 até o presente – que os tradicionalistas cometem os maiores desatinos. Já as esporas dos conjuntos de danças muitas vezes aparecem fantasiadas, para não ferir ou cortar as botas. E as botas de garrão às vezes são usadas com bombachas, o que é um erro, e para durarem mais, são com solados feitos por sapateiros! Pouquíssimos tradicionalistas usam as botas russilhonas. Mas é nos colégios que os piores absurdos são cometidos: chapéus e botas de “Rov Rogers”, ou botas de borracha, aparecem a dois por três, com a cumplicidade ingênua das professoras, muitas vezes por dificuldades econômicas. E que dizer das bombachas? Ainda hoje, depois de quase trinta anos, ainda aparecem tradicionalistas usando bombachas enfeitadas com os botões sobre favos-de-mel, reproduzindo as inicias ou o nome inteiro do portador. E o pior agora estão usando em vez dos favos-de-mel, umas franjinhas absolutamente inusitadas. A correta bombacha é de brim ou mesmo casemira, lisa ou riscada, de cós largo, sem alças para a cinta “cola-fina” e só tem dois bolsos grandes, laterais. Saiu disso, tudo o mais é bobagem. Bombachas brancas e claras, para ocasiões festivas, sóbrias e escuras, para viagens ou trabalho. Mas pretas, só em caso de luto. E agora criou-se entre os tradicionalistas uma verdadeiras “legião do Zorro”, de botas, bombachas e camisas pretas, contrastando com as faixas coloridas, os lenços brancos e maragatos. Quer dizer: parecem estar de luto, mas quebram este com o branco ou vermelho. E ademais, usam esse traje para festas. Estes tradicionalistas não se dão conta de que assim estão desservindo a tradição do Rio Grande. Gente importante, que devia dar o bom exemplo, são os primeiros a errar. Inclusive líderes tradicionalistas. À cintura, todos os tipos de faixas que possam encontrar: uruguaias, argentinas (correntinas, pampas, santiaquenhas) paraguaias, chilenas... menos faixas brasileiras. E gente municípios onde o gaúcho não usa faixa, tradicionalmente, está “ensinando” o gaúcho autêntico a descaracterizar a sau indumentária. As guaiacas castelhanas, recamadas de moedas e com vistosa “rastra” andam aí na cintura dos líderes e “professores” de tradicionalismo. Esses tradicionalistas estão entregando aos castelhanos, de graça, o que seus avós defenderam durante quase duzentos anos: a nossa opção e o nosso direito de ser brasileiros. Eles, ao contrário, fazem questão de se passar por uruguaios e argentinos, abandonando aquilo que nos faz iguais a nós mesmos, e ainda assim, dentro de nossas fronteiras, com diferenças regionais. Esquecem a velha lição de que o regional é universal e que escrever sobre o seu pátio estará escrevendo para o mundo. As camisas, por qualquer descuido, estão aparecendo em vistosa padronagem xadrez e até mesmo em seda.Há centros de tradições gaúchas criando lenços próprios, verdes ou amarelos, muitas vezes fazendo par com a faixa da mesma cor. Já houve, inclusive, centros que faziam lenços tricolores, com os padrões sagrados do Rio Grande.Isso não é tradição. Isso é palhaçada, fantasia, carnaval, patacoada. Depois, quando qualquer “cola-fina” ridiculariza o tradicionalismo – e nesses casso, com absoluta razão – esses maus tradicionalistas são os primeiros a reclamar resposta em jornal, carta aberta e coisas do gênero.A blusa campeira praticamente é ignorada pelos tradicionalistas, que vão a bailes e festas em mangas de camisa e de xerenga à cintura. Casaco? Raramente. Felizmente o colete ainda não se perdeu nessa barafunda.Os barbicachos aparecem em plástico brilhante, ou então mesmo quando traçados em couro cru, com tantos penduricalhos (miniaturas de boleadeiras, laços, rebenques, estribos, serigote, corona, pipa d’água e égua com cria) que mais parece uma árvore de natal. Os tiradores de muitos tradicionalistas seguem o mesmo caminho: solo brilhante, nonato salino ou então tiradores com pinturas de cenas campeiras, miniaturas de tarecos, etc. E o verdadeiro tirador é uma rude peça para agüentar a fricção do laço e proteger o homem em certos trabalhos de mangueira e brete. Curto e com flecos muito compridos, na Serra, com dois ou três palmos, até. De pontas arredondadas, no Planalto. Com ou sem flecos e quase arrastando no chão, em Bagé. De bordas retas e com flecos de meio palmo, na Fronteira. Isso é tirador gaúcho. Sem enfeites, feito para o trabalho, as vezes um coraçãozinho do mesmo couro tapando o furo e bala que matou o pardo ou o capicho.

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.:: Vestimenta do peão**

Mais que uma necessidade imposta pela sociedade, ou mesmo, qualquer outra de ordem biológica, a vestimenta gaúcha obedece todo um ritual. A despeito da maneira caricata com que é observada pelo vulgo, cada peça de sua vestimenta tem uma finalidade específica, em outras palavras, nenhuma peça que compõe a indumentária gaúcha, é gratuita.
O que mudou, de fato, é que diante de novas necessidades existenciais, não há mais oralidade na transmissão do conhecimento e no que diz respeito a tradição, a indumentária é copiada e repetida valendo-se para isso da simples observação em se atinar para os reais significados de cada peça.

Gaúcho Atual*



.: Alpargata**
Uma variação de alpercata. Sandália que se prende ao pé por tiras de couro ou de pano. Pode ser chamada também de alparca, alparcata, apragata, paragata, pracata, pragata ou parcata.



.: Barbicacho**
Uma espécie de cordão trançado que passa por baixo do queixo e serve para segurar o chapéu.



.: Bombacha**
Uma das peças fundamentais da vestimenta gaúcha. Consiste em uma calça larga presa na cintura por um cinto, guaiaca ou tirador e no tornozelo por botões. Originária da Turquia, foi usada na Espanha e após para os países do Prata. Foram, porém, os comerciantes ingleses a introduzir a bombacha na América do Sul. A bombacha foi trazida como mais uma mercadoria do comércio mercenário dos ingleses. Começou a aparecer com maior intensidade na época da Guerra do Paraguai, embora seu uso venha de alguns anos antes da guerra. Foi fardamento militar das tropas brasileiras. O uso da bombacha exige, obrigatoriamente, camisa com mangas compridas. Deve ser acompanhada de botas, alpargatas, tamanco ou chinelos de couro, estilo gauchesco e não modernizado.



.: Bota**
Do francês botte. Calçado de couro que envolve o pé, a perna e, às vezes, a coxa. Peça fundamental na vestimenta gaúcha.



.: Chapéu**
Do francês chapeau. Peça de feltro ou palha com copa e abas e destinada a cobrir a cabeça. Originalmente criado para a proteção contra o sol embora, hoje, sirva mais como ornamento uma vez que é usado a noite, em lugares fechados ou até mesmo em solenidades.



.: Chinelo**
Calçado macio, geralmente sem salto, para uso doméstico. Na vestimenta gaúcha o chinelo é de couro.



.: Chiripá**
Do quíchua xiri pac “para o frio” através do espanhol platino chiripá. Vestimenta sem costura, outrora usada pelos gaúchos habitantes do campo, e que consistia em um metro e meio de fazenda que, passava por entra as pernas, era presa à cintura por uma cinta de couro ou pelo tirador. Atualmente é mais usada em festas ou solenidades, quase como um adereço de gala complementando o traje gaúcho.



.: Cinto**
Faixa ou tira de tecido, de couro, ou de outros materiais que cinge o meio do corpo com uma só volta. Modernamente o cinto vem ornado com fivelas largas e que trazem encrustadas, gravações com motivos campeiros e que demonstram a afinidade do seu usuário com a tradição gaúcha.



.: Espora**
Do gótico spaúra. Instrumento de metal pontiagudo preso ao calçado com uma tira de couro que serve para incitar o animal que se monta. Pode vir a acompanhada de uma roseta (roda metálica dentada) que tem a mesma finalidade. Normalmente usada em rodeio quando o peão utiliza uma das mãos para se firmar na crina ou no areio e a outra estendida buscando manter o equilíbrio em cima do animal, valendo-se das esporas então, para fustigá-lo.



.: Faixa**
Do latim fascia pelo catalão faxa. Tira de pano ou couro com que se aperta ou enfeita a cintura. Hoje, usada quase, unicamente, como enfeite e, em festividades.



.: Guaiaca**
Da quíchua huayaca saco, pelo espanhol platino guayaca. Cinto largo de couro ou de camurça, provido de bolsinhos, usado para se guardar dinheiro, objetos miúdos, e também para o porte de armas.



.: Lenço**
Pedaço quadrado de pano, linho ou seda, de dimensões variadas que serve para ornar ou proteger a cabeça ou pescoço. No princípio tinha uma função utilitária e servia para proteger o nariz e aboca da poeira na lidas campesinas. O lenço é preso ao pescoço através de um nó ou um anel. Um nó bem feito empresta distinção ao usuário. Já o anel, menos usado, pode ser de couro com alguma gravação feita a fogo ou de chifre com incrustações de pedras preciosas.



.: Pala**
Uma espécie de poncho leve, de fazenda, brim ou até de seda, com as pontas franjadas.



.: Polaina**
Do francês antigo polaine. Peça do vestuário que proteje a parte inferior da perna e superior do pé. O gaúcho primitivo ou o peão valia-se desta proteção (de couro) amarrada com tiras igualmente de couro, e mesmo descalçado (como revelam as gravuras antigas) a polaina oferecia proteção.



.: Poncho**
Do araucano pontho ou espanhol pocho “descorado” pelo espanhol platinizado poncho. Capa quadrangular, de lã grossa, com uma abertura no meio, pela qual se passa a cabeça. Usado pelo gaúcho desde os primórdios, como abrigo contra o frio, servia de cama e até mesmo como escudo nos entreveros quando as armas eram facas.



.: Tamanco**
Calçado rústico, cuja base é de madeira e não de sola.



.: Tirador**
Do espanhol tirador. Tira de couro que os laçadores usam à volta da cintura quando laçam a pé.


Obs: Pilcha do espanhol platinizado pilcha. Adereço, adorno. Diz-se alguém que está pilchado quando veste o traje completo, isto é, chapéu, guaiaca, bombacha , bota, etc.








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.:: Vestimenta da prenda**

Depois de algumas diferentes indumentárias que pilharam a penda gaúcha, finalmente ela ganhou um vestido definitivo a partir do 34.º Congresso do Tradicionalismo gaúcho, realizado em Caçapava do Sul, em 1989, para comparecer nos bailes e outros eventos que façam parte desta tradição.
De acordo com a revista Pampa, n.º, de março de 1991, a tese pertence ao professor Luiz Celso Hiarup, dando as linhas fundamentais para a confecção do paramento que, no melhor estilo machista, não quer saber de decotes ou fazendas transparentes.
Prenda Tradicionalista *

.: As 18 recomendações para o traje da prenda**



01) O vestido deve ser uma peça, com a barra da saia à altura do peito do pé.

02) A quantidade de passa-fitas, apliques, babados e rendas, é de livre criação.
03) O vestido deve ser de tecido estampado ou liso, sendo facultado o uso de tecido sintético com estamparia miúda ou petit-pois.
04) Vedado o decote e vestidos transparentes.
05) Saia de armar, quantidade livre e lógica.
06) Obrigatório o uso de bombachinhas rendadas ou não, cujo comprimento deverá atingir a altura do joelho.
07) Mangas até o cotovelo, ¾ ou até os pulsos.
08) Lenço com pontas cruzadas sobre o peito, ou fichu (de seda com franjas ou crochê), uma ou outra peça, presa com broche o camafeu, facultativo o uso de chale.
09) Meias longas, brancas ou coloridas, não transparentes.
10) Sapato de salto S ou meio salto que abotoa do lado de fora por uma tira que passa sobre o peito do pé, ou botinha (para estancieira).
11) Cabelo solto em trança (única ou dupla), enfeitado com flores ou fitas.
12) Facultado o uso de brincos de argola inteira, de metal, ou outros discretos, vedado os de fantasia ou plásticos.
13) Permitido o uso de pulseiras de metal. Não são aceitas pulseiras de plástico.
14) Vedado o uso de colares. Permitido correntinha com medalha ou pingente discreto.
15) Permitido o uso de um anel de metal em cada mão.
16) É permitido o uso discreto de maquiagem.
17) Vedado o uso de relógio de pulso grande e indiscreto.
18) Livre criação, quando as cores, padrões e silhuetas, dentro dos parâmetros acima numerados.




.:: O lenço do gaúcho

Desde o início da colonização do território do atual Rio Grande do Sul, o lenço vem acompanhando nossa evolução. As tribos indígenas, que habitavam nossas terras, especialmente os Charruas, Jaros e Minuanos, com cabelos compridos, usavam tira, fita ou “vincha”, prendendo suas cabeleiras.Após a chegada dos espanhóis e portugueses é que surgiu a moda de cortar o cabelo.Em razão dos longos cabelos, que usavam, os indígenas prendiam com tiras de imbira ou couro de pequenos animais. Já na época dos padres missioneiros espanhóis passaram a usar o pano, que circundava a testa a parte traseira do pescoço. Essa tira servia para prender os cabelos e afastá-los dos olhos, na investidas para as caçadas, disputas esportivas ou batalhas de guerra.As matas bravias e as grandes distâncias a percorrer foram tornando pouco eficaz tal forma de uso da tira. Passaram a prender seus cabelos, puxando parte para trás da cabeça, atando o maço rente a cabeça. À moda “colo-de-cavalo”. Nesse período registra-se o “Peão das Vacarias”. Ele usava tal fita prendendo os cabelos e que era chamada, pelos platinos de “vincha”.As lutas barbarescas do sul-rio-grandense primitivo mesclaram o ideal e a coragem retemperados pelo sangue bravio, suor e o Vento Pampeano. Ficaram impregnadas, na vincha do herói anônimo, que a história esqueceu, muitas lições de bravura.Embora que em nossas pesquisas não encontrássemos, qualquer autor referindo-se ao fato, temos a firme convicção de que o lenço de pescoço não surgiu como um adorno, mas sim da evolução da vincha, pelas circunstâncias da época. Quando no modismo de cortar os cabelos não haviam mais motivos para o peão usar a tira atada à cabeça. Foi, possivelmente, conservada, enlaçada no pescoço, com as pontas atiradas para trás, grande, retangular, com as pontas viradas para trás, nos moldes usados atualmente pelas mulheres.O lenço desceu da cabeça para o pescoço, ainda com as pontas para trás. Sua maior afirmação foi quando adotado politicamente, como designativo de cor partidária. Os companheiros ou inimigos eram reconhecidos, na distância, pela cor do lenço. As pontas atiradas para trás pouco destacavam a cor – símbolo de luta. Surgiu, finalmente, o lenço do gaúcho, nos moldes atuais, atado ao pescoço, solto ao peito. Passou a ser instrumento de identificação, ao longe, tremulando ao vento.Em certo tempo chegou-se a usar o lenço e a vincha, conjuntamente, hoje, em certas apresentações artísticas, ainda encontramos o duplo uso.Há muitas cores de lenços, sendo o branco e o vermelho os mais tradicionais. Há várias formas de atar o lenço gaúcho. As mais tradicionais são 8 formas. Duas têm origem política, o Nó Farroupilha, de uso nos anos de 1835 a 1845 e o Nó Federalista, de 1893 a 1896. O pano geralmente usado é a seda. Um lenço esvoaçando ao vento, sobre o peito de gaúcho, é uma marca registrada da altivez de nossa indumentária gaúcha.



.:: Lei Estadual da Pilcha Gaúcha

Dep. Algir LorenzonAssembléia Legislativa do Estado do rio Grande do Sul

LEI Nº 8.813, DE 10 DE JANEIRO DE 1989.

Oficializada como traje de honra e de uso preferencial no Rio Grande do Sul, para ambos os sexos, a indumentária denominada “PILCHA GAÚCHA”.DEPUTADO ALGIR LORENZON, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande.

Faço Saber, em cumprimento ao disposto no § 5º do artigo 37 da constituição do Estado, que a Assembléia Legislativa decretou e eu promulgo a seguinte lei:

Art. 1º - É oficializado como traje de honra e de uso preferencial no Rio Grande do Sul, para ambos os sexos, a indumentária denominada “PILCHA GAÚCHA”.

Parágrafo único – Será considerada “Pilcha Gaúcha” somente aquela que, com autenticidade, reproduza com elegância, a sobriedade da nossa indumentária histórica, conforme os ditames e as diretrizes traçadas pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho.

Art. 2º - A “Pilcha Gaúcha” poderá substituir traje convencional em todos os atos oficiais, públicos ou privados realizados no Rio Grande do Sul.Art.

3º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.Art.

4º - Revogam-se as disposições em contrário.

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO, em Porto Alegre, 10 de Janeiro de 1989.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

LENDAS GAÚCHAS

O que é lenda? Porque o povo conta lendas?Estas perguntas não são especiosas, ou gratuitas. Bem ao contrário:lendas são parte importante do folclore de um povo, estudá-las éfundamental para o aprofundamento da alma popular. Muitas vezes não conhecemos um grupo social em profundidade sem intimar o seu folclore.Estudar as lendas, portanto, é fundamental.As lendas são histórias do País contada pelo seu povo. A lenda élocal e se localiza no tempo obrigatoriamente.O povo conta lendas para fazer a sua autobiografia, para relatar assuas memória. Trata-se de uma profunda e urgente necessidade de explicar-se. As lendas são assim um depoimento que o povo faz sobre si mesmo e para si mesmo. É como se estivesse diante do espelho. Trata-se, a rigor, de uma confissão e a Igreja descobriu a importância do confessionário muito antes que a Psicanálise descobrisse o divã do analista.Depor sobre nós mesmos é catártico e o folclore tem a vantagemsobre a mera confissão de ser sempre coletivo. Dá explicações, diz dosporquês, exorciza fantasmas. Um banco forrado de pelego numa roda de mate será sempre mais eficaz que um terapia de grupo, em matéria de resolver os escaninhos da mente popular, embora o Folclore esteja mais próximo de Jung do que de Freud.
Aqui colocarei algumas lendas de nosso pago. Para ver mais click:
http://www.lendas-gauchas.radar-rs.com.br/

Casa de MBororé

A lenda da Casa de MBororé (Missões)No tempo dos Sete Povos das Missões, havia um índio velho muito fiel aos padres jesuítas, chamado MBororé. Com a chegada dos invasores portugueses e espanhóis, os padres precisaram fugir levando em carretas os tesouros e bens que pudessem carregar. Assim, amontoaram o muito que não podiam levar consigo – ouro, prata, alfaias, jóias, tudo!- e construíram ao redor uma casa branca, sem porta e sem janela. Para evitar a descoberta da casa pelo inimigo e o conseqüente saqueio, deixaram o velho índio fiel MBororé cuidando, com ordens severas de só entregar o tesouro quando os jesuítas voltassem às Missões.Mas os jesuítas nunca mais voltaram. Com o passar dos anos, o velho índio morreu e o tempo foi marcando tudo, deixando as ruínas de pé como as cicatrizes de um sonho que acabou. Acabou? Não. A Casa de MBororé continua lá num mato das Missões, imaculadamente branca, cuidada pela alma do índio fiel que ainda espera a volta dos jesuítas.Às vezes, algum mateiro –lenhador ou caçador- dá com ela, de repente, num campestre qualquer. Imediatamente dá-se conta de que é a Casa de MBororé, cheia de tesouros. Resolve então marcar bem o local para voltar com ferramentas e abrir a força a casa que não tem porta nem janela. Guarda bem o lugar na memória pelas árvores tais e tais, pela direção do sol e coisas assim. Sai, volta com ferramentas, só que nunca mais acha de novo a Casa Branca de MBororé, sem porta e sem janela.”

São Sepé

Sepé era um índio valente e bom, que lutou contra os estrangeiros para defender a terra das missões. Ele era predestinado por Deus e São Miguel: tinha nascido com um lunar na testa. Nas noites escuras ou em pleno combate, o lunar de Sepé brilhava, guiando seus soldados missioneiros. Quando ele morreu, vencido pelas armas e o número de portugueses e espanhóis, Deus Nosso Senhor retirou de sua testa o lunar, que colocou no céu do pampa para ser o guia de todos os gaúchos - é o Cruzeiro do Sul.

A Lenda do Quero Quero

Quando a Sagrada Família fugia para o Egito, com medo das espadas dos soldados do rei Herodes, muitas vezes precisou seesconder no campo, quando os perseguidores chegavam perto.
Numa dessas vezes, Nossa Senhora, escondendo o Divino Piá, pediu a todos os bichos que fizessem silêncio, que não cantassem,porque os soldados do rei podiam ouvir e dar fé.
Todos obedeceram prontamente, mas o Quero-quero, não: queria porque queria cantar. E dizia: Quero! Quero! Quero!
E tanto disse que foi amaldiçoado por Nossa Senhora: ficou querendo até hoje.

A Lenda do Umbu

O Umbú é uma árvore grande e folhuda que cresce no pampa.Muitas vezes é solitária, erguendo-se única no descampado e atrai os campeiros, os tropeiros, os carreteiros que fazem pouso sob sua proteção. O tronco do Umbu é muito grosso, as raízes fora da terra são grandes, mas ninguém usa a madeira da árvore - não serve para nada, mesmo. É farelenta, quebradiça, parece feita de uma casca em cima da outra.Por quê?Pois não vê que quando Deus Nosso Senhor criou o mundo, ao fazer as árvores perguntava a cada uma delas o que queria na terra.A laranjeira, o pessegueiro, a macieira, a pereira e assim por diante, quiseram frutos deliciosos. O pau-ferro, o angico, o ipê, o açoita-cavalo, a guajuvira, pediram madeira forte.- E tu, Umbú, queres também frutos doces e madeira forte?- Nada, Senhor. - respondeu o Umbú. - Eu quero apenas folhas largas para as sesteadas dos gaúchos e uma madeira tão fraca que se quebre ao menor esforço.- A sombra, Eu compreendo - disse o Senhor. - Mas porque a madeira fraca?- Porque eu não quero que algum dia façam dos meus braços a cruz para o martírio de um justo.E Deus Nosso Senhor, que teve o filho crucificado, atendeu o pedido do Umbú.

A Lenda de Soledade

Há muitos e muitos anos, um grupo de mineiros vagava numa caravana de carretas entre o Planalto e a Serra do Rio Grande doSul. Muitas famílias completas faziam parte do grupo e elas queriam fundar uma vila, uma cidade, mas o local de assentamento só poderia ser escolhido por Nossa Senhora, cuja imagem sagrada eles traziam numa carreta, com altar e tudo.
E assim vagavam de pago em pago, acampavam, armavam o altar, passavam aí alguns dias e, como não recebiam sinal de Nossa Senhora, recarregavam as carretas e iam embora.Até que um dia pararam num campo lindo, banhado pela luz de Deus, com uma estranha beleza solitária. Ao descarregarem as carretas, alguém teria dito: "Que soledade!"
Bueno, acamparam e tal e depois de alguns dias, recarregaram tudo prontos para partir de novo. Quando chegou a hora da partida, quebrou-se o eixo da carreta que levava a imagem de Nossa Senhora. Descarregaram tudo, consertaram o eixo e quiseram partir, mais uma vez. Surpresa: quebrou-se o eixo, de novo. Outra vez descarregaram, consertaram o eixo e se dispuseram a partir.
Quando se quebrou o eixo pela terceira vez, eles compreenderam que era um aviso: Nossa Senhora tinha escolhido, afinal, a sua querência.
Então, ali, naquele chão sagrado, eles ergueram ranchos, galpões, estâncias. E Nossa Senhora abençoou o esforço, a fé e a dedicaçãode todos, fazendo prosperar Soledade, a terra escolhida pela própria Mãe de Deus.
Música nativista
Música nativista é um gênero musical brasileiro característico do Rio Grande do Sul e que tem como temas principais o amor pelas coisas do estado, pelo campo, pelo cavalo, pelos rios e pela mulher.
A música nativista é construída em cima de um andamento mais lento e intimista, com letras bastante elaboradas, conotativas e metafóricas.

Música gaúcha
A música gaúcha de origem tradicionalista parece ter origem na escola literária do parnasianismo, por sua semelhança quando canta coisas da natureza e do ambiente como: a terra, o chão, os costumes, o cavalo - e pela musicalidade, sempre buscando a rima num arranjo muito acertado com as melodias, criando entre letra, música e dramatização, uma dinâmica que rebusca origens e paixões. Vale a pena estudar este aspecto e descobrir que por outras origens históricas podemos enriquecer nossas culturas.

Festivais
A partir de 1971 surgiu em Uruguaiana a Califórnia da Canção Nativa, festival considerado a mãe de todos os festivais nativistas, dando origem a festivais de música nativista no estado.
Após a Califórnia da Canção surgiram:
Escaramuça da Canção Gaudéria, em Triunfo;
Tertúlia Musical Nativista, em Santa Maria;
Festival da Barranca, em São Borja;
Coxilha Nativista, em 1981 Cruz Alta;
Musicanto Sul-americano de Nativismo, em Santa Rosa;
Canto sem Fronteira, em Bagé;
Tafona da Canção Nativa, em Osório;
Acorde da Canção Nativa, em Camaquã;
Estância da Canção Gaúcha, em São Gabriel;
Semeadura da Canção Nativa, em Tupanciretã;
Um Canto para Martín Fierro, em Santana do Livramento;
Carijo da Canção Gaúcha, em Palmeira Das Missões;
Encontro Internacional de Chamameceros, em São Luiz Gonzaga;
Cante uma Canção, em Vacaria;
Gauderiada da Canção Gaúcha, em Rosário do Sul;
Comparsa da Canção Gaúcha, em Pinheiro Machado;
Grito do Nativismo Gaúcho, em Jaguari;
Reponte da Canção, em São Lourenço do Sul;
Vigília do Canto Gaúcho de Cachoeira do Sul;
Salamanca da Canção Nativa de Quaraí;
Laçador do Canto Nativo, em Porto Alegre;
Canoa do Canto Nativo, em Canoas;
Bicuíra da Canção Nativa, em Rio Grande;
entre outros.

Ritmos Musicais
Entre os principais ritmos de música nativista estão: a milonga, o chamamé, a chamarra, a polca, o rasguido doble, a vaneira e a rancheira.
Nativismo e Tradicionalismo
Apesar de tratar dos mesmos temas que os tradicionalistas, os nativistas discordam destes em alguns pontos. Entre os pontos de maior divergência estão o passado do Rio Grande do Sul e a influência espanhola dos países vizinhos.
São divergências bastante sutis, mas podem ser percebidas em certas canções, como por exemplo "Sabe, Moço", cantada por Leopoldo Rassier, que fala da tristeza de um soldado que lutou nas guerras históricas do estado e recebeu cicatrizes em vez de medalhas. É um assunto que dificilmente seria abordado pelos tradicionalistas, que preferem ver glória e heroísmo nas mesmas guerras.
Quanto à influência espanhola, os tradicionalistas têm um certo desprezo por considerar que os espanhóis muitas vezes no passado foram inimigos nas guerras em que o estado se envolveu. Os nativistas, por outro lado, não se envergonham de admitir que muitas características culturais e folclóricas são originárias dos países vizinhos (Argentina e Uruguai), muitos chegam a gravar músicas em espanhol e até se fala em "três pátrias gaúchas" (Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul).
Outro ponto de divergência entre tradicionalistas e nativistas é a religião. Tradicionalistas na maioria das vezes são católicos fervorosos, enquanto alguns nativistas poucas vezes falam em Deus, e há letras que chegam a falar em Ateísmo (como por exemplo a canção Changueiro De Vida E Lida, cantada por Adair De Freitas, Jari Terres e Luiz Marenco).

Nativismo e Tchê Music
Existe um certo atrito entre os artistas nativistas e os representantes da Tchê Music. A principal razão disso é cultural: enquanto os nativistas buscam o retorno às raízes da música gaúcha, os "tchê's" buscam modernizá-la, adicionando elementos de ritmos brasileiros e até estrangeiros - o que faz com que os nativistas afirmem que a música deles já não é mais tipicamente gaúcha.
As acusações geralmente incluem também, por parte dos nativistas, o fato de os representantes da Tchê Music trabalharem para tornar seu som o mais dançante e comercial possível. Os "tchês", por sua vez, acusam os nativistas e tradicionalistas de tentarem prejudicar seu trabalho, impedindo-os de tocar em CTG's, bailes tradicionais e eventos diversos realizados pelo MTG ou por outras entidades tradicionalistas e/ou nativistas.

Principais Artistas

Músicos
Gildo de Freitas
Teixeirinha
Leopoldo Rassier
Luiz Marenco
Noel Guarany
Wilson Paim
Pirisca Grecco
Leonardo
Luciano Maia
Marcelo Oliveira
Cenair Maicá
Telmo de Lima Freitas
Marcello Caminha
César Oliveira & Rogério Melo
Grupo Alma Musiqueira
Rui Carlos Ávila
José Claudio Machado
Adair De Freitas
Leôncio Severo
Pedro Ortaça
Dante Ramon Ledesma
Cristiano Quevedo
Leonel Gomez
Joca Martins
Mano Lima
João Chagas Leite
Jairo Lambari Fernandes
Jari Terres
Mauro Moraes
Jorge Guedes
Lisandro Amaral
Angelo Franco
Érlon Péricles
Edilberto Bérgamo
Raineri Spohr
Fabiano Bacchieri
Nilton Ferreira
Beto Bollo
Volmir Coelho
Juliano Gomes
Enio Medeiros
José Mendes
João Pedro Ferreira
Enio Medeiros

Poetas/Letristas
Jayme Caetano Braun
Gujo Teixeira
Anomar Danúbio Vieira
Mauro Moraes
André Oliveira
Rogério Villagran
Zeca Alves
Poesia:
Aqui vai uma das melhores poesias de Jayme Caetano Braun, “poesia” linda palavra, poesia que retrata o jeito mais lindo de se viver, o jeito campeiro de ser.
Para ver mais click: http://http://www.paginadogaucho.com.br/poes/lista.htm

Remorsos de Castrador
Autoria: Jayme Caetano Braun

Um pealo - um tombo - grunhidosde impotente rebeldia,o sangue da cirurgiaNo laço e no maneador.Nada pra tapear a dordo potro que --- sem saber,perdeu a razão de serna faca do castrador.

Há um bárbara eficiêncianessa rude medicina,a faca é limpa na crinaque alvoroçada revoa,pouco interessa que doa,a dor faz parte da vida.Há de sarar em seguida,desde guri tem mão boa.

Aprendeu --- nem sabe como,a estancar uma sangria.Sem noções de anatomiaé um cirurgião instintivoque --- por vezes --- pensativo,afundou na realidadeda crua barbaridadedesse ritual primitivo.

Já faz tempo --- muito tempo,que um dia --- na falta doutro,castrou seu primeiro potro,um zaino negro tapado.Que pena vê-lo castrado,o entreperna coloreandoe os olhos recriminando,num protesto amargurado.

Depois do zaino --- um tordilho,depois --- baios e gateados,um por um sacrificadospela faca carneadeirae o rude altar da mangueiraa pedir mais sacrifíciosdos bravos fletes patrícios,titãs de campo e fronteira.

Por muitos e muitos anosandou nos galpões do pampa,castrando pingos de estampacom renomada experiência,cavalos reis de querência,parelheiros afamados,pela faca condenadosa morrer sem descendência.

Às vezes, durante a noite,um pesadelo o volteiae o remorso paleteia.Castrador!... que judiaria!E quando sem serventiapor aí deixar sementeno mundo onde há tanta gentepedindo essa cirurgia.

E ali está --- defronte ao rancho,pastando o mouro do arreio,pingo de campo e rodeioque castrou --- quando potrilho.O mouro --- mesmo que filhodo xirú velho campeiro,o último companheirodo seu viver andarilho.

Na primavera --- outro dia,um potranca lazona,linda como temporona,vestida em pelagem de ouro,veio se esfregar no mouro,mordiscando pelo e crina,mais amorosa que chinanum princípio de namoro!

E o mouro? --- pobre do mouro!Não pode ter namorada.Veio, direto à ramada,numa agonia sem fim,olhando pro dono, assim,num bárbaro desespero,como dizendo: parceiro,vê o que fizeste de mim!!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha

A revolução Farroupilha, também chamada de Guerra dos Farrapos, explodiu no Rio Grande do Sul e foi a mais longa revolta brasileira. Durou dez anos (1835 a 1845). Os problemas econômicos das classes dominantes estão entre as principais causas da Revolução.
O Rio Grande do Sul tinha uma economia baseada na criação de gado e vivia, sobretudo, da produção do charque (carne seca). O charque era vendido nas diversas províncias brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e na região nordeste), pois era muito utilizado na alimentação dos escravos.Os produtores gaúchos, donos de imensas estâncias (fazendas de gado), reclamavam duramente do governo do império contra a concorrência que sofria do Uruguai e da Argentina, países que também produziam e vendiam charque para as províncias brasileiras. Como as impostos de importação eram baixos, os produtos importados pelo Uruguai e da Argentina chegaram a custar menos que a carne do Rio Grande do Sul. A concorrência estava arruinando a economia gaúcha.
Os poderosos estancieiros gaúchos queriam que o governo do império protegesse a pecuária do Rio Grande e dificultasse a entrada do charque argentino e uruguaio no Brasil.Essa mesma elite de grandes estancieiros também brigava com o governo do império por uma maior liberdade administrativa para o Rio Grande do Sul.
Em 20 de setembro de 1835, o coronel Bento Gonçalves da Silva, à frente de um grande número de companheiros, atacou e tomou Porto Alegre, depondo o presidente da província. Com a queda deste, a Assembléia Provincial declarou vago o governo e empossou o vice-presidente Marciano Pereira Ribeiro, favorável aos farroupilhas. Este acolheu para comandante das armas do Rio Grande do Sul o coronel revolucionário Bento Manuel Ribeiro (que, apesar do mesmo sobrenome, não era seu parente).
O Padre Feijó tentou solucionar o problema nomeando um novo presidente, José de Araújo Ribeiro, que era realmente primo de Bento Manuel. Alguns revolucionários, entre os quais o próprio Bento Manuel aceitaram a nomeação; porém outros continuaram seguindo Bento Gonçalves, que dominava todo o interior da província e tomara a cidade de Pelotas; um outro líder rebelde, Antônio Neto, vencera as tropas do governo na Batalha de Seival. Mas, havendo os legalistas retomado Porto Alegre, os farrapos decidiram proclamar a República Rio-Grandense, com a capital na cidade de Piratini. A presidência da nova República foi entregue a Bento Gonçalves. Esperavam os revolucionários que seu exemplo fosse seguido pelas outras províncias, provocando assim a queda do regime imperial. Mas Bento Manuel Ribeiro, que fora promovido a general pelo governo do Império, conseguiu derrotar os farrapos na Batalha da Ilha do Fanfa. Bento Gonçalves foi capturado e remetido para a Bahia, onde o encarceraram no Forte do Mar. Conseguindo escapar, o chefe farroupilha retornou à luta no Rio Grande do Sul.
Os revoltosos não haviam desanimado com os reveses sofridos: continuavam a lutar corajosamente. No fim do ano de 1838, dominavam quase todo o Rio Grande do Sul, exceto Porto Alegre e o litoral gaúcho. Os habitantes dessa região eram geralmente plantadores de trigo ou marinheiros; por esse motivo, não tinham os mesmos interesses que os criadores de gado preferiam apoiar o governo regencial. Em 1939, os farroupilhas estenderam seus domínios, promovendo uma expedição contra Santa Catarina. A força expedicionária foi comandada pelo revolucionário David Canabarro, que recebeu o apoio do revolucionário Giuseppe Garibaldi. Este guerreiro, depois de lutar no Brasil e no Uruguai, iria tornar-se um dos maiores vultos de sua pátria, ao participar da guerra de unificação e independência da Itália. A cidade de Laguna, em Santa Catarina, foi logo conquistada, e nela Canabarro proclamou a República Juliana (por ter sido feita em julho). Foi em Laguna que Garibaldi conheceu sua futura esposa, Anita Garibaldi, que o acompanharia em todas as suas lutas. A República Juliana, entretanto, teve curta duração, pois os legalistas logo forçaram Canabarro a reentrar no Rio Grande do Sul. Em 1840, D.Pedro II foi proclamado maior de idade, assumindo então a Chefia do Estado. Um de seus primeiros atos foi conceder anistia, isto é, perdão a todos os revoltosos que depusessem as armas.
Os farrapos, entretanto, não aceitaram o perdão do Imperador: julgando-se vitoriosos, preferiram prosseguir na luta. Em novembro de 1842, o governo imperial decidiu nomear o general Luís Alves de Lima e Silva, barão de Caxias, para ocupar os cargos de presidente e comandante das armas na Província do Rio Grande do Sul. Esse militar era filho do antigo regente Francisco de Lima e Silva e já se distinguira no combate aos revolucionários do Maranhão, de São Paulo e de Minas Gerais, como veremos mais adiante.
Caxias obteve algumas vitórias decisivas (batalhas de Poncho Verde, Canguçu, Piratini, Porongos e Arroio Grande). Os farroupilhas, enfraquecidos após tantos anos de dura luta, aceitaram então as propostas de paz honrosa oferecida pelo general vencedor. Essa paz era necessária tanto para o governo imperial como para os farrapos, pois havia perspectiva de guerra contra o ditador da Argentina, Juan Manuel de Rosas. Foi assinada em 1° de março de 1845, concedendo ampla anistia a todos os revolucionários. Os militares do Exército Republicano foram aceitos pelo Exército Imperial, conservando os postos que haviam alcançado durante a guerra. Quanto aos escravos que participaram da rebelião foram alforriados, isto é, libertados. Graças a essas sábias medidas, a paz voltou ao Rio Grande do Sul!
Símbolos

Os símbolos do gauchismo e do tradicionalismo gaúcho, por sua cultura, são:

.: Chama Crioula

Como o Fogo Simbólico, que simboliza o espírito do culto à Pátria, a chama Crioula encarna a magnitude da Tradição gaúcha. A Chama Crioula de 1947, transformou-se num símbolo gaúcho, para arder nos Centros de Tradições Gaúchas, nas Semanas Farroupilhas e em outros eventos tradicionais. É a representação do amor ao pago. O ideal do, também símbolo tradicionalista, folclorista Paixão Corte, com aquele primeiro facho traduziu a fertilidade da cultura que se perpetua na ronda legada aos tradicionalistas: a chama da alma gaúcha!

.: Erva Mate

Entre os símbolos tradicionais do gaúcho, a Ilex Paraguayensis, sem dúvida, é destaque, pois ela é a provedora da seiva que marca o mais ardoroso hábito gauchesco: o de chimarrear.

.: Estrela Boieira

Estrela d’Alva, ou Planeta Vênus. A Estrela Boieira surge no poente logo ao anoitecer, e no nascente, pela madrugada, antes do sol raiar. Guia inconstante dos boiadeiros, a estrela d’Alva é o Guia inconstante dos boiadeiros, a estrela d’Alva é o símbolo do gaúcho, que nas tropeadas aprendeu a admirá-la.

.: Quero Quero

O tradicional sentinela das coxilhas, pertence à família “Vanellus Chilensis”. Incontestavelmente é, este pernalta ereto, o vigia avançado de cada pago. O quero-quero nunca pousa em árvores, ou palanques, mas somente no solo. Vivendo comumente em casais, jamais abandona seus ninhos e filhotes, defendendo-os bravamente, num exemplo que deveria ser seguido por muitos homens e mulheres. Quando sente-se ameaçado investe-se contra o invasor de seu domínio, com gritos de alvoroço, com vôos rasantes. Com pertinácia, para despistar quem procura localizar seu ninho ou filhote, ele vai gritar, simulando preocupação, longe do local em que os mesmos se encontram.

.: Rosa

A rainha das flores é considerada um símbolo da cultura gaúcha. Aparece na bomba do mate, de cuja nomenclatura dada ao anel, ou refreador, também é conhecido por “botão de rosa”, quando assim estilizado. Pertence à família das Rosáceas, as prendas usam-na no cabelo.

.: Umbu

Da família das fitolacáceas, é uma árvore de grande tamanho, cujas raízes saem à flor da terra, que pela copada, produz excelente sombra. É, como o pinheiro e a figueira, uma árvore simbólica do rio Grande Sul. Seu crescimento é rápido. Seus frutos, em bagas, são nutritivos.

.: Outros

Existem coisas, sentimentos, palavras, e seres que simbolizam o gauchismo, mesmo que não oficializados, vamos assim dizer, mas pelo tanto que representam ao tradicionalismo. Os de maior significado, ao nosso entender, são: Boleadeiras, Bombacha, Carreta, Chimarrão, Chiripá, Chula, Churrasco, Estância, Fandango, Farrapo, Figueira, Fogo-de-chão, Gado, Galpão, Gaudério, Guasca, Hospitalidade, Laço, Martín Fierro, Minuano, Missioneiro, Negrinho do Pastoreio, Pago, Pala, Pampa, Pingo, Pinheiro, Querência, Retovar, Sepé-Tiaraju, Sinuelo, Taita, Tapera, Tava, Vaqueano entre outros.