quinta-feira, 27 de agosto de 2009

LENDAS GAÚCHAS

O que é lenda? Porque o povo conta lendas?Estas perguntas não são especiosas, ou gratuitas. Bem ao contrário:lendas são parte importante do folclore de um povo, estudá-las éfundamental para o aprofundamento da alma popular. Muitas vezes não conhecemos um grupo social em profundidade sem intimar o seu folclore.Estudar as lendas, portanto, é fundamental.As lendas são histórias do País contada pelo seu povo. A lenda élocal e se localiza no tempo obrigatoriamente.O povo conta lendas para fazer a sua autobiografia, para relatar assuas memória. Trata-se de uma profunda e urgente necessidade de explicar-se. As lendas são assim um depoimento que o povo faz sobre si mesmo e para si mesmo. É como se estivesse diante do espelho. Trata-se, a rigor, de uma confissão e a Igreja descobriu a importância do confessionário muito antes que a Psicanálise descobrisse o divã do analista.Depor sobre nós mesmos é catártico e o folclore tem a vantagemsobre a mera confissão de ser sempre coletivo. Dá explicações, diz dosporquês, exorciza fantasmas. Um banco forrado de pelego numa roda de mate será sempre mais eficaz que um terapia de grupo, em matéria de resolver os escaninhos da mente popular, embora o Folclore esteja mais próximo de Jung do que de Freud.
Aqui colocarei algumas lendas de nosso pago. Para ver mais click:
http://www.lendas-gauchas.radar-rs.com.br/

Casa de MBororé

A lenda da Casa de MBororé (Missões)No tempo dos Sete Povos das Missões, havia um índio velho muito fiel aos padres jesuítas, chamado MBororé. Com a chegada dos invasores portugueses e espanhóis, os padres precisaram fugir levando em carretas os tesouros e bens que pudessem carregar. Assim, amontoaram o muito que não podiam levar consigo – ouro, prata, alfaias, jóias, tudo!- e construíram ao redor uma casa branca, sem porta e sem janela. Para evitar a descoberta da casa pelo inimigo e o conseqüente saqueio, deixaram o velho índio fiel MBororé cuidando, com ordens severas de só entregar o tesouro quando os jesuítas voltassem às Missões.Mas os jesuítas nunca mais voltaram. Com o passar dos anos, o velho índio morreu e o tempo foi marcando tudo, deixando as ruínas de pé como as cicatrizes de um sonho que acabou. Acabou? Não. A Casa de MBororé continua lá num mato das Missões, imaculadamente branca, cuidada pela alma do índio fiel que ainda espera a volta dos jesuítas.Às vezes, algum mateiro –lenhador ou caçador- dá com ela, de repente, num campestre qualquer. Imediatamente dá-se conta de que é a Casa de MBororé, cheia de tesouros. Resolve então marcar bem o local para voltar com ferramentas e abrir a força a casa que não tem porta nem janela. Guarda bem o lugar na memória pelas árvores tais e tais, pela direção do sol e coisas assim. Sai, volta com ferramentas, só que nunca mais acha de novo a Casa Branca de MBororé, sem porta e sem janela.”

São Sepé

Sepé era um índio valente e bom, que lutou contra os estrangeiros para defender a terra das missões. Ele era predestinado por Deus e São Miguel: tinha nascido com um lunar na testa. Nas noites escuras ou em pleno combate, o lunar de Sepé brilhava, guiando seus soldados missioneiros. Quando ele morreu, vencido pelas armas e o número de portugueses e espanhóis, Deus Nosso Senhor retirou de sua testa o lunar, que colocou no céu do pampa para ser o guia de todos os gaúchos - é o Cruzeiro do Sul.

A Lenda do Quero Quero

Quando a Sagrada Família fugia para o Egito, com medo das espadas dos soldados do rei Herodes, muitas vezes precisou seesconder no campo, quando os perseguidores chegavam perto.
Numa dessas vezes, Nossa Senhora, escondendo o Divino Piá, pediu a todos os bichos que fizessem silêncio, que não cantassem,porque os soldados do rei podiam ouvir e dar fé.
Todos obedeceram prontamente, mas o Quero-quero, não: queria porque queria cantar. E dizia: Quero! Quero! Quero!
E tanto disse que foi amaldiçoado por Nossa Senhora: ficou querendo até hoje.

A Lenda do Umbu

O Umbú é uma árvore grande e folhuda que cresce no pampa.Muitas vezes é solitária, erguendo-se única no descampado e atrai os campeiros, os tropeiros, os carreteiros que fazem pouso sob sua proteção. O tronco do Umbu é muito grosso, as raízes fora da terra são grandes, mas ninguém usa a madeira da árvore - não serve para nada, mesmo. É farelenta, quebradiça, parece feita de uma casca em cima da outra.Por quê?Pois não vê que quando Deus Nosso Senhor criou o mundo, ao fazer as árvores perguntava a cada uma delas o que queria na terra.A laranjeira, o pessegueiro, a macieira, a pereira e assim por diante, quiseram frutos deliciosos. O pau-ferro, o angico, o ipê, o açoita-cavalo, a guajuvira, pediram madeira forte.- E tu, Umbú, queres também frutos doces e madeira forte?- Nada, Senhor. - respondeu o Umbú. - Eu quero apenas folhas largas para as sesteadas dos gaúchos e uma madeira tão fraca que se quebre ao menor esforço.- A sombra, Eu compreendo - disse o Senhor. - Mas porque a madeira fraca?- Porque eu não quero que algum dia façam dos meus braços a cruz para o martírio de um justo.E Deus Nosso Senhor, que teve o filho crucificado, atendeu o pedido do Umbú.

A Lenda de Soledade

Há muitos e muitos anos, um grupo de mineiros vagava numa caravana de carretas entre o Planalto e a Serra do Rio Grande doSul. Muitas famílias completas faziam parte do grupo e elas queriam fundar uma vila, uma cidade, mas o local de assentamento só poderia ser escolhido por Nossa Senhora, cuja imagem sagrada eles traziam numa carreta, com altar e tudo.
E assim vagavam de pago em pago, acampavam, armavam o altar, passavam aí alguns dias e, como não recebiam sinal de Nossa Senhora, recarregavam as carretas e iam embora.Até que um dia pararam num campo lindo, banhado pela luz de Deus, com uma estranha beleza solitária. Ao descarregarem as carretas, alguém teria dito: "Que soledade!"
Bueno, acamparam e tal e depois de alguns dias, recarregaram tudo prontos para partir de novo. Quando chegou a hora da partida, quebrou-se o eixo da carreta que levava a imagem de Nossa Senhora. Descarregaram tudo, consertaram o eixo e quiseram partir, mais uma vez. Surpresa: quebrou-se o eixo, de novo. Outra vez descarregaram, consertaram o eixo e se dispuseram a partir.
Quando se quebrou o eixo pela terceira vez, eles compreenderam que era um aviso: Nossa Senhora tinha escolhido, afinal, a sua querência.
Então, ali, naquele chão sagrado, eles ergueram ranchos, galpões, estâncias. E Nossa Senhora abençoou o esforço, a fé e a dedicaçãode todos, fazendo prosperar Soledade, a terra escolhida pela própria Mãe de Deus.

2 comentários:

  1. encontrei seu blog por acaso
    ótima surpresa!
    pesquisava traje campeiro e lendas gauchas
    para finalizar um romance
    parabéns, me ajudou muitíssimo!

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  2. Obrigado, sempre que precisares estamos ai, e muita sorte nesse seu trabalho!!

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