domingo, 8 de novembro de 2009

Brinquedos

Gado de Osso
Esta é a mais autêntica manifestação do folclore infantil gauchesco e acha-se circunscrita à área rural do Rio Grande do Sul.O menino gaúcho, criado nas estâncias, desde que adquire percepção do seu mundo exterior, procura imitar os adultos nas suas tarefas, principalmente às ligadas à pecuária.Põe se a trabalhar a imaginação, criatividade e fantasia. Assume a personalidade de um estancieiro, sempre "abastado".Com varetas de taquara, madeira ou galhos, pedras e outros materiais encontrados pelo terreiro, constrói em sua "estância" as "benfeitorias" correspondentes: invernadas, potreiros, piquete, mangueira, bretes, banheiros de gado, etc.Junta ossos de animais para a alimentação das casas, ou mortos a campo, - ovelhas, bois, cavalos - depois que o tempo os limpou e purificou através de sol e chuvas. Acrescenta sabugos de miho, sementes de alguns vegetais, guampas e todo o material achado nos montouros que possa servir-lhe à imaginação.Cada ossinho, semente ou objeto, representa um tipo de animal, por isso o guri recolhe a maior quantidade possível. Assim, torna-se proprietário de grande número de bois, touros, vacas, terneiros, cavalos, petiços, ovelhas, capões, carneiros, cordeiros, ... Os peães estão representados por ossos, sabugos de milho ou qualquer outro objeto. Têm carretas, carroças, charretes ou "aranhas". Toda a ergologia campeira será executada com os ossinhos e acessórios.O menino gaúcho, com outros "estancieiros", guris seus vizinhos, comercia, vende ou compra tropas. Pára rodeio, banha o gado, vacina, descorna. Executa grandes marcações e castrações. Doma seus cavalos, esquila (tosquia) suas ovelhas, carreteia e tropeia. Nada escapa à sua fantasia e, desta maneira, se prepara para assumir o seu lugar de adulto na futura vida campesina.A simbolização desses ossinhos é imensamente variada. Na mesma região difere de zona para zona. Desta maneira não podemos emprestar a cada ossinho um símbolo generalizado. Ele muda, sempre, de acordo com o grupo de meninos vizinhos e "proprietários de estâncias". Arame, barbante, tentos, etc. servem para fazer os aramados (cercas) e outras "benfeitorias".

Elementos Rurais

Aripuca, Arapuca ou Urupuca. Pequena armadilha para caçar passarinhos. A maneira de armá-la está bem clara na foto. A ave, ao se empoleirar no galho ou apenas beliscando a isca, solta a pequena trava e a armação cai, prendendo-a.

Mundéu (armadilha para apanhar caça. Do Tupi Mundé: alçapão) para passarinhos - Armado. O mesmo processo da Aripuca, só que o pássaro é preso e suspenso por uma laçada.

Mundéu para passarinhos - disparado.

Mundéu para periá ou preá. A periá, passando sempre pelos mesmos lugares por entre as cercas vivas das fazendas, ou nos matos, forma pequenos carreiros. A gurizada arma uma lançada como se vê na foto, atiça os cachorros e o pequeno animal, ao fugir atropeladamente, enfia a cabeça na armada, caindo logo. Existem inúmeras outras armadilhas para vários tipos de caça.

Cascudo atrelado.

Cascudos cangados.

Gaiolas para insetos feitos de caixas de fósforos:"A minha toca-violafugiu da caixa de fosf'roCaixa-de-fosf'ro-gaiolaficou tão vazia assim...Meu grilo, afina a viola,toca viola p'ra mim?

Ovo guacho de avestruz

Por "avestruz", "abestruz" ou "nhandú" trata o gaúcho a Ema (Rhea Americana) que vive em bandos de várias fêmeas, geralmente oito, guardadas por um só macho. A postura se verifica em agosto e todas as fêmeas botam no mesmo ninho, alcançando, às vezes, 40 ou mais ovos.A expressão "ovo guacho" vem do costume do avestruz fêmea, antes de fazer o ninho, botar isoladamente, em lugares diversos, alguns ovos. A ninhada quem choca é o macho, durante 42 dias que é o período de incubação. Ao findar este tempo, os ovos se decompõem e o nhandú macho - assim que descascam os filhotes - os quebra a patadas. Os vermes gerados e o grande número de moscas atraídas pelo mau cheiro servirão de primeiro alimento aos nhanduzinhos.

Acredita o gaúcho que o ovo guacho do avestruz atrai sorte e felicidade. Por isso, sempre que o encontra, leva-o para casa como talismã.

GUACHO:Animal criado sem o leite materno. Qualquer animal - mamífero ou não - criado sem os cuidados maternos. Este adjetivo se emprega também ao homem.

Etim. O vocábulo origina-se de huaccha ou huagcha, da língua quíchua, em que significa órfão pobre. Em araucano, guachu significa filho ilegítimo.


Caroços de pessêgo
Servem de munição para jogar o "Bambá" e outras finalidades.

BAMBÁ:Jogo próprio da campanha, executado com quatro metades de caroço de pessêgo (alguns usam rodelas de casca de laranja). Sabugos inteiros ou cortados servem de parelheiros. Traçam na terra riscos em forma de escada. COm os primeiros elementos jogados sobre os riscos, jogam os pontos. Conforme estes, avançam os parelheiros. O parelheiro que fizer mais pontos é o ganhador. Etim. Bambá vem da língua Bunda, mbama, significando jogo, divertimento, etc. Daí supormos que este jogo foi trazido da África ou criado pelos negros no RS.

Carrapichos
Estes frutos espinhosos, quando secos, têm grande facilidade em apegar-se a roupas e cabelos, daí as "guerras de carrapichos"(bot. Cenchrus Tribuloides).

"Lá detrás daquele cerrotem um pé de carrapicho:já te botei as cangalhas,só falta, agora, o rabicho". (folclore)

Caramujos
Depois de vazio, serve de cavalo, pois o som que emite ao bater ou raspar na terra sua "boca", lembra o andar dos eqüinos.

Queixada de Ovelha
Inteira, faz-se carretas. Das metades faz-se arados.

Sementes de cinamomo
Usadas, principalmente, para "munição".

Cascudos
Além de "animais de traição", servem para "carreiras".


Pandorgas
Pandorga é o nome genérico que as crianças gaúchas dão a estes elementos, embora cada feitio tenha uma denominação diferente.
Fui guapo quando meninopois lacei o céu com pandorga.Mas, hoje, a vida me outorgao direito que declinode ser "grande", pois se empinoqualquer sonho colorido,outros, como "vidro moído"na "cola" de um "papagaio",cortam meu barbante e eu caio,"vou a Bahia", perdido".

PANDORGA:Nome genérico que no Rio Grande do Sul se dá a este brinquedo que consiste numa armação de varetas de taquara cobertas de papel. A pandorga, presa a um cordão, se eleva ao alto por força do vento e é equilibrada por um rabo, simples ou duplo, feito de tiras de pano e preso na parte inferior.Existem vários feitios de pandorgas com denominaçõe spróprias que as identificam. Assim, o mais comum, de forma quadrangular, é, propriamente, a "pandorga"; "papagaio" é o losangular; a "estrela" tem o feitio do nome, e seguem o "caixão", a "bandeja", a "marimba", o "barril", o "navio", a "pipa" e muitos outros.A prática do divertimento é chamada de "soltar pandorga". Os guris se empenham na "briga de pandorgas": atam no rabo uma gilete ou colam frações de vidro moído. Em pleno ar, aproximam as pandorgas uma da outra; com descaídas e recolhidas, procuram friccionar o rabo "envenenado" da sua pandorga no cordão da outra, até que o cordão de uma das cordas se corta e a pandorga "Vai-a-bahia", expressão que significa perder-se a pandorga no horizonte distante.Também usam o costume de "mandar telegramas": enfiam pequenos círculos de papel no barbante e estes, impulsionados pelo vento, sobem até as "guias" da pandorga. E quase nunca dispensam o "roncador", franjas de papel coladas em barbantes, por fora do corpo da pandorga e que, realmente, roncam ao passar do vento.

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