quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Poesia:
Aqui vai uma das melhores poesias de Jayme Caetano Braun, “poesia” linda palavra, poesia que retrata o jeito mais lindo de se viver, o jeito campeiro de ser.
Para ver mais click: http://http://www.paginadogaucho.com.br/poes/lista.htm

Remorsos de Castrador
Autoria: Jayme Caetano Braun

Um pealo - um tombo - grunhidosde impotente rebeldia,o sangue da cirurgiaNo laço e no maneador.Nada pra tapear a dordo potro que --- sem saber,perdeu a razão de serna faca do castrador.

Há um bárbara eficiêncianessa rude medicina,a faca é limpa na crinaque alvoroçada revoa,pouco interessa que doa,a dor faz parte da vida.Há de sarar em seguida,desde guri tem mão boa.

Aprendeu --- nem sabe como,a estancar uma sangria.Sem noções de anatomiaé um cirurgião instintivoque --- por vezes --- pensativo,afundou na realidadeda crua barbaridadedesse ritual primitivo.

Já faz tempo --- muito tempo,que um dia --- na falta doutro,castrou seu primeiro potro,um zaino negro tapado.Que pena vê-lo castrado,o entreperna coloreandoe os olhos recriminando,num protesto amargurado.

Depois do zaino --- um tordilho,depois --- baios e gateados,um por um sacrificadospela faca carneadeirae o rude altar da mangueiraa pedir mais sacrifíciosdos bravos fletes patrícios,titãs de campo e fronteira.

Por muitos e muitos anosandou nos galpões do pampa,castrando pingos de estampacom renomada experiência,cavalos reis de querência,parelheiros afamados,pela faca condenadosa morrer sem descendência.

Às vezes, durante a noite,um pesadelo o volteiae o remorso paleteia.Castrador!... que judiaria!E quando sem serventiapor aí deixar sementeno mundo onde há tanta gentepedindo essa cirurgia.

E ali está --- defronte ao rancho,pastando o mouro do arreio,pingo de campo e rodeioque castrou --- quando potrilho.O mouro --- mesmo que filhodo xirú velho campeiro,o último companheirodo seu viver andarilho.

Na primavera --- outro dia,um potranca lazona,linda como temporona,vestida em pelagem de ouro,veio se esfregar no mouro,mordiscando pelo e crina,mais amorosa que chinanum princípio de namoro!

E o mouro? --- pobre do mouro!Não pode ter namorada.Veio, direto à ramada,numa agonia sem fim,olhando pro dono, assim,num bárbaro desespero,como dizendo: parceiro,vê o que fizeste de mim!!

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