domingo, 8 de novembro de 2009

Etnias

Açorianos

O primeiro nome dado à região atualmente ocupada por Porto Alegre foi o de Porto de Viamão, ainda no século XVIII. Nessa época, ainda não havia um núcleo urbano, e os estancieiros da região usavam o Guaíba como meio de comunicação com Rio Grande e Rio Pardo. A região, conhecida como campos de Viamão, ainda era um distrito de Laguna (na atual Santa Catarina). O porto, por decorrência, era o Porto de Viamão.
Em 1740, entretanto, o porto passaria a ter outro nome. A área onde está o atual Porto Alegre foi concedida como sesmaria a Jerônimo de Ornelas Meneses de Vasconcelos, português nascido na ilha da Madeira. E o Porto passou a ser conhecido como Porto do Dorneles. Segundo o historiador Walter Spalding, o Porto propriamente dito ficava na foz de um riacho, onde atualmente fica a Ponte de Pedra do Largo dos Açorianos.
Esse nome, entretanto, teria vida curta. Em 1752 começaram a chegar, ao Rio Grande do Sul, os primeiros casais vindos das ilhas dos Açores. O governo português pretendia, ao incentivar a imigração desses casais, resolver dois problemas. O primeiro era o das ilhas dos Açores - que estavam superpovoadas. O segundo era o da ocupação do solo na extremidade sul do território brasileiro, uma zona considerada vital por se tratar do ponto de encontro entre os domínios portugueses e espanhóis na América do Sul.


Inicialmente foram acomodados na região do Porto do Dorneles sessenta casais. E esse núcleo de população, que deu origem a Porto Alegre, passou a servir como uma espécie de ponto de apoio para os novos casais imigrantes que chegavam, e que seguiam para outras partes do Rio Grande. E, é claro, em função dos casais, o Porto que era do Dorneles virou dos Casais.
O pequeno povoado ia se desenvolvendo bem. Mas, em 1763, uma guerra traria sua grande chance de crescimento. Os espanhóis invadiram a vila de Rio Grande, então capital do Rio Grande. E a sede da capital foi transferida para Viamão, pertinho do Porto dos Casais.
ez anos depois, com o desenvolvimento do Porto e a sua óbvia posição estratégica nas margens do Guaíba, o então governador da Província, José Marcelino de Figueiredo, decidiu transferir a capital de Viamão para o Porto dos Casais. E, simultaneamente, mudou o nome de Porto dos Casais para Porto Alegre.


Alemã

Alemães no sul do Brasil

Do baixo latim ‘alamanus’, com o mesmo significado, tomada do germânico ‘allemannen’, usado para referir-se a ‘todos os homens’. Chegou a nossa língua portuguesa a partir do francês ‘allemand’. Este gentílico é compartilhado com o espanhol ‘alemán’, porém cabe observar que difere do inglês ‘german’ e do alemão ‘Deutsche’.
Quando ao gentílico ‘germano’, que também se aplica aos alemães, provém do latim ‘Germanus’, vocábulo com que se denominava os povos bárbaros que habitavam a Europa Central, num território aproximadamente igual ao da atual Alemanha.
Nos séculos XIX e XX, o Brasil recebeu um importante fluxo de imigrantes alemães. A imigração começou na primeira metade do século XIX, quando ainda não havia uma Alemanha formada, e sim diversos reinos que formavam os Estados Alemães. O Sul do Brasil absorveu a maior parte desses imigrantes, que se dedicaram à agricultura familiar. Ainda hoje, nas regiões brasileiras em que imigraram, a influência alemã é visível.
A colonização alemã no sul do Brasil registrou no dia 25 de julho de 2004 os 180 anos do seu começo. As famílias que vieram das várias partes da Alemanha de então chegaram a atual São Leopoldo/RS em meio a uma intensa guerra ideológica e territorial. Uma guerra na qual as repúblicas platinas da Argentina e do Uruguai desafiavam simultaneamente a monarquia espanhola e o império luso-brasileiro.
Os primeiros colonos alemães que foram assentados no Rio Grande do Sul vieram acima de tudo para cumprir uma função estratégica: reforçar as posições imperiais na região, assegurando assim a posse do antigo Continente de São Pedro nas mãos dos Braganças.


Os alemães são um grupo étnico relativos à língua alemã e à cultura alemã. O conceito de quem é um alemão sofreu variações. Até ao século XIX, eram considerados alemães todos os falantes dos dialetos alemães, ou seja, os habitantes da Alemanha, Áustria e Suíça. Todavia, com a Unificação Alemã em 1871, o conceito de ser alemão passou a ser reduzido para os habitantes do território do novo país ou àqueles que lá tem origens, pricipalmente por ser a Alemanha o país que possui a maior população de alemães étnicos, deste modo o termo para substituir a antiga denominação de alemães étnicos passou a ser germânicos ou teutos (teutões), ou seja, pessoas que falam alemão e que expressam-se na cultura germânica (alemães, austríacos, suíço-alemães, luxemburgueses, sudeto-alemães, alsacianos, etc).


Não existem números precisos sobre o número de falantes da língua alemã no Brasil, porém, está estimado entre 600 mil a 2 milhões de falantes[Carece de fontes?], concentrados principalmente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A imigração alemã para o Brasil meridional nos últimos 180 anos fez nascer um dialeto própio, chamado de Riograndenser Hunsrückisch, que tem sua raiz no dialeto Hunsrückisch, falado no sudoeste da Alemanha. O dialeto sofreu interferência da língua nacional do Brasil, o português e de línguas de outras comunidades imigrantes que viviam no Sul do Brasil, como da língua italiana. Outros dialetos alemães falados no Brasil são o pomerano (em municípios como Pomerode e Roque Gonzales), o plattdüütsch etc.
Dos 12 milhões de brasileiros que possuem ascendentes alemães, são poucos aqueles que ainda mantêm laços afetivos com a Alemanha. Todavia, há um significativo número de teuto-brasileiros que se consideram primariamente alemães, principalmente as gerações mais antigas em zonas rurais e isoladas do Sul do Brasil. Embora assimilada, é inegável a contribuição da cultura germânica à cultura do Brasil, como por exemplo o Oktoberfest realizado em cidades como Blumenau ou em diversas manifestações culturais que ocorrem, sobretudo, no Sul do país.
O Rio Grande do Sul quando província do Império de D.Pedro I, viu-se centro de um cabo-de-guerra que de um lado era puxado pelas mãos conservadoras da monarquia absolutista, e do outro nas dos republicanos do Prata. Reproduzia-se nesta parte do mundo o mesmo conflito que se dava na Europa entre os interesses da reacionária Santa Aliança e as forças do liberalismo republicano emergente. Foi, pois, em meio a este cenário belicoso que os primeiros 39 imigrantes alemães desembarcaram no cais da antiga Feitoria do Linho Cânhamo, na atual São Leopoldo, no inverno de 1824, situada a pouco mais de 20 km de Porto Alegre, a capital da província.
O uso da língua alemã no Brasil entrou em declínio na década de 1930, quando foi proibida pelo presidente Getúlio Vargas. O Brasil havia declarado guerra contra a Alemanha e os imigrantes alemães não podia mais falar seu idioma natal. Alguns imigrantes continuaram falando seus dialetos dentro de casa e em lugares privados, mas a maioria acabou por adotar definitivamente o português como língua.


Espanhola

Espanhóis e a colonização

A influência espanhola se fez sentir no Rio Grande do Sul, desde a sua formação. Pode-se mesmo falar que, sem a participação espanhola, a pecuária - que seria a base da economia gaúcha durante o século XIX e início do XX - não existiria com a importância que tem. Mas não é só isso: no linguajar da fronteira, nas influências culturais, países de língua hispânica desempenharam um importante papel no nosso século.
Não poderia ser de outra forma. Afinal, o Rio Grande representou a principal zona de contato - e conflito - com os vizinhos espanhóis. Atualmente, metade de nossos limites territoriais se encontra com nações de origem hispânica: ao sul está o Uruguai, ao oeste a Argentina. No século XVII todo o atual estado estava em mãos espanholas. No século seguinte os portugueses conquistaram algumas áreas, e boa parte do território gaúcho voltou a ficar em mãos espanholas - suas tropas invadiram o sul do estado, ocupando a cidade de Rio Grande por 13 anos. Já no início do século XIX a situação foi inversa: foi o Brasil que ocupou a área do Uruguai, incorporando-o ao seu território como Província Cisplatina.
Mas a maior contribuição espanhola, em termos econômicos, pode ser considerada a introdução de bovinos no Rio Grande do Sul. Durante o século XVII, quando formaram suas reduções com os índios guaranis, os jesuítas se preocuparam em dispor de grandes rebanhos de gado para garantir a alimentação de seus tutelados. Graças a isso e a ameaças de vinganças divinas é que eles mantiveram os índios reunidos. Quando os jesuítas foram expulsos, o gado ficou e se proliferou, tornando-se uma atração para portugueses e espanhóis. Os paulistas das bandeiras e os lagunenses que primeiro penetraram em território gaúcho o faziam em busca de gado.
Também em termos culturais a influência espanhola se fez presente, em especial na zona da Campanha. Ali, vivendo situações parecidas e com atividades econômicas idênticas, os gaúchos dos dois lados desenvolveram vestimentas extremamente semelhantes. Também a alimentação é bastante parecida: a carne é a base alimentar de todo o pampa.
Na região de Santa Vitória do Palmar, a influência platina se fez sentir até bem entrado o século XX. Isolados do resto do país e do estado antes da pavimentação da BR-471, que liga o município à cidade de Rio Grande, os moradores compartilhavam muito mais das atividades do Uruguai do que das do Brasil. Era com times uruguaios que se jogava futebol, os jornais e revistas vinham daquele país, se escutavam as rádios de lá. E isto se justificava: afinal a cidade uruguaia mais próxima, Castilhos, está a apenas 70 quilômetros, enquanto que Rio Grande fica a 238 quilômetros.
A proximidade trouxe influências linguísticas, com vários termos se "acastelhanando". Essa situação também ocorreu em outros pontos da fronteira, onde a mescla de termos castelhanos e portugueses no linguajar cotidiano é freqüente. E, se houve influência na linguagem, também houve na arte: a poesia campeira, com seus poemas gauchescos, é comum aos três países do Cone Sul.
No Rio Grande do Sul não existe uma cidade que possa ser considerada espanhola. Nem mesmo um bairro. E, se houver, serão poucas as famílias que, em casa, somente falam espanhol. Ao contrário dos esforços feitos em outras etnias, não existe um trabalho de recuperação e preservação das velhas tradições, procurando mantê-las vivas no dia-a-dia das pessoas.
O que é uma autêntica tradição espanhola é o velho costume que vem se mantendo no tempo, de empinar pandorgas (papagaios) na sexta-feira santa. As pessoas saem cedo de casa, com um farnel na mão e a pandorga pendurada nas costas, e seguem para os cerros da região, longe dos fios que fazem a transmissão de energia, para dedicar-se ao esporte.
Trata-se de um costume muito antigo. A prova de que se trata de uma tradição espanhola foi obtida em Valencia, na Espanha, graças à pesquisa de historiadores da região, segundo a qual o costume foi levado a Livramento pelos espanhóis que chegaram à cidade através do porto de Montevidéu em algum momento do século passado.



Indígena

A modernidade nasceu com o choque entre a Europa e seu “outro” e controla-lo, vencê-lo, viola-lo, “para que”, quando pode se vestir com um ego descobridor, conquistador, colonizador e principalmente civilizador.

Diante das diferenças entre indígenas e europeus, a primeira atitude é de repudia ou fascínio, sendo questionado a propriedade ou não de alma pelos nativos. A igreja insistiu na posse de alma pelos nativos, recomendando que fossem cristianizados. Essa ação serviu de amparo moral ao escravismo e encobrimento do outro.

Missionário, no sentido religioso do termo, é o sujeito incumbido de pregar a Fé. É um trabalho desenvolvido para a conversão dos pagãos. Denomina-se “Missão” a ação de evangelizar os nativos.

Essa conquista espiritual é um processo por demais contraditório. Toda conquista é irracional e violenta, os Jesuítas pregam o amor a uma religião, o Cristianismo, que de uma maneira ambígua tem um fundador que é um crucificado, uma vitima inocente, onde se fundamenta a memória de uma comunidade de crentes, a Igreja, que no tempo do
Império Romano foi também vitimada, e por outro, se mostra uma pessoa humana moderna e violenta que pregava um inocente no nativo.


No caso das Missões não as viam como escravizar e sim civilizar. Civilizar significava impregnar o indo com a fé cristã e com os valores da cultura ibérica. Para que esta ação fosse continua, os índios foram reduzidos pelos missionários, ou seja confinados em um determinado espaço denominado redução, aldeia ou pueblo.

Esse trabalho trata de ir ao mito da modernidade e sua origem, onde, desenvolve um mito irracional de justificação da violência que se deve negar e superar.

Os indígenas, que antes eram conquistados pela força das armas, com as missões jesuíticas passam a ser dominados pelo imaginário, onde vêem negados seus próprios direitos, sua própria civilização, sua cultura, seus deuses, em nome de um só Deus, que não é o seu, estrangeiro, e de uma razão moderna que deu aos conquistadores a legitimidade necessária para conquistar.

Os Jesuítas cuidavam do espiritual e do temporal, aproveitando muito dos costumes dos dominados nessa ação. As reduções dos Guaranis floresceram no período barroco, que trazia uma nova visão do universo em movimento, graças às obras de Copérnico e Galileu.

Os autores pós-modernos criticavam a razão moderna porque é uma razão do terror, essa visão critica essa razão por encobrir um mito irracional. Superar a modernidade é o pretendido.

Característica própria da modernidade é criar um mito de sua bondade, civilizador, para justificar sua violência, se declarando inocente pela anulação do outro. Esse imaginário não se fixa na realidade concreta, são objetos-pretextos nos quais os conquistadores exercitam suas projeções, sem se considerar o contexto social do conquistado.

A visão moderna tem perspectiva etnocêntrica, que vê o fato através de só um referencial de comportamentos, reduzindo as atitudes diferentes de se comportar a anomalias, equívocos, atitudes desviantes. Essa perspectiva salienta o fato de que, não se considera o outro em si mesmo, e sim se vê nele.

A tarefa desempenhada por esse trabalho consiste em desenvolver uma teoria, ou filosofia do dialogo que faça parte de uma filosofia da libertação do oprimido, do excluído, do outro. A Filosofia da Libertação parte da posição do oprimido, do excluído (da cultura massacrada e explorada), do fato concreto da História. Trata de mostrar essa possibilidade de dialogo, a partir da afirmação da alteridade e ao mesmo tempo, da negatividade, a partir de sua impossibilidade empírica concreta, pelos menos como ponto de partida de que o dominado possa intervir efetivamente não numa argumentação ou numa conversação, mas num dialogo propriamente racional.

A violência vitimaria e sacrificial pretensamente inocente iniciou seu longo caminho destrutivo. Alianças e tratados nunca cumpridos, exigências de trair sua religião e sua cultura sob pena de morte ou expulsão, ocupação de terras, e todo o tipo de encobrimento do nativo.

Por serem diferentes, é preciso considera-los fora da humanidade? Considera-los como virtualidades de cristãos? Ou devemos questionar a visão que temos da humanidade? Reconhecer que a cultura é plural? Qual deveria ser a posição racional ou ética diante deste fato?

O que seria o encontro de dois mundos, dessas duas culturas? O choque desses mundos elabora um mito de um Novo Mundo, como uma cultura de harmonia entre os dois lados. O que aconteceu no caso, não foi um encontro, mas sim um choque, que devastou a cultura indígena. O conceito de encontro é encobridor porque ocorre ocultando a dominação do “eu” europeu, de seu “mundo”, sobre o mundo do “outro”, no caso, do Jesuíta catequizador sobre o nativo Guarani.

Nenhum encontro pode ser realizado por haver um desprezo total com a cultura e as crenças Guaraníticas. O que ocorre de fato é uma relação assimétrica, onde o mundo do outro é excluído de toda a racionalidade e validade religiosa possível.

É obvio que o resultado do choque entre a cultura transmitida pelos Jesuítas – cultura Ibérica – e a cultura nativa, no caso – a Guarani, tem como resultado uma religião sincrética. O sincretismo ocorre devido a os Jesuítas utilizarem-se de elementos da cultura dos Guaranis, como o idioma, o uso do chimarrão para evitar a embriaguez. Além disso, as tribos Guaranis não foram dispersas, e sim agrupadas em blocos de habitações com seus caciques e sua forma correspondia à casa do clã indígena.

O que se pode constatar com essa dominação , é que nasceu uma cultura nova, sincrética, híbrida, cujo o seu sujeito esta distante de ser o fruto de um processo de síntese cultural, mas sim de um efeito de sua dominação e aculturação.


Italiana

O Rio Grande do Sul na época da imigração italiana

Embora tenham encontrado um Rio Grande mais organizado economicamente, os italianos tiveram de enfrentar dificuldades semelhantes às vividas pelos alemães. Mas, embora ambas as colonizações tenham sido feitas em zonas de mato, as áreas de ocupação italiana eram mais altas e mais acidentadas. Enquanto a colonização alemã atingiu seu ponto máximo em Nova Petrópolis (597 metros de altitude), a italiana se faria em altitudes que variavam entre 600 e 900 metros.
Isto porque a colonização alemã seguira os vales dos rios de parte da Depressão Central, interrompendo-se nas encostas inferiores da Serra Geral. A região da Encosta superior estava desocupada, e a colonização italiana começaria ali - entre os vales dos rios Caí e das Antas, limitando-se ao norte com os campos de Cima da Serra, e ao sul com as colônias alemãs do vale dos rios das Antas e Caí.
As primeiras colônias na Encosta Superior foram as de Conde dÉu e Dona Isabel (atualmente Garibaldi e Bento Gonçalves, respectivamente), criadas pela presidência da província em 1870, antes que se iniciasse o processo de imigração italiana no estado. Para ocupá-las, o governo provincial firmou contrato com duas empresas privadas, que deveriam introduzir 40 mil colonos em um prazo de dez anos.
Como normalmente acontecia com esse tipo de contrato - que também foi adotado em alguns momentos pelo governo central - o sucesso foi pouco. Em 1872 chegaram 1.354 imigrantes, no ano seguinte 1.607, no de 1874 foram 580 e no de 1875 só 315. Os motivos para isto foram vários. Na Europa Central, e em especial na Alemanha, havia uma prevenção generalizada contra o Brasil - que era visto como um local onde os imigrantes sofriam privações.


Além disso, o governo provincial pagava menos para os transportadores do que o governo central, o que os desestimulava. Quanto aos próprios imigrantes, preferiam ficar no sopé da serra, nas áreas já colonizadas, do que se arriscarem mato adentro. Por isto em 1874 só 19 lotes de Conde d'Eu estavam sendo cultivados, com apenas 74 pessoas vivendo no local. Desestimulado por esse quadro de insucesso, o governo provincial desistiu de administrar a colonização da área, e repassou-a para o governo central.
É a partir de 1875 - sob a administração da União - que chegam as primeiras levas de italianos para Conde D'Eu e Dona Isabel. A área dessas colônias encontrava-se limitada pelo rio Caí, os campos de Vacaria e o município de Triunfo, sendo divididas entre si pelo caminho de tropeiros que seguia do local chamado de Maratá em direção ao rio das Antas (Conde d'Eu ficava à esquerda, Dona Isabel à direita).
No mesmo ano - 1875 - foi criada a colônia Caxias, no local chamado pelos tropeiros que subiam a serra em direção a Bom Jesus de "Campo dos Bugres". Esta colônia limitava-se com Nova Petrópolis, São Francisco de Paula, o rio das Antas e Conde d'Eu e Dona Isabel. Dois anos depois, em 1877, foi criada uma nova colônia para imigrantes italianos, a de Silveira Martins, em terras de mato próximas de Santa Maria.
Essas quatro colônias oficiais foram o núcleo básico da colonização italiana que, a partir dali, em uma primeira etapa, transbordaria para regiões próximas, que foram ocupadas por colônias particulares, e mais tarde atingiria o planalto. Foi assim que, em 1884, os colonos começaram a atravessar o rio das Antas e foi criada Alfredo Chaves; São Marcos e Antonio Prado (1885) foram, por sua vez, um prolongamento natural de Caxias.


Também o governo imperial (pouco depois federal) criou as colônias italianas de Mariana Pimentel (1888), Barão do Triunfo (1888), Vila Nova de Santo Antonio (1888), Jaguari (1889), Ernesto Alves (1890) e Marquês do Herval (1891). A partir da Proclamação da República houve a preocupação de que as colônias criadas fossem mistas, com membros de várias etnias. Mas a idéia teve sucesso apenas parcial, pois geralmente os colonos se remanejavam, reagrupando-se, por iniciativa própria, segundo seus grupos étnicos.
Da mesma forma que os alemães, os italianos tinham que desbravar a terra que adquiriam. Mas, agora, os lotes eram bem menores, tendo uma média que ficava entre 15 e 35 hectares. Ali plantavam produtos de subsistência, como o milho e o trigo. Mas o cultivo que marcou sua presença no Rio Grande do Sul foi a videira.
Antes de sua chegada, a produção vinícola do Rio Grande era considerada de qualidade inferior. Mas os primeiros colonos trouxeram novas variedades de uvas e isto ajudou a aperfeiçoar a qualidade do vinho gaúcho. A partir do início deste século começavam a ser formadas cooperativas vinícolas e a produção foi crescendo e melhorando, transformando o estado no principal produtor de vinhos finos do país.
Negra

Os negros entraram na história do Rio Grande do Sul desde seu início, mas o fizeram como personagens secundários, pouco lembrados, pouco citados - não obstante sua atuação tenha sido provavelmente, decisiva para a própria formação do estado. Porque para o português branco, o negro era um complemento indispensável de sua atividade: na terra, na casa, na luta, ele se assemelhava à argamassa que, escondida entre os tijolos, mantinha a estrutura, mas que não era nunca levado em conta.
Não é a toa que em um texto escrito em 1807 por Manoel Antonio de Magalhães, em que faz reflexões sobre a situação da capital do Rio Grande, os negros sejam equiparados, literalmente, a equipamentos. O autor defende que deva ser proibida a exportação de escravos do Brasil para as colônias espanholas, pois os escravos são de importância militar "como os artigos de guerra: pólvora, balas, armas, chumbo, ferro, cobre, aço, estanho, salitre e toda a sorte de massames náuticos".
Quando a bandeira de Raposo Tavares explorou os vales dos rios Taquari e Jacuí, no final de 1635, existiam escravos negros entre seus membros. Também em 1680, na fundação da Colônia de Sacramento, a expedição comandada por Manoel Lobo trazia escravos negros. Eram 200 militares, três padres e 60 negros, dos quais 41 escravos do comandante, seis mulheres índias e uma branca e índios. Os negros representavam, portanto, mais de 20% da expedição - sem se considerar os soldados negros e mulatos livres que eram usados pelos exércitos daquela época. Também as expedições posteriores que se dirigiram à Colônia de Sacramento levavam mais negros.


Outro ponto fundamental para a história da ocupação do Rio Grande foi a fundação de Laguna, em Santa Catarina. Afinal, de lá sairiam várias expedições destinadas primeiras a prear gados, segundo a ocupar o Continente de São Pedro. E na fundação de Laguna também o negro estava presente, bem como nas expedições que os lagunenses fizeram ao Rio Grande, em que constituíam a maioria dos membros.
Foi a partir do desenvolvimento das charqueadas - que começa em 1780, com ocupação da área de Pelotas - que o tráfico negreiro começa a tomar volume. Naquele ano, os escravos - calculados em 3.280 - representavam 29% da população total do Rio Grande do Sul, e se encontravam concentrados em duas áreas principais. A primeira era ao longo da estrada dos tropeiros, que ligava o extremo sul do Rio Grande ao resto do país, pelo roteiro Rio Grande-Mostardas-Porto Alegre-Gravataí-Santo Antônio da Patrulha-Vacaria, ao longo do qual se localizavam as maiores estâncias.
Nessa região estavam cerca de 65% dos escravos. A outra área de grande concentração estava no eixo Porto Alegre-Caí-Taquari-São Jerônimo-Santo Amaro-Rio Pardo-Cachoeira, ao longo do Jacuí, onde se concentravam 35% dos escravos, especialmente em São Jerônimo.


Esses números seriam grandemente aumentados com as charqueadas, saltando para 50% da população gaúcha em 1822, quando José Antonio Gonçalves Chaves, estancieiro e charqueador de Pelotas, calculou que dos 106.196 habitantes da província metade fosse de escravos.
Esses números talvez estivessem exagerados - afinal, Gonçalves Chaves era contra a escravidão, e usou de todos os argumentos para combatê-la em sua obra "Memórias Economo-políticas sobre a administração pública do Brasil". Um deles era justamente o de que "o excessivo número de escravos faz com que não o possamos tratar como temos obrigação". Mas, de qualquer forma, sabe-se atualmente que seu número era expressivo, e calcula-se que em 1858 alcançava quase 25% da população riograndense.
No entanto, a história desse povo sem história tem de ser procurada em dois tipos de fontes: ou nas notas que acompanham as narrativas, em que aparecem geralmente como "e uma grande quantidade de homens negros", ou em alguns episódios mais marcantes - que, por suas características singulares, são registrados. É esse o caso dos dois corpos de lanceiros que participaram das tropas farroupilhas durante a Revolução, que entraram para a história mais por terem sido vítimas de uma ainda não bem esclarecida traição (na Batalha de Porongos), que fez com que fossem eliminados para não comprometerem as negociações de paz entre farrapos e o Império.








Polonesa

A presença dos imigrantes italianos e alemães no Rio Grande do Sul, sobre tudo, na área rural está muito bem estudada. O mesmo não acontece com os demais grupos imigratórios que se estabeleceram no estado. Entre eles, os poloneses. Os estudos sobre este grupo étnico são extremamente reduzidos, isso apesar de constituírem o terceiro maior grupo imigratório europeu aqui instalado.
Os imigrantes poloneses começam a chegar ao Brasil e ao Rio Grande do Sul em grande número, a partir de 1891. Sendo o período de 1891 a 1894 conhecido como o da "febre imigratória brasileira", e é nesse período que eles são assentados nos núcleos coloniais criados pelo Estado. Grande número desses imigrantes é registrado como sendo imigrantes russos, austríacos ou prussianos, em decorrência do domínio exercido por essas nações sobre a Polônia, o que fez com que estes imigrantes fossem considerados "polacos sem bandeira".
Para melhor conhecermos nossa história é imprescindível conhecermos o processo de imigração e colonização européia no Rio Grande do Sul, e desta forma a presença dos imigrantes poloneses que muito contribuíram para configuração da realidade étnica, cultural e econômica do estado.


É significativa a contribuição à vida brasileira dos imigrantes poloneses aqui chegados desde o final do século XIX e, especialmente, no Rio Grande do Sul, a partir de 1875. Aqui, os imigrantes poloneses chegaram em maior número a partir de 1890, embora existam pelo menos dois registros anteriores. Um deles, em 1877, refere-se a 400 pessoas identificadas como russas, porque portavam passaportes daquele país que, à época, dominava parte do território da Polônia.
O outro, em 1875, considerado o marco na imigração polonesa no Rio Grande do Sul, na Colônia do Conde d´Eu, hoje Município de Garibaldi, com pessoas de passaportes prussianos, tendo à frente, como símbolo e primeiros proprietários, Todor Kraszewski, Jan Danielski e suas esposas. Calcula-se que tenham chegado pelo menos 100 mil poloneses no Brasil naquele período. Atualmente, o Brasil, ao lado da França, ocupa a terceira colocação em número de poloneses que vivem fora de seu país, com cerca de 1 milhão e meio de poloneses.
Esta imensa comunidade tem no dia 03 de maio a Data Nacional da República da Polônia, o Dia da Constituição, que foi promulgada em 1791 e é considerada a primeira constituição moderna da Europa. Contemporânea da Constituição Americana e também da própria revolução francesa, com sua Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão a Carta Polonesa foi precursora na garantia da pluralidade religiosa e no respeito aos contratos de trabalho estabelecido entre nobres e agricultores. O desejo de liberdade, de autonomia política e progresso, fez do povo polonês um exemplo de luta.


Ao longo da história, o espírito de 03 de maio tem, inclusive, permeado as relações bilaterais entre Brasil e Polônia. O Brasil foi o primeiro País da América Latina a reconhecer a legitimidade do governo da Polônia independente, estabelecendo relações diplomáticas em 26 de maio de 1920. Em 1961, essas relações diplomáticas foram elevadas ao nível das embaixadas. Hoje, existem, além da embaixada em Brasília, os consulados gerais de Curitiba, do Rio de Janeiro e de São Paulo, e três consulados honorários, em Belo Horizonte, em Erechim, no Rio Grande do Sul, e em Recife.
Na América Latina, o Brasil é o primeiro parceiro da Polônia tanto do ponto de vista político quanto econômico.
Não bastassem os motivos históricos e econômicos, o legado cultural do povo polonês às tradições e costumes dos gaúchos está hoje indissolúvel no nosso cotidiano. Assim, consideramos importante a lembrança da data nacional daquele país, instituindo o dia 03 de maio como o Dia da Comunidade Polonesa no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul no qual, os representantes desta etnia são devidamente reconhecidos pela sua importância no âmbito do nosso Estado.




Portuguesa

Os Portugueses no Sul do Continente

Limite extremo da colonização portuguesa no Sul do continente latino-americano, o Rio Grande do Sul, desde o início de sua ocupação, desempenhou duas funções vitais. A primeira foi a de ser um local estratégico, cuja manutenção era vital para garantir a presença portuguesa junto às áreas de colonização espanhola. A segunda foi a de servir como fornecedor de alimentos e outros bens para as demais regiões do país.
Situado fora do eixo de comércio do Brasil com Portugal, coube ao Rio Grande o papel vital de fornecer o gado que sustentou o ciclo do ouro em Minas Gerais e o do charque, que era o alimento básico dos escravos e da população de baixa renda das cidades brasileiras. A partir do início do século XX, coube também ao Rio Grande a função de "celeiro do país", responsável por uma fatia significativa da produção agrícola nacional.
A história do Rio Grande do Sul começou bem antes da efetiva ocupação de seu território pelos portugueses. Inicialmente, o Estado era uma "terra de ninguém", de difícil acesso e muito pouco povoada. Vagavam por suas pradarias os índios guaranis, charruas e tapes e, vez por outra, aventureiros que penetravam em seu território em busca de índios para apresar e escravizar.


Esse quadro foi modificado com a chegada dos padres jesuítas que, no início do século XVII, na região formada pelos atuais estados do Rio Grande do Sul e Paraná, e pela Argentina e Paraguai, fundaram as Missões jesuíticas. Nelas se reuniam, em torno de pequenos grupos de religiosos, grandes levas de índios guaranis convertidos.
Procurando garantir a alimentação desses índios, os jesuítas introduziram o gado em suas reduções. O clima e a vegetação propícios fizeram com que o gado se multiplicasse. Com isso, a região passou a oferecer dois atrativos para os que apresavam índios: além deles, havia também o gado. Até 1640 várias expedições vindas de São Paulo estiveram no Rio Grande, para capturar índios e gado, provocando o desmantelamento das Missões existentes no atual Estado. Nessa época os índios, comandados pelos jesuítas, derrotaram os chamados bandeirantes e as missões tiveram mais de cem anos de paz.
Ao final do século XVII, devido aos constantes conflitos de fronteira entre Portugal e Espanha, os jesuítas resolveram concentrar a população indígena convertida em uma área que consideravam mais segura, e escolheram a zona localizada na região noroeste do Rio Grande do Sul. Foram criados os "Sete Povos das Missões".


A prosperidade desses povos, que funcionavam independentemente das coroas portuguesa e espanhola, terminou por decretar o seu fim. Em 1750, um tratado firmado entre os dois países estabeleceu que a região das Missões passasse à posse de Portugal, em troca da Colônia de Sacramento, que havia sido fundada pelos portugueses em 1680 nas margens do Rio da Prata, defronte a Buenos Aires. Embora tenha havido resistência por parte de padres e índios, as Missões foram desmanteladas. Mas deixaram um legado que, por muito tempo, seria a base da economia do Rio Grande do Sul: os grandes rebanhos de bovinos e cavalos, criados soltos pelas pradarias.
Esses rebanhos atrairiam os colonizadores portugueses, que passaram a se instalar na região de forma sistemática a partir de 1726. A descoberta das minas de ouro em Minas Gerais iria, posteriormente, criar uma grande demanda pelo gado da região, e consolidou a ocupação do território. Nessa época, a célula básica da comunidade gaúcha eram as estâncias, sempre com grandes extensões, onde o gado era criado.

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